Dolência

313 58 9
                                    

Esse era o efeito da Elsa, quem a conhecia logo tinha sua vida virada ao avesso.



O tempo na vida dele era precioso, pois tempo, para os Harper's, nada mais que significa dinheiro. Era o lema, desde pequeno sabia. Aos trinta anos estava no topo. Tinha a capa da revista Time emoldurada na parede. Podia dizer que era o seu maior fã.

"A nova cara da advocacia Americana."

Entrevista essa, que lhe rendeu a primeira capa e duas folhas e meia de um alto ego explícito. Se houvesse um pódio em competições de vaidade, ele era o primeiro, segundo e o terceiro. Deixou bem claro nas entrelinhas.

Era vítima de um amor-próprio sem limites.

E cá estava ele na esquina do Mercy Hospital, comendo uma salada de frutas com uma cobertura de amêndoas, granola e bem gelada, em uma barraquinha do lado do hospital. O dono do estabelecimento falava sobre o jogo do Chicago Bulls, de ontem á noite, onde perderam por pouco e no tempo final conseguiram uma virada.

William não assistiu ao jogo, estava muito empolgado lendo as aventuras de Lucy por terras desconhecidas, em busca da sua segunda parte do medalhão. Não era o seu tipo de leitura preferido, nem de longe. De ficção ele só leu O Senhor dos Anéis, na escola e um livro do Edgar Allan Poe, no ensino médio, forçado. Preferia livros penais, autobiografias de homens bem-sucedidos e claro, revistas sobre automóveis. Sua paixão.

— O Carter-Williams vacilou demais no jogo. — o vendedor referia-se ao armador das jogadas principais do time. — Um dos piores jogos que vi na vida e ainda ganham milhões para fazer aquilo.

— Ao menos os Lakers estão piores. — o Harper sorriu ao lembrar que o time de Los Angeles estava em situação muito pior.

— Verdade. Saudade do tempo do Jordan. Ele era uma lenda e ainda é.

— Tempos que não voltam meu caro e, aliás, ótima salada. — William deu uma cédula de cinquenta para o pagamento.

— É apenas cinco, senhor.

— Fica com o troco, quem sabe eu não volto. — o homem sorriu satisfeito e o vendedor agradeceu. William avistou Nathan, agora no seu devido carro um Rolls-Royce modelo Wraith de cor azul marinho.

— Pensei que tinha vendido esse carro.

— Ainda não, não consigo deixá-lo. Meu lorde inglês. Boa tarde. — disse, guardando a chave do carro, seu orgulho. O loiro não escondia sua paixão por carros e principalmente os fabricados na terra de vossa majestade.

— Igualmente.

— Não consegui vir cedo. Tinha umas licitações para fazer e sabe como isso leva tempo. — Nathan também era o diretor do asilo de Chicago, um asilo federal qual acolhia os mais diversos criminosos com problemas mentais do estado. Estava no cargo há pouco tempo, esse emprego lhe consumia a cabeça definitivamente.

O Mercy Hospital tinha virado uma espécie de pentágono onde eles se encontravam para falar um assunto de suma importância: Elsa.

Há dois dias que William não a via, dois dias antes a Ellen não quis receber visita de ninguém e ontem, tinha aceitado uma breve conversa com o Nathan, que explicou que essas personalidades, quando apareciam, ficavam por um curto espaço de tempo ou, às vezes diante de situações adversas, alguns dias. Havia um bom tempo que isso não acontecia, devido ao tratamento intensivo com a Elsa, que conseguia aos poucos controlar os seus apagões.

Blur (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora