XXVI. A VINGANÇA E AS MORTES

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Isabelle Stuart era muito parecida com a mãe. Os cabelos eram diferentes — mas os olhos, o nariz e a boca marcavam os traços da negritude herdada. Ela carregava ainda aquele olhar de quem não sabia de nada. Sonsa, murmurou Laura. Era sonsa igual a mãe.

A primeira vez que Laura encontrou os Stuarts foi em uma sexta-feira à tarde. Ela ainda não sabia que estava grávida de Elliott; estava, porém, feliz de finalmente carregar um anel no anelar direito. Iriam se casar no ano seguinte se todas as negociações dessem certo.

Eles pagaram o almoço e Gemma Stuart chegou a indicar os mesmos decoradores do casamento dela; deixou o número do telefone anotado para caso Laura precisasse de ajuda. Com toda aquela amabilidade, Laura voltou para casa animada com o rumo das coisas. Os Stuarts pagariam as dívidas da Cerquilha, mas manteria Conrad no cargo executivo; seria uma espécie de funcionário de alto escalão para eles. Era esse o acordo. Ele iria sair daquele poço sem fundo que havia se metido e, então, aceitaria formar uma família oficialmente com ela.

Então, tudo deu errado. Conrad não foi contratado e os Stuarts tornaram a Cerquilha um empreendimento apenas deles. Aquilo enlouqueceu Conrad — o valor que lhe sobrou era tão pífio que nem mesmo dava para pagar as últimas parcelas do conversível que tinha. Foi um ano infernal para Laura; o casamento foi adiado assim como a capacidade dela de agir como uma pessoa sã. Odiar os Stuarts era inevitável, sobretudo quando ela via a Cerquilha transformar-se numa pequena mina de ouro para o casal.

Em Laura havia uma pequena esperança de que Conrad iria dar a volta por cima; ele era um homem inteligente. Se o acidente não tivesse acontecido, os Stuarts teriam recebido o que mereciam. Eles iriam estar vivos para verem seu pequeno império ruir. Igual Laura, eles iriam ter que encarar a pobreza.

Mas Conrad morreu em um acidente de carro. Era insano, mas Laura não conseguia parar de pensar que a culpa era do casal Stuart. Se não fosse eles sabotando o acordo, Conrad não teria bebido e dirigido. Ele nunca fazia isso! Conrad Trait estava depressivo e o comportamento autodestrutivo custou-lhe a vida.

Não demorou muito para que Laura imitasse o noivo morto. O problema era que estava grávida de Elliott e tinha que alimentar a pequena Carol. Sem diploma de faculdade, encontrar um emprego que sustenta-se a ela e os filhos era um desafio maior do que poderia suportar. Um dia, ela entrou em colapso, abandonando os filhos e fugindo de cidade em cidade.

Carregar o ressentimento nunca foi fácil para Laura. Às vezes pegava-se pensando o que aconteceria se os Stuarts tivessem respeitado o acordo, se os advogados de Conrad não fossem imbecis e se ela fosse mais resiliente... No fim das contas, os pensamentos sempre caíam na autoconsimeração de quem perdeu um futuro perfeito.

Tudo culpa dos pais de Isabelle.

Por isso, Laura não sentia qualquer remorso quando pensava que segurou o cabelo de Gemma Stuart e a viu afogar-se no próprio sangue. Laura dormia tranquila à noite sabendo que o herdeiro dos Stuarts — o homem alto e de fala mansa — não herdaria o que não lhe pertencia. Chad Stuart, o capacho, viu a esposa e o filho morrer enquanto debatia-se aos gritos. As marcas dos dentes dele em sua mão sumiram, mas às vezes pareciam estar ali em sua mão. Pouco importava. Elliott matou-o sem muitas delongas. A única que observou tudo de camarote fora Isabelle, a última Stuart. A morte dela deveria ser a mais rápida e fácil. Aquele pescocinho fino e magro mal teria tempo para sentir a lâmina e estaria partido ao meio.

Entretanto, esse não era o plano inicial.

Laura hesitou muito e brigou com o filho até onde podia; queria todos os Stuarts mortos, sem exceção. Porém, Elliott era mais ganancioso: se matassem todos, o que eles teriam além do doce gosto da vingança? Precisavam de dinheiro para sobreviver, não é? E como fugiriam da polícia? Ele, orgulhoso que era, nunca aceitaria passar o resto da vida atrás das grades.

Confidente [Completo]Where stories live. Discover now