6. Bon Voyage!

1.8K 172 244
                                    

O tempo nunca pareceu ser tão insuficiente para Hilda Camargo como naquele momento. Sentia-se muito estúpida por não ter feito aquilo antes, entretanto já era tarde demais. Colocava as roupas na mala com tanto desespero que as vestes ficavam mais para fora do que para dentro da bagagem. Olhava de relance para seu telefone, sentindo náuseas quando via aquela maldita mensagem:

"Bon Voyage, Hilda".

Um número privado. Sem remetente e sem um rosto. Poderia ser loucura da mulher, uma brincadeira de seus velhos amigos, mas aquela história era algo que Hilda havia enterrado a sete palmos em sua cabeça, e duvidaria muito que seus colegas remexeriam no passado daquela maneira. Pensava em como deveria ter se tocado quando recebeu aquele pacote com aquela rosa aparentemente ensanguentada.

Após terminar de fazer sua mala, a mulher pegou uma bolsa menor onde estavam todos os seus outros documentos. Encostou a porta de seu quarto, se despedindo brevemente do local onde passou boa parte de sua vida enquanto morou na cidade. De maneira desajeitada colocou a bolsa em um ombro enquanto puxava a mala para fora do quarto.

Ela suava, mais pela coincidência daquela mensagem ter chego bem quando se preparava para fugir furtivamente da cidade do que um suposto perigo que poderia se prosseguir. Camargo sabia que algo de ruim estava para acontecer, e com a morte misteriosa de Roger, os meses que se prosseguiram fora de extrema tortura para o coração ansioso e delicado de Hilda, que no seu mais pleno desespero, ansiava em sair logo de seu apartamento.

O toque do telefone fixo ressoou em todo o pequeno apartamento, no exato momento que Hilda se aproximava da porta principal, de sua tão sonhada liberdade daquele inferno que estava passando. Deu meia volta, deixando todos os seus objetos no criado mudo perto do corredor. Chegou na cozinha, e com um suspiro que pareceu durar uma eternidade, atendeu o telefone:

— Alô?

Olá, Hilda. Se preparando para viajar?

A fala parecia extremamente mecânica. Com chiados de fundo e uma camuflagem na voz que deixou a professora de cabelos em pé.

— Eduardo, é você? — perguntou torcendo para ser Eduardo da Silva, seu colega de trabalho. — Acha graça de caçoar de mim, seu desgraçado? Depois de tudo o que passamos? Hein?

Nossa, eu fico pasmo em como vocês amam culpar o Eduardo. Mas entendo. Eu torceria para ser ele, se estivesse na pele de vocês.

A voz deu uma longa risada. Hilda já estava irritada, perdendo o medo aos poucos.

— O que quer dizer com isso?

— Olha sua porta e descubra.

Hilda franziu o cenho, olhando de relance para a porta da cozinha. Se esgueirou e observou o corredor que dava para a entrada. Aparentemente não havia nada demais. A mulher passou pela sala, e lentamente se aproximou da porta.

Observou pelo olho mágico e não constatou nada fora do comum. Encostou o ouvido na porta, na esperança de ouvir algo. Um temor invadia o coração da mulher, entretanto não era hora de recuar. Estava determinada a descobrir o que quer que estivesse acontecendo.

Passados alguns minutos ela recuou para trás, imaginando ser apenas um trote ou algo do tipo. Ao se virar para pegar suas coisas para então finalmente sair um barulho ressoou no cômodo. Instantaneamente virou-se para trás, constatando seu pior pesadelo: a porta estava sendo arrombada. Um segundo baque veio, fazendo a mulher colocar a mão na boca em desespero e dar mais um passo para trás. No terceiro baque a porta deu o primeiro sinal que cederia, e no quarto, enfim cedeu, dando forma ao pior pesadelo de Hilda Camargo.

[...]

Alice Fernandéz caminhava suavemente, não se importando com o Sol quente que fazia naquela fatídica manhã. Havia trocado de roupa, e passado no Dojo, para pagar a mensalidade.

DOCE OBSESSÃO - VOLUME I [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now