Elizabeth

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She was an evil woman with an evil old soul
Piercing eyes emotionless
A heart so black and cold

Elizabeth, Ghost

"Mas você é esquisita." Meu melhor amigo Felipe diz assim que eu conto a ele o que aconteceu hoje de manhã com Amanda.

Estamos no que denominamos ser nosso canto. É só um mísero e pequeno pedaço das terras do pai dele. Ao mesmo tempo que é próximo da escola, também é impressionantemente longe de tudo. As pequenas montanhas de terra e pedra que nos rodeiam fazem o 'nosso canto' tão pessoal e aconchegante que sempre que podemos nos encontramos aqui para reclamar de tudo e todos e passar um tempo juntos.

Árvores e mais árvores mostram como esse lugar está abandonado. Se você andar alguns metros para o lado direito, vai até encontrar o entulho que muitos insistem em deixar por aqui ao invés de se livrarem deles como deviam. Jogam tantas coisas aqui que fomos capazes de achar cordas para fazer dois balanços nos galhos mais grossos. O usamos quando nos sentimos aventureiros ao ver a água em nível alto o suficiente para pularmos nela.

Um pequeno riacho que se dá a nossa frente corre tão ferozmente que seu som e eco o faz parecer um rio grande. Acho engraçado como ao longo desses anos eu já vi esse riacho em os todos os tamanhos possíveis, tudo dependendo de quanto chove na região.

"Muito obrigada pela parte que me toca, Felipe Montenegro." Brinco. Eu não ligo para as brincadeiras dele. Felipe e eu temos uma conexão única, falamos tudo e sem freios. Arrisco a dizer que por crescermos e passarmos tanto tempo juntos, já até o vejo como um irmão. "Desculpe-me se não sou tão normal e popular como você."

Ele gargalha.

Estamos deitados lado a lado sobre nossa pedra favorita. Redonda e enorme, comporta nossos dois corpos desde que tinhamos onze anos. Hoje aos dezessete
(bem, Felipe já tem dezessete. Eu ainda tenho dezesseis. Nascemos no mesmo ano, mas ele nasceu alguns meses antes de mim), ainda parece grande o suficiente para deitarmos sobre seu lado plano.

"Eu já te falei que só eu suporto essas suas loucuras, Dona Viviana." Eu já contei a Felipe o por que fico olhando pessoas, as encarando enquanto ouço batidas em seus corações. Ele acha que sou esquizofrênica e devia ver um médico. Eu rio, pois fora isso, não apresento nenhum dos outros sintomas do quadro clínico da condição. Claro que já pesquisei, então desconverso toda vez que posso e ele não insiste, apenas faz piadas que me fazem sentir mais leve a respeito de tudo. "E o grupo deu certo? "

"Eu já fiz minha parte. Só fui na reunião por que queria ver se ainda ouviria o coração dessa menina."

"E ouviu?"

"Alto e claro. Assim como o namorado dela." Conto a ele. "E quer saber da pior? Eu marquei de sair com ele." Sorrio para mim mesma.

Amanda namora um garoto chamado Dalessandro que quer e muito ser jogador de futebol. O vejo ás vezes no corredor da escola e o por ouvir seu coração retumbar, o olho toda santa vez que passa por mim. Não consigo não ser hipnotisada por isso. Parece me chamar enquanto um cheiro delicioso surge.

O caso é recente e ele me abordou por causa disso. Achou que eu o encarava por estar interessada nele. Aproveitando a oportunidade, perguntou se eu queria uma carona para casa na segunda feira. Para falar a verdade eu queria, mas o neguei. Ele continuou insistindo que nos encontrassemos sozinhos até que eu aceitei.

HARESIS DEAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora