Idolatrine

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"Profaner of the vices, a simple charlatan
Inflaming puerile minds with the guilt of sin
Imaginations fed to children, it has served me well
That the bowels of the earth hides the pits of hell" 

-Idolatrine, Ghost

O centro de mirim de Barrinha Bambu é pequeno, mas perfeito para a também pequena população que serve. Comporta dentro das coloridas paredes de sua construção de apenas cinco salas e um pátio retangular, as poucas crianças as quais os pais concordam mandar para as aulas que consistem em um pré-curriculum escolar leve, onde os pequenos são preparados para adentrar o primeiro ano do ensino básico com o mínimo de conhecimento.

Sentada a mesa mais ao centro da salinha de sua classe, Viviana usa o espaço extra de seu papél onde pratica escrever seu nome, para desenhar algumas imagens que persistiam flutuar em sua mente durante todo o dia. Viviana já escreve bem para sua idade, então sempre termina os exercícios antes dos demais, deixando um espaço no papél dado pela professora especificamente para desenhos.

O espaço que sobra é pequeno, mas suficiente.

"Vamos guardar os materiais antes de irmos para o recreio, crianças." A doce voz da Professora Carina alerta todas as crianças que estão sob sua tutela este ano, um grupo de nove meninas e onze meninos na casa dos seis aos sete anos. "Vocês podem escrever ou desenhar mais quando voltarmos a sala."

E assim as crianças fazem, pois a palavra recreio as alegra tanto, que até a mais desobedientes das crianças fazem o que é pedido para poder brincar no pátio da escolinha.

"Vivi, é pra guardar tudo! Você não ouviu a Tia Carina?" Felipe, um dos amiguinhos de Viviana pergunta a menina que se encontra tão concentrada no que faz em seu papél que ignora completamente as ordens da professora. Sem resposta da amiga, Felipe a cutuca com a ponta do dedinho fino. "Vivi! Ei, VIVI!"

Quando finalmente a menina o encara, ele repete a ordem dada por Carina. Vivi não diz nada, apenas olha ao seu redor e vê todas as crianças ajudando a organizar a sala.

"Eu preciso terminar meu desenho, Fe." Viviana conta ao amigo e volta a focar na tarefa a sua frente.

Curioso, o garoto se coloca ao lado dela, depositando seus pequenos cotovelos a mesinha e seu queixo sobre suas mãos. "É bonito!" Ele admira os rabiscos no papél da amiguinha. "Quem é? Sua mamãe?"

"Não, seu bobo." Viviana ri baixinho. "Não vê que só tem um olho?" Viviana aponta no papél o detalhe citado com o lápis. "É a minha irmã."

Felipe ri do que Viviana diz. "E sua irmã é caolha que nem um pirata?"

"Viviana! Felipe!" A professora se aproxima do par que não se movimentava como o resto da sala e coloca a mão carinhosamente sobre seus pequenos ombros, ganhando assim a atenção dos dois. "Vocês precisam ajudar assim como todos os seus coleguinhas." Ela sorri de forma gentil.

"Já vou, Tia Carina." Avisa Viviana. "É que eu preciso terminar esse desenho  muito rápido."

"Vivi... eu entendo, mas pode terminá-lo depois do recreio, não?"

"Eu já tô quase acabando! É um desenho pra minha irmã." A menina sorri calorosa para a professora que se abaixa a seu lado. "Ela morreu ontem e eu quero entregar pra ela antes que a enterrem como fizeram com a minha mãe."

Os olhos de Carina arregalam com a resposta dada pela menina. Por um momento perde até o ar, tentando entender se ouvira mesmo aquilo que achou ouvir.

"Vi... " Carina engole em seco. "Vivi, espere aqui, okay?" Levantando-se exasperada, dirige-se ao resto da sala onde por sorte ninguém além de Felipe parece ter ouvido o que a menininha tinha dito. "Crianças, podem ir para o recreio! Eu termino de guardar as coisas!"

HARESIS DEAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora