Black two sugars splash of vanilla

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Donna passou o domingo praticamente inteiro dormindo. Oscilava entre manter-se ocupada com alguma atividade da casa e dormir. Primeiro porque uma grande sobrecarga emocional sempre trazia cansaço físico em algum momento e, segundo, que tinha certeza que encontrar Harvey no dia seguinte seria uma exaustiva batalha contra um orgulho machucado e um humor irreparável. Precisava descansar.

Comeu pouco. Tentou se hidratar o máximo possível, mas até a caminhada para a cozinha parecia infinita, preferia continuar concentrada em qualquer chick flick que estivesse passando na tv. De repente 30, a proposta... Até um episódio de Gilmore Girls ficou como soundtrack daquele dia cinza.

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Harvey matou o dia na academia. Boxeando. Não, o local não abria aos domingo, pois Harvey fez o impossível e foi atrás das chaves que abriam a porta da frente. Imagina se ter atravessado a cidade duas vezes lhe deixou mais nervoso... Sim, o que significava duas vezes mais raiva para descarregar.

Diferente dela, seu corpo possuía um gás absurdo. Talvez motivado pela raiva inconsequente como a um garoto de 12 anos quando os hormônios surgem e ele não sabe como reagir, então gasta toda a energia que acha que tem. Harvey tinha esses acessos às vezes.

Para piorar a situação, passou parte da noite - de domingo para segunda - em claro. Esquentou o lado direito, o lado esquerdo, os pés, a cabeça, a vertical e a diagonal da cama. Virou e revirou martelando o arrependimento de ter a beijado.

E também o de ter a deixado ir embora.

"Why the hell did I stay at Richard's?"

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Já era segunda-feira e Donna falou todos os seus mantras em voz alta. Mantinha os olhos fechados para manter a sanidade, tomou o café da manhã lentamente para que tivesse tempo, pela 487ª vez, de relembrar o porquê tinha deixado Harvey sozinho nos Hamptons.

O elevador abriu no andar da empresa e antes de sair, Donna respirou fundo. Caminhou pelos corredores sentindo-se nua, como se todos soubessem sobre o final de semana e como se apontassem o dedo a culpando ainda mais do que já se sentia culpada.

O escritório de Harvey ainda estava vazio. Não sabia se sentia-se aliviada ou mais tensa por obrigatoriamente ter que vê-lo. E cumprimentá-lo.

Começou a organizar a agenda dele, fez algumas ligações confirmando ou desmarcando reuniões. Separou documentos importantes para aquele dia e fez anotações em post its para si mesma. Continuou no mesmo ritmo até perceber o caminhar dele no início do corredor. Ajeitou-se na cadeira giratória se preparando ou para o bom dia mais seco da história dos cumprimentos matinais ou uma bela ignorada e um olhar cortante.

Harvey trazia dois cafés. Deixou um deles na mesa de Donna e continuou andando.

Não parou para respostas ou olhares. Apenas ofereceu um café. Donna não sabia se em busca de trégua ou paz ou se era compreensão. Abriu a tampa para sentir o cheiro. Black two sugars splash of vanilla.

Quem passasse por ela veria a clara expressão confusa e surpresa. Sentiu uma pequena falta de ar. Teve muita vontade de levantar e ir até o escritório dele ignorando qualquer ressentimento, apenas disposta a concordar no que fariam a seguir.

Donna já não sabia se o café era demonstrativo de rotina ou de "estou grato que tudo aconteceu". Até porque Harvey nunca trazia café para si, quem dirá para outras pessoas... Atreveu-se a pensar até na possibilidade de Harvey estar com tanta raiva que o café estaria envenenado. Bebeu um gole averiguando a situação.

"Nah... He likes me too much to kill me."

Mas a apresentação da bandeira branca fora extremamente mal interpretada. Harvey passou o dia todo evitando contato visual, físico ou sequer sustentava um diálogo com Donna por mais de 15 básicos segundos. Disaster.

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