Pride

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"Então, basicamente, tenho que tentar adivinhar sobre o que você está mentindo?" Harvey tentava acompanhar o raciocínio mal exposto de uma mente afetada pelo álcool.

"Sim. E se errar, dá um gole desse uísque aqui." A ruiva balançou a garrafa já aberta.

"Certo. Pode começar."

"Hm... Eu já atuei em cinco peças. Eu nunca estive num helicóptero. E tenho vontade de ser loira."

"Easy. Você já atuou em seis, não cinco peças." Debochou certeiro. Donna justapôs as sobrancelhas, confusa.

"Como jamais você saberia disso?!"

"Eu presto atenção em tudo o que você fala, Donna... sempre."

"I see..." Mesmo com algumas taças de vinho em seu corpo ela conseguiu processar aquela informação. Sentiu seu coração se contrair mais do que deveria. "Sua vez."

"Eu... calço número 42. Já quebrei o braço direito duas vezes. E não gosto de sushi." Ela revirou os olhos.

"Harvey, todo mundo sabe que você calça 41, mas odeia qualquer coisa apertando o seu pé, por isso você diz que calça 42. That's tricky and unfair."

"Se você sabia a estratégia adiantou de quê?" Donna divertiu-se com a tentativa falha de enganá-la.

"Cheater."

"Well..." Harvey deu de ombros. "I play the man, not the game." Sorriu todo charmoso e cheio de si.

"Acho que essa brincadeira não vai ter a mesma resolução com a gente."

"Você provavelmente está certa. O dia em que você não souber algo sobre mim poderemos te internar numa clínica."

"Eu espero que isso seja um elogio."

"Foi de péssima eloquência, mas do fundo do coração."

"Right."

"Por que você... não... hm... lê alguma coisa para passar o tempo? Em voz alta." Sugeriu sério.

"Tipo o quê?"

"Ah, não sei. Uma dessas coisas que você gosta."

"Shakespeare, Jane Austen?"

"Sim! But please, se eu puder escolher que seja Austen. Shakespeare me dá enjoos." Donna nada respondeu, apenas fez alguns movimentos puxando Pride & Prejudice de Jane Austen que, coincidentemente, estava lendo — pela 49ª vez.

Donna leu algumas passagens para Harvey. Em voz alta. Ele sorria com as entonações e sentimentalismo com que ela lia as palavras. Donna passou a atuar algumas cenas e pedia resposta do motorista da vez, como se passassem um texto no teatro.

"I could easily forgive his pride, if he had not mortified mine."

__

"Preciso de uma recarga, Harvey." Donna disse fechando o livro e encarando-o.

"Do tipo alimentar? Ou vai me trair e dormir?"

"Eu nunca te deixaria dirigindo sozinho esse caminho todo." A viagem até os Hamptons, partindo de Manhattan, era de mais ou menos duas horas e meia.

"Ótimo. Se eu me lembro corretamente tem um diner alguns quilômetros daqui." Calculou olhando no relógio.

"Perfeito! Coffee and waffles."

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"What now?" Já que não queria misturar — muito — a bebida com o volante, Harvey estava contando com a força de Donna para manter-se acordado.

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