Olhando ao redor de Luna ao pôr do sol, Sanny não encontrou Ayron ou um de seus amigos. Conforme a noite chegava, os aldeões cessavam o trabalho e voltavam para casa para se reunirem com suas famílias e terem uma boa noite de descanso, antes que o amanhã os deixassem mais ocupados com todas as tarefas que mantinham o vilarejo em pé.
Foi complicado para Sanny lidar com os últimos acontecimentos e finalmente acreditar que a verdadeira culpa não tinha sido dele. Ayron tentou deixar bem claro a forma como enxergava a situação, e como via Sanny nessa história toda.
Sanny, apesar de ter conseguido contornar os ataques, defender-se, ainda assim não achava que tudo o que havia feito tinha sido satisfatório. Ele salvou a própria vida e talvez as dos demais. Porém, pessoas morreram...
Balançou a cabeça, tentando dissipar tais pensamentos ruins que apenas lhe faziam mal.
O que poderia esperar de alguém como ele? Não por ser fraco ou coisa assim. Nem mesmo Ayron ou Zion foram capazes de escapar do ataque. Sanny evitou que talvez a situação fosse ainda mais grave e então todas as pessoas humildes e gentis de Luna fossem mortas ou escravizadas.
Ele saiu de seus devaneios.
— Melhor eu voltar logo.
Tinha um cesto em cada mão com os mantimentos para a semana. Tinha se tornado um melhor cozinheiro e esperava que sua culinária estivesse agradando Ayron.
Era diferente ver o Alfa cozinhar. Em Lupus havia uma regra: Lupinos cozinhavam, dominantes não tinham tempo para isso. Havia uma certa desvalorização dos lupinos, por que eles tinham que sempre cozinhar? E se cozinhassem muito mal? Os dominantes não podiam fazer sua própria comida? O que os diferenciava na cozinha?
Imaginava que tal regra fosse dada pela comparação da suavidade dos lupinos contra a robustez dos dominantes.
Mas hoje, depois de tudo o que aprendeu em Luna, sabia que essa regra era bobagem do povo de Lupus, um pouco de ignorância, talvez.
Neste vilarejo, Sanny entendia porque Kemal se encarregava de trabalhar cuidando dos bebês mais jovens, juntamente com os adolescentes. Uma vez o perguntou sobre isso exatamente assim:
— Kemal, por que você cuida dos bebês? Ayron o nomeou cuidador deles?
Kemal tinha aquele sorriso suave enquanto alimentava um dos bebês com a pele mais escura e de cabelos encaracolados, era a coisa mais fofa olhando-os com olhos enormes.
— Não, de forma alguma. — Kemal riu. — Ayron não me nomeou, claro que eu precisei conversar com ele sobre isso e fazer com que minha posição fosse oficial. Antes de mim houve um dominante mais velho e também um lupino que cuidava dos bebês.
— O quê? Dominante? — Sanny tinha ficado de queixo caído.
— Sim, por quê não? — Kemal tinha erguido uma sobrancelha. — Em Lupus isso não era possível?
Sanny balançou a cabeça, então o respondeu com desgosto:
— Apenas lupinos Ômegas eram permitidos fazer isso.
— Pois bem, eu trabalho com as crianças porque amo estar com elas. Sempre gostei e sinto que nasci para fazer isso. Você nunca notou os adolescentes que trabalham para mim? — Sanny negou. — Não são apenas os mais jovens lupinos, dominantes também. Depois de um tempo, naturalmente os dominantes se tornam guerreiros e os lupinos fazem outras coisas, mas nada é forçado ou regrado para que seja assim.
Lembrar disso fez Sanny parar novamente em seu caminho para casa.
— Meu Deus, estou demorando! — Ele riu de si mesmo e sacudiu a cabeça outra vez para parar de pensar.
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A Origem de Sanny [Romance Gay]
RomanceQuando uma tragédia ocorre em sua alcateia natal, Sanny se vê perdido com três crianças e um lupino ferido que lhe detesta. A fim de protegê-los, ele dá o melhor de si e acaba por enfrentar diretamente o Alfa da matilha vizinha, Ayron. Sem muitas e...