XIII. CONFIANÇA E DESCONHECIMENTO

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Quando Isabelle chegou na delegacia para fazer seu depoimento, os detetives já haviam lido e relido os relatórios vindo da médica legista, a perícia e analisado minuciosamente os depoimentos. Já estavam no terceiro dia pós descoberta da morte dos Stuarts e era questão de horas para que o Capitão exigisse uma resposta, no entanto, era consenso dos detetives que a resposta estaria no depoimento de Isabelle: apenas ela viu quem fizera aquilo com sua família.

Ela parecia assustada em estar ali. Sobretudo pelo rosto nada amigável de Richard Lawrence, visto que o mesmo estava completamente desconfiado em relação a posição de Isabelle no crime acontecido, apesar de ter presenciado o surto que aconteceu durante o enterro de seus parentes.

Peter não chegou a nenhuma conclusão, ao menos, se o fez, não impôs nenhum posicionamento. Tratou Isabelle com amabilidade, deixando-a confortável ao oferecer café. Apesar disso, estava naturalmente acuada quando começou a responder as perguntas.

— No dia do sequestro, qual era a lista de compromissos de vocês? — indagou Richard, sucinto.

Ela lambeu os lábios antes de responder:

— Íamos de carro para Kansas City no Marriott Hotel para uma reunião com um grupo latino… Não consigo lembrar o nome — acrescentou olhando para Bane com tom apologético. — A ideia era passar todo o dia lá, pois havia muito a ser resolvido. Eu iria mais cedo com Eliott, mas houve um imprevisto e ele teve que ir sozinho.

Lawrence anotou a última informação, acreditando ser importante, antes de Peter perguntar:

— Era normal essas viagens de carro entre vocês sem a presença de seguranças?

— Não, mas já chegamos a viajar só nós quatro assim para visitar minha avó no asilo em que ela está internada — explicou com cuidado.

— Isso foi quando?

— Dois meses atrás, acho — disse ela.

O detetive piscou sistematicamente.

— Não a vi no funeral. O relacionamento de vocês não era bom?

— Ela tem demência senil. Não consegue lembrar-se de nós — replicou. — Trazê-la para lá só traria confusão pra ela.

— Então, você lembra como foram abordados pelo sequestrador? Era mais de um? — inquiriu Richard.

A herdeira, então, remexeu-se na cadeira enquanto olhava para os lados, como se a resposta estivesse escrita nas paredes.

— Eu lembro de estar escutando The Animals no celular… — disse insegura — E, havia alguém apontando uma arma em nossa direção no meio da estrada... — Isabelle apertou os pulsos nas têmporas — Eu… Eu… gritei… Foi terrível. Mamãe gritou também. Todos nós gritamos para que o carro fosse parado — seus olhos encheram-se de lágrimas. — Ele atirou contra o carro. Eu lembro disso. Bem em minha direção.

Os detetives ficaram em silêncio enquanto viam Isabelle soluçar copiosamente. Ela sabia que estava segura, se encontrava em uma delegacia, afinal, mas tinha a mente em um nível de perturbação alto o suficiente para que as simples memórias despertasse uma enxurrada de lágrimas de angústia e medo.

— Isabelle, você se lembra de alguma coisa que aconteceu naquele dia? — inquiriu Richard, no que seu parceiro achou um péssimo momento.

Ela negou com a cabeça em veemência, mais lágrimas molhando a sua face bonita.

— Eu só me lembro de acordar e ver meus pais mortos. — A voz embargada dificultava o entendimento das palavras — Lembro de gritar e ninguém me escutar, até não ter mais voz, então tentei fazer barulho com a cadeira. Foi quando Peter me encontrou.

Embora Lawrence tenha lançado um olhar indagador para Bane pelo tom íntimo da voz da mulher, no entanto, o detetive mais novo estava segurando a mão de Isabelle para que ela acalmasse.

— Se não quiser falar agora, podemos deixar o depoimento para depois, tudo bem? — Peter explicou, afável — Olhe pra mim: iremos colocá-la no programa de proteção a testemunha. Você e seu noivo. Vai frequentar um psicólogo. Soa bem pra você?

Ainda fungando, a Stuart balançou a cabeça em concordância.

— Eu já tenho uma terapeuta, mas muito obrigada, Peter — disse enquanto pegava os lenços de papel que estavam em cima da mesa. — É bom ver um rosto conhecido.

Bane sorriu para ela e Isabelle permitiu-se relaxar.

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Dentro de sua garrafa térmica o café já havia acabado, fazendo com que Peter fizesse uma careta. Levantou o olhar apenas para acompanhar Isabelle sair da delegacia ao lado de seus seguranças e Elliot em uma marcha distraída. Em sua mão direita ela segurava o cartão que ele lhe dera para que ligasse para seu número privado, caso precisasse de ajuda.

— Quando você ia dizer que conhecia a família de Stuart? —  inquiriu Richard.

O detetive olhou para seu parceiro em silêncio e voltou a observar sua garrafa vazia. Aquela atitude despreocupada irritou Lawrence, que já estava de pavio curto.

— Não vai me responder?

— Não conheço os Stuarts, eu conheço Isabelle — replicou sem muita vontade. — Na verdade, nem mesmo ela eu conheço. Cheguei a conversar uma vez com Isabelle quando estávamos no ensino médio. Não sabia o nome dela, muito menos de que família ela era. O rosto era familiar, mas não tinha certeza quem era até o comentário que fez hoje.

— Como não a reconheceu? Você viu as redes sociais dela!

— Que foram feitas a quatro anos atrás e resumem-se em arte surrealista? — Completou Bane — Ela mudou muito, Lawrence. A puberdade fez muito bem a ela.

Embora tenha achado Isabelle bonita na época do colegial, Peter sabia que o seu Eu adolescente não era confiável. Na juventude parecia  um cachorro no cio, olhava as mulheres como se fosse apenas um pedaço de carne. Todas eram potenciais namoradas. Não era de se admirar que engravidara a filha do reverendo antes de pegar seu diploma.

— Irei falar com o capitão sobre isso.

Peter revirou os olhos.

— Por que diabos você não consegue resolver suas próprias merdas, Lawrence? Tudo você leva para Pollack. Parece uma criança — reclamou.

— Porque eu ligo para o meu trabalho, porra! — explodiu Richard — E ele deve ser feito com perfeição. Por causa de policiais como você, somos desmoralizados!

— Se acalme — alertou Bane com a voz em tom baixo. — Está fazendo uma cena.

— Estou mesmo, seu desgraçado. É pra todo mundo aqui saber quão antiprofissional você é!

Peter descreveria aquela cena como um dos momentos mais oportunos que a paciência divina prevaleceu. Ele estava muito perto para ter respondido-o com um belo soco.

No entanto, ele sabia que deveria ter comentado que iria tentar conquistar a confiança de Isabelle e que estava pensando em dar o benefício da dúvida para a teoria de Richard na relação da herdeira e o crime. Ele sabia, mas, mesmo assim, manteve-se calado. Observou o rosto de seu parceiro e viu que, assim como Peter, ele não havia dormido direito nos últimos dias. Estava fazendo hora extra quase todas as noites e aquilo deveria estar afetando diretamente seu humor.

Então, ao invés de se defender, Peter apenas disse:

— Estou indo pegar um café.

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N/a:

Esse capítulo veio de uma promessa.
Faz um tempo que não consigo ter um tempinho pra escrever e deixei essa parte de reserva. Porém nesse fds prometi que se meu time ganhasse iria postar um capítulo novo.

Foi uma vitória magra, mas promessa é promessa.

Até mais!

Confidente [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora