Easy come, easy go

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"Você vai me beijar ou vou ter que mentir para o meu diário?"


Harvey riu e a tomou pelos lábios. O uísque o fez indagar se caso aquela fora a mulher de sua vida o tempo todo.

O gosto de saudade daquele beijo quase doeu, mas a sensação eletrizante ocupou todo espaço e eles se tomaram um nos braços do outro. Harvey equilibrava seu peso nos cotovelos enquanto tocava os fios ruivos e sedosos com as pontas dos dedos. Cuidadosamente. Donna descansava as mãos nas costas de Harvey. Ora pressionava mais os dedos pela intensidade que o beijo tomava, ora a calmaria os deixava quase imóveis.

Harvey interrompeu seus movimentos com dificuldade. Apoiou o peso sob os joelhos na superfície do sofá afastando-se dela. Guiou as pernas de Donna para fora, o que a fez sentar.

Um eterno transe.

Pegou Donna pelas mãos, fez com que ela levantasse do sofá e a trouxe para perto de si, deixando a ruiva em pé a sua frente.

Os olhares encontraram-se no meio do caminho. Donna podia sentir a respiração dele arrepiar onde alcançava. Sorriu.

"What?" Alguns fios do cabelo dela escorregaram para a visão de Harvey.

"Não, nada. É que... estou confuso." As mãos ainda estavam agarradas ao lado do corpo dela.

"Harvey, tudo bem, eu..." Donna ameaçou ir embora, afastando o corpo do rosto dele.

"Não! Eu quero que você fique aqui." Ele a puxou para mais perto e, em resposta diferente de cair no sofá, Donna foi obrigada a colocar uma perna de cada lado do tronco de Harvey, acomodando-se em seu colo. "Só estou confuso como pude deixar isso passar em branco por tanto tempo."

"A verdadeira pergunta é: how afraid were you?" Harvey suspirou e fez alguns círculos com as mãos nas coxas de Donna. Parecia muito reflexivo.

"Talvez a resposta dessa pergunta seja tão dark que eu não posso responder em voz alta."

"That's okay." Ela o acalmou passando uma das mãos pelo cabelo dele, tentando seguir o padrão que ele mesmo fazia. "É uma pergunta reflexiva mesmo, não necessariamente a gente precisa responder tudo com os mínimos detalhes a todo tempo."

Um barulho de trovão foi ouvido bem baixo, seguido de leves pingos de chuva que começaram a cair no casal. Donna olhou para o céu e sentiu a água gelada molhar pequenos espaços de seu rosto. Harvey abriu um sorriso e balançou a cabeça negativamente. Aquela talvez fosse a visão mais bela e espontânea que jamais vira.

A ruiva voltou os olhos para Harvey e, com algum cuidado, o beijou.

A chuva molhava tudo ao redor, mas parecia evaporar instantaneamente ao tocá-los. Os poucos pingos que caíam não dariam conta do incêndio que causavam na varanda.

Donna passava as mãos por baixo da manga de Harvey, sentindo sua articulação e músculos trabalharem com cautela. Já ele, com uma das mãos na lombar da ruiva, a puxava para perto assim que ela ameaçava se afastar. Riam entre beijos, se beliscavam e davam leves mordidas onde possivelmente doeria.

E entre tapas e beijos a chuva se intensificou. A swelling storm. And they were caught up in the middle of it.

Donna tentou se desvencilhar dos braços de Harvey, mas ele a envolveu ainda mais.

"Harvey, estou completamente encharcada!"

"Both ways?" O riso dela ecoou.

"Let me go!" Pediu se chacoalhando. Harvey roubou um último beijo da ruiva e a deixou correr para dentro de casa. Ele resgatou os copos de uísque e a manta já ensopada e tomou rumo para se juntar a Donna. "Eu não imaginei que fosse chover." Ela tentava se enxugar com a toalha pendurada que havia usado mais cedo.

"Eu não imaginei que fôssemos..."

"I know." Donna completou, interrompendo a fala dele e instaurando um silêncio profundo, como se deixassem a tempestade como soundtrack.

Donna analisava os pingos de chuva deslizando pelo rosto de Harvey, que admirava o contraste que a pele dela fazia com o cabelo molhado e de tom mais escuro. Ele virou-se totalmente de frente para ela e deu um passo em sua direção. O frio que a água gelada deixara em seus corpos logo deu espaço para aquela tensão mútua. Possível de se cortar com uma faca.

Aquilo era muito. Era muito para Donna admirar Harvey debaixo da chuva não tendo certeza do que deveria fazer na manhã seguinte. Por um segundo sua razão abraçou o coração desesperado por acalento e o segurou forte, impedindo que qualquer impulsividade a atingisse.

E, então, Harvey inclinou-se, mas Donna desviou o rosto sutilmente. A mão direita dela pousou sobre seu tronco. Ele ficou ereto novamente, engoliu em seco.

"It's getting late." Disse ela com o olhar baixo.

"I don't care." Harvey sussurrou de volta.

"Harvey!" Donna levantou a voz e se afastou de fato. "Se você quiser que eu continue te fazendo companhia, eu fico, mas acho que não consigo ser ninguém but Donna." Ela subiu e desceu os ombros, desiludida. "Pelo menos não quando estou com você, apparently."

"Por que isso é tão complicado?" Donna estava a alguns passos de distância e Harvey não conseguia suportar a vontade de se aproximar.

"Easy things are not fun to play with." Ela sorriu vulnerável, sincera e realista.

"Então, está dizendo que se não fôssemos tão complicados nós..."

"We would lose it." Donna novamente completou a frase.

"Well, eu tenho a certeza de que não quero perder você." Admitiu devastado. Uma gama intensa de emoções surgindo e ele deveria suprimir tudo?

"Copy that, Mr." Donna apontou o indicador para ele e obrigou sua mente a entender que Harvey dizia a perder como amiga.

"Boa noite, Donna." Pronunciou já tomando caminho para o andar de cima.

"De verdade agora?" Ela provocou, mas Harvey não respondeu nada além de um sorriso forçado e um múrmurio de boa noite novamente. "Night..."  

Un-safeOù les histoires vivent. Découvrez maintenant