XVI. A SUSPEITA E A PRINCIPAL TESTEMUNHA

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Havia muitos motivos pela qual conversar com suspeitos de assassinato, sobretudo um tão brutal como o dos Stuarts, era uma quebra de ética e decoro que colocava em risco a carreira de Bane. Se ele fosse um homem inteligente e sábio, desligaria o celular e fingiria que a ligação não tinha ocorrido.

Peter era um homem inteligente, mas também era muito curioso, o que o tornava um pouco menos sábio que a maioria.

- Olá, Isabelle. Tudo bem?

Ele ouviu a mulher soltar o ar antes de dizer.

- Estou dentro do possível. - ele pode sentir um sorriso em sua voz. - Está ocupado?

- Não, não - disse ele olhando para a comida intocada a sua frente. - Pode falar.

- Certo, certo... - murmurou ela - Estive conversando esses dias com Elliott e ele não parece disposto a ser colocado no programa de proteção à testemunhas. Parece que estão tendo muito trabalho na empresa.

O detetive lamentou não estar gravando aquela conversa. O material seria considerado prova ilegal, no entanto poderia ser um indício de que estavam no caminho certo.

- Ah, não? Você também não vai querer?

- Eu tenho escolha? - sua voz saiu baixinha, temerosa. - Mal consigo fechar os olhos e parece...

A voz enganchou-se na garganta.

- Me desculpa - pediu ela, embora não houvesse nada errado chorar, sobretudo em uma situação tão difícil para si.

- Escute, Isabelle. - chamou Bane com a voz mansa. - Amanhã cedo um policial irá com você até uma cidade em específico. Lá você poderá começar de novo. Não tenho ainda a informação do lugar, nem da sua nova identidade, mas ele a levará lá. Você ficará alguns meses sem contato com seu noivo. Tem problema com isso?

Ela ficou em silêncio. Um fungado e um pequeno roçar de um lençol.

- Você pode ir comigo?

Peter coçou a cabeça imaginando quão problemático seria ter mais uma discussão com Detetive Lawrence. Ainda assim, a confiança que estava sendo construída entre ele e a Stuart era importante demais para ser descartada.

- Está bem.

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Isabelle Stuart acordou às cinco horas da manhã após um pequeno cochilo de dez minutos. Todas as luzes do apartamento de seu noivo, Eliott, estavam acesas, embora não houvesse ninguém além dela. Antigamente, a mulher detestava dormir de luz acesa; incomodava seu sono que sempre foi muito leve. Agora, a simples ideia de estar em um cômodo mal iluminado dava-lhe arrepios.

Levantou-se devagar e observou desconfiada. Tomou um rápido banho, mas os olhos não deixaram de encarar os pontos cegos do banheiro.

Era impossível não ficar ansiosa com a chegada dos policiais. Sentia-se sufocada, perseguida. Por que ela ficara viva e não seu irmão, o mais velho? Anthony era amado por todos. Sorria com facilidade, tinha uma voz mansa e convidativa, era educado como um milorde. Amá-lo era natural; ele era diferente e por sua singularidade era acolhida. Por muitas vezes, Isabelle permitia-se odiar o irmão por causa disso. Ela não conseguia parar de pensar que Anthony Stuart deveria ser o que sobrevivera. Ele era esperto; saberia o que fazer. O luto não o impediria de atingir seus objetivos. Ao invés disso, quem estava vivo era uma mulher fraca que nunca tivera habilidade para organizar sua vida.

Isabelle andou devagar e entrou no quarto que dividia com o noivo. Na segunda gaveta da cabeceira procurou por uma pequena caixinha de remédios que recebera da psicóloga naquela semana.

Confidente [Completo]Where stories live. Discover now