Waves

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"Eu quero estourar meu lado da corda."


"O quê?" Donna engasgou com a própria saliva. "O que quer dizer com isso, princess? Por favor, escute o que está dizendo."

"Sei lá, vamos fingir ser outras pessoas." Ela arregalou os olhos com a repetição daquela ideia e a insistência de Harvey.

"Estou feliz com quem eu sou, obrigada."

"Aqui." Ele sussurrou soando como um segredo. Ela se arrepiou.

"Esse é um jogo muito perigoso, drunkie."

"Só pelo fim de semana. What the hell?" Uau. Aquele era um limite cruel demais para Donna. Para Harvey também. Ele só ignorava que ações tinham consequências naquele instante.

"Não, Harvey. Estou bêbada, muito longe de pensar com clareza. E estou tendo calafrios. Então acho que não deveríamos fazer isso." Donna levantou do sofá e entrou na casa novamente, mas, num movimento súbito, Harvey alcançou os lábios dela com os seus.

Tudo pareceu desmoronar. Ou se construir. A sensação foi extremamente confusa, mas deleitosa. Donna reagiu aproximando-se de Harvey. Ele se desfez do beijo, relutante, para ver o que a expressão dela transparecia.

Não gostou do que viu.

"O que está fazendo?" Sua voz soava baixa, trêmula, não conseguia esconder a vulnerabilidade que o beijo lhe causou.

"Donna, estou tentando..."

"Tentando o quê?" Interrompeu-o bruscamente. Harvey suspirou. Afastou-se um ou dois passos e olhou para o mar.

"Você quer dançar?" Tornou a observá-la. Estava séria.

"Não, não quero dançar." A feição dela se fechou ainda mais.

"Por favor?" Harvey ofereceu a mão.

"Não tem música nenhuma tocando." Donna olhava a mão estendida com cautela. Was that even real? Harvey a convidando para dançar?!

"Let's just... listen to the waves." A ruiva suspirou tentando se acalmar, tentando colocar a ra\ão no topo de qualquer coisa que estremecia dentro de si. Apertou os olhos.

"Eu vou me arrepender disso, né?"

"Provavelmente." Harvey abriu um enorme sorriso quando a mão dela tocou a sua. Puxou-a para perto com toda gentileza que um dia já tivera.

Donna aos poucos soltou os músculos tensos.

Harvey a guiava lentamente.

Logo ele trouxe as mãos juntas próximas ao próprio peito.

"Sabe... nós já colocamos tudo isso numa caixa antes, eu aposto que conseguiríamos novamente." Ela não fazia a mínima ideia do que aquilo deveria significar, mas seus ouvidos compreenderam muito mal a situação. Se Harvey, por algum segundo insano a desejava, ele preferia fazê-lo em segredo.

Donna não respondeu, mas Harvey sentiu seus músculos tensionarem novamente.

"Hey, não estou fazendo nada para te deixar desconfortável. Pare a coisa toda se sentir que é too much."

"É só muito injusto quão mal você lida com os seus sentimentos, Harvey. É tão complicado e você reduz tudo para duas palavras. Gostaria muito de ser assim."

"Você está me dizendo para parar?" Donna respirou fundo. Harvey a tirava do sério quando agia como um adolescente, mas seria impossível interromper toda aquela situação.

"Nah... you're kind of a good dancer."

__

Donna adormeceu no sofá da varanda. Depois de ter dançado de roupão, depois de um banho quente de banheira, depois de um lanchinho com algumas frutas que Harvey havia preparado. Ele não sabia direito quando Donna havia dormido, mas percebeu a serenidade nas feições dela quando se deu conta do silêncio espaçado entre conversas risonhas.

Por alguns minutos observou como os detalhes daquela cena ornavam perfeitamente: o barulho do mar combinava com a brisa praiana, que balançava alguns fios ruivos dela. Um de seus braços como apoio para o pescoço e o outro, colado ao corpo, acompanhava a curva da cintura e de seu quadril. Percebeu seus pelos arrepiados de frio e não hesitou em correr pelas escadas atrás de uma manta para ela. Harvey retornou com uma branca. Com cuidado, abriu a peça e estendeu sobre o corpo dela, sentando no espaço disponível no sofá. Donna suspirou profundamente e ele evitou se mexer pensando que a ruiva voltaria a dormir. Enganou-se.

"Você me trouxe uma manta." Donna ajeitou-se numa posição mais confortável.

"Pensei que te carregar lá para cima não era uma boa ideia." Ela agradeceu com um sorriso. "Night, Donna." Harvey ameaçou levantar...

"Harvey..." Mas ela o impediu, segurando seu braço, o que o fez sentar novamente. "Me desculpa por ter surtado também. Quando você se aproximou... Eu estava..."

"Look, it's okay."

"Eu não tenho intenções de te frustrar." A ruiva sentou-se e cruzou as pernas ainda debaixo da manta.

"Eu sei que não."

"I mean, somos eu e você. Isso é complicado, estamos passando dos limites. It's all a blur. E temos tanta bagagem... Mas acho que ignoramos tudo porque ainda somos eu e você... right?" Ela tentava chamar a atenção dele por qualquer mísero segundo, mas Harvey tinha os olhos fixos no breu da praia.

"Bom, Donna, mais uma vez você está absolutamente certa."

"Okay." Pela primeira vez em toda vida ela se arrependeu de estar certa. "Boa noite, Harvey." Seu olhar baixou e ele finalmente fez algum movimento com a cabeça na direção dela.

"Você não vai subir?"

"Como assim?"

"Você disse boa noite e não levantou para ir para o quarto..."

"Não, estou esperando você se levantar. Vou ficar aqui por mais alguns minutos."

"Está frio agora, Donna."

"I know, Harvey. I can feel it." Ele piscou demoradamente e voltou o olhar para o horizonte. "Você não vai sair, né?"

"Não com você pissed at me, não."

"Certo." Donna ignorou e acompanhada de uma forte suspirada ajeitou-se para deitar novamente, mas foi surpreendida pelos movimentos de Harvey em sua direção. Ela congelou e ele também. Harvey passou e apoiou a mão esquerda bem ao lado do corpo de Donna, que aos poucos se deitava e o sentia mais e mais perto. A ruiva já estava completamente deitada e Harvey praticamente debruçado.

"E se... fôssemos algum personagem?" Donna fechou os olhos tentando controlar todas as coisas que passavam dentro de si.

"E você seria quem?"

"The Rock, talvez?" Analisou pensativo, não muito certo de como ela reagiria a sua escolha.

"Hm... Esse não é bem o meu tipo de cara, mas acho que posso ser a Carla Gugino por você."

"É... Acho que eles são um bom match."

"Assista a San Andreas que você vai entender." Disse cerrando os olhos com um tom de brincadeira. Harvey ainda estava debruçado nela, seus corpos se tocavam a medida em que respiravam, Donna ainda estava imóvel debaixo dele, mas nada fez com que perdessem o humor.

Donna sorriu sincera e aliviada. Saber que mesmo com aquela intimidade eles ainda seriam as mesmas pessoas, tratando-se do mesmo jeito a deixava eufórica. E esperançosa. E impulsiva, porque tanta adrenalina percorria suas veias que nenhum pensamento lhe escaparia a fala naquele momento.

"Você vai me beijar ou vou ter que mentir para o meu diário?"

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