Incisivo

329 59 30
                                    


O homem tateava o criado-mudo ao lado da cama para desligar o despertador. Aquela deveria ter sido uma noite produtiva de sono, deveria ter liberado a melatonina tranquilamente, já que prezava por uma boa noite de sono. Desde que saiu da faculdade e teve problemas com insônia, no entanto uma noite de sono tranquila passou longe dali.

Passou a mão no rosto cansado. Dormira umas duas horas?

Talvez não.

Na sua cama espaçosa ele viu o culpado por tirar seu sono, um exemplar do livro: Como ser a Amante Perfeita.

Ele provavelmente estava envergonhado, oras um homem de trinta anos lendo um livro de romance adulto, esse qual durante a madrugada deu-lhe alguns problemas de ereção não desejadas.

É o que acontece quando imagina a autora como a protagonista do livro.

"Que vergonha, William ." Disse para si mesmo.

Terminou sua higiene matinal e fez seu ritual vestuário de toda manhã. O terno escolhido da vez foi um Armani cor cinza. Olhou-se no espelho e contemplou sua imagem. Um ser narcisista sem limites.

Narcisismo, que segundo ele, moderado.

— Maçã, aveia e mel. — sua empregada, Paulina, colocou o copo sobre a mesa. — Três gotinhas de mel.

William era considerado um homem taciturno, com o tempo tudo muda e amadurece. Se o Harper William estudante de Direito de Harvard o visse aos trinta não acreditaria. Ele trocava as baladas pelo sossego e fastfood por comidas receitadas por nutricionistas. Entretanto, algo não havia mudado. Seu gosto por certos tipos de mulheres ainda exalava, mas estava moderado, ele já não levava uma diferente para sua cama a cada semana. Ele mesmo admitia que sossegou.

Seu vício agora era o emprego, compulsão sem limites.

— Vou fazer faxina hoje no apartamento. — ela o entregou um prato de salada de frutas. Já estava acostumada com esse homem silencioso, por um lado ela não reclamava. Diferente do seu ex-patrão, qual tentou assediá-la. — Não sabia que gostava desse tipo de livro. — apontou para o exemplar do livro da E.H escrito pela Cherry.

— Já leu? — ele enfim falou e ela agradeceu mentalmente.

— Sim. Só não sabia que gostava desse tipo de livro.

— Digo o mesmo em relação a você. — respondeu sério.

— Você já chegou na parte onde o Gray disse que não a queria mais como amante e ela arruma o Luca? E daí o Gray tapado, fica enciumado e vai parar na casa dela bêbado tarde da noite? — William ergueu a sobrancelha, lembrava-se dessa cena. Ficou envergonhado por lembrar de tal parte. — Uma das melhores cenas do livro. A Julie. Que mulher! — disse se abanando como estivesse com calor. William só observou a mulher animada com a cena, ele não a culpava, pois também ficou bastante alegre com a mesma.

— Paulina, você viu a mulher de cabelos loiros naquele dia, certo?

— Sim. Eu a vi fugindo do senhor.

— Engraçada. Como ela estava?

Paulina tinha visto a mulher com um longo vestido, segurando seu sapato e parecia transtornada. — Ela parecia alterada, nervosa e com raiva. Parece que a noite não foi boa, senhor Harper.

— Desde quando te dei tanta liberdade? — questionou ranzinza — Enfim, você falou algo com ela?

— Perguntei se ela queria alguma coisa para comer, ela me olhou dos pés a cabeça me analisando e em seguida perguntou sobre a saída e eu só apontei. Muito estranha.

Blur (Concluída)Where stories live. Discover now