Capítulo 5 - A nova responsabilidade de Sanny

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Sanny sentia seu corpo fraco, como se algo o tivesse transpassado e arrancado seu coração. Sempre, em toda a sua vida, lhe foi dito que nasceu lupino, e que retinha grande porcentagem dos traços de seu pai progenitor. Mas agora, depois de tudo o que tinha passado para chegar até ali com vida, novamente o destino brincava com sua existência.

— Não chore, por favor. — Ayron pediu, acariciando as madeixas do garoto. Foi uma surpresa para si, quem diria então para o pequeno, que certamente estava confuso e entristecido.

Sanny ergueu seu rosto para Ayron e sentiu vergonha pela situação. Sentia-se menor, mais inferior do que qualquer um. Tinha vontade de se agarrar aos braços daquele que oferecia ajuda, mas tinha medo de que o destino, ingrato e cruel como estava sendo, prejudicasse a ele como a todos que um dia conviveu. Com essa ideia em mente, não muito tempo depois, Sanny saiu em disparada para qualquer lugar onde pudesse ficar sozinho. Suas lembranças ficaram lhe atormentando, trazendo a tona todo o passado com seus pais, as horas a fio que permanecia na presença deles, aprendendo animadamente a como ser um bom vigia, além, é claro, de também estudar com afinco sobre os deveres para com os bebês da alcateia. Tudo naquela época parecia perfeito, mesmo com o preconceito por serem Ômegas. Até mesmo, agora, os xingamentos que recebeu durante esses últimos cinco anos lhe pareciam rosas se comparados ao momento no qual estava vivendo. E ainda tinha para si a responsabilidade de cuidar dos bebês e também de Stav e Otâni. Era um dominante, não? Então mais do que nunca deveria proteger sua família... mesmo que essa o rejeitasse por ser quem é.

Caminhou para fora da alcateia por um pequeno caminho de pedras revestidos por árvores frondosas aos lados. Chegou ao que lhe parecia ser uma clareira com um pequeno lago cristalino e não com mais de 10 metros de diâmetro. Sentiu-se seguro ali, porque o local se assemelhava a Lupus, mesmo que minimamente. Sentou-se sobre um tronco velho, deitado sobre a grama rala, e fechou os olhos em tentativa de cessar as lágrimas. Deveria ser forte! Ser corajoso e parar de se lamuriar por sua vida! Pensava todos os dias que o destino era cruel apenas consigo, mas viu que ele era bem mais do que isso. Tirou a família de Otâni, de Stav e dos bebês que ainda não tinham completado o primeiro inverno de vida. A crueldade, talvez, fosse maior consigo. Porém, deveria enfrentá-la para proteger aqueles que agora dependiam dele.

Encorajado, retornou ao bando e encontrou Kemal, o lindo lupino moreno que o havia ajudado com seus ferimentos.

— Eu... quero ajudar! — Sanny afirmou, criando a coragem que lhe faltava para enfrentar a vida naquele novo lar.

Kemal, que estava carregando uma cesta com algumas peles parou para dar atenção a Sanny assim que o garoto apareceu em sua frente. Com um sorriso, depositou o cesto sobre o chão e então separou algumas peças do tecido, estendendo-as para Sanny.

— Certo, que tal então me ajudar a levá-las até o casebre central? Há muitos bebês que agora, com essa brisa, irão precisar dessas peles para se aquecerem.

Sanny pegou as peles rapidamente e então seguiu Kemal pelo restante do caminho até chegarem ao destino final. Lá, pode avistar Ayron conversando com um dos homens antigos que viu de relance quando chegaram à Luna. Não soube distinguir quem ele era, mas se lembrava de tê-lo visto.

Quando Ayron viu Sanny na companhia de Kemal, sentiu-se mais aliviado. Cogitou seguir o garoto assim que se distanciou, porém, percebeu que ele deveria querer um momento sozinho para assimilar todas as informações novas, tanto as de sua condição física, quanto as dos acontecimentos conturbados das últimas horas. Sorriu para ele e então o viu desaparecer pelas peles estendidas na entrada do grande casebre. Voltou sua atenção ao ancião que o acompanhava na pequena investigação que havia começado, sobre o suposto ataque da antiga alcateia dos recém-chegados.

A Origem de Sanny [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora