20. O que Aconteceu com Roger?

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Olhando disfarçadamente para os lados, como se pudesse ser alvo de algum olhar intimidador, Bruno caminhava como se pudesse deixar estampado em seu rosto o que estava prestes a fazer. Ou melhor, quem encontrar.

O Fiat prata estava estacionado naquela mesma rua escura de sempre, próximo à uma árvore, ao lado de uma casa de construção. O adolescente apressou o passo, contornando o veículo, dando um último vislumbre da rua deserta, entrando no carro de supetão.

No interior do veículo, Bruno pôde se permitir respirar de certa forma mais aliviado do que quando percorreu o caminho até lá. Odiava a sensação de culpa que o preenchia sempre que se encontrava com o Roger as escondidas, pelo fato de o homem ser extremamente mais velho do que ele, e acima de tudo, por ser pai de Karina, sua melhor amiga.

Os encontros, na maioria das vezes, eram esporádicos, decididos de última hora. O mais velho possuía um telefone próprio para combinar o local e o que fariam. Ele ligava para Bruno, que abandonava o que quer que estivesse fazendo para poder vê-lo.

A sensação predominante era de culpa, e por mais que o adolescente quisesse largar mão daquilo, parecia se ver mais entrelaçado a Roger, que o manipulava a continuar com aquilo, mesmo ele iniciando um possível relacionamento com Cintia Garcia.

— Oi, Bruninho — disse Roger. Olhava fixamente para o retrovisor do carro, como se estivesse tão tenso quanto o adolescente. Os cabelos estavam penteados com gel para trás, enquanto um cheiro de perfume amadeirado dominava o carro.

— Oi, Roger. — respondeu Bruno, cabisbaixo.

— Parece triste, o que houve?

— Nada demais. — respondeu Bruno. — Onde vamos?

— Nenhum lugar hoje, querido. Mas olha aqui — retirou um pacote que estava no banco de trás. Bruno sequer havia percebido. — Para o garoto mais especial de Campos de Cordeiros.

O jovem pegou o embrulho, abrindo-o lentamente. Era sempre assim quando ambos se desentediam. O homem presenteava o adolescente e o paparicava, num ciclo vicioso para conseguir o seu perdão, mesmo que ele estivesse certo.

A última briga, assim como todas as outras, circundava a respeito do futuro deles, se ficariam juntos ou não. O fato era que Roger sempre desviava do assunto, pedindo um tempo maior, pois segundo ele "aquilo não era pensado do dia para a noite".

Olhou o interior do pacote e retirou de lá de dentro uma camiseta azul fosca. Era simples, mas bonita.

— Gostou?

Bruno ponderou alguns segundos antes de responder. Sabia que aquilo que pensava durante o último mês não poderia passar daquele dia. A angústia pouco a pouco foi esgotando o jovem de dezesseis anos, que gradativamente, foi perdendo a vontade de sorrir, mesmo que na frente dos outros nunca demonstrasse o contrário.

Apertou o papel de presente, fechando os olhos momentaneamente para não chorar.

— Roger... Não posso aceitar isso mais.

— Não gostou da blusa? — Roger mostrou estar confuso. — Posso ir trocar na loja, se você quiser.

Bruno meneou a cabeça, procurando pelas palavras certas. Não tinha intenção de magoar o homem.

— Não digo pelo presente... Você sabe o que eu quero dizer, eu... Não podemos manter essa relação mais!

— Você vai... Me abandonar?

— Abandonar?! Por Deus, Roger! Você tá dormindo com outra mulher!

— Mas eu te amo, Bruninho. Ela é só pra...

DOCE OBSESSÃO - VOLUME I [CONCLUÍDA]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt