Con Clavi Con Dio

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"Our conjuration sings infernal salms

And smear the smudge in bleeding palms"  

- Con Clavi Con Dio, Ghost

Carina caminha lentamente de volta a saleta onde deixou Viviana desenhando, pensando em como ofereceria palavras de consolo a uma menininha que parecia não precisá-las, esperando em seu peito que a pequena tivesse inventado ou exagerado tudo isso. Sim, sabia que a irmã dela estava doente mas certamente sua família avisaria a diretora do ocorrido, e provavelmente manteriam a menina em casa por alguns dias, certo? 

Era isso que famílias normais faziam. Aparentemente, não os Amadeus. 

Com a mente a todo o vapor Carina decide beber algo para se acalmar, parando no pequeno bebedouro do corredor. Embora tenha que se ajoelhar pois o bebedouro fica bem mais baixo que o normal já que era para uma escolinha infantil, bebericou goles da água tão quente quanto o dia lá fora. Enquanto bebia, pensava em quão estranha a pequena aluna que tinha era. 

Viviana não era do tipo quieta mas também não era do tipo bagunceira. Apesar de parecer uma garota normal, Carina tinha que admitir para si de uma vez por todas que havia algo de diferente naquela criança. Algo que Carina nunca parou para pensar muito a respeito, mas que era difícil não perceber. A menina fazia certas coisas bem demais para a idade, como escrever, contas matemáticas, conversar. Algumas crianças são precoces sim, e óbviamente cada uma tem sua própria velocidade de desenvolvimento, mas Viviana... 

De volta a sala sorri sem graça para Viviana que ainda colore. " Tia Carina, você tem mais papél pra me emprestar?" Pede assim que vê a professora entrar. Carina vai até o armário atrás de sua mesa e pega mais algumas folhas para Viviana, que lhe dá um sorriso sardônico em agradecimento. 

É um sorriso estranho mesmo ou Carina está vendo coisas baseadas nas esquisitices que viviana proferira mais cedo? A jovem professora não se sente pronta para lidar com isso. Especialmente com aquela garotinha cuja peculiaridade já lhe dava alguns calafrios, e hoje está quase impossível ignorar. 

Passava os recreios nos quais não tinha que monitorar as crianças no pátio sozinha. Mas ali com Viviana, a sala fica pequena e fria demais para Carina. O que por um lado é bom pois o calor daquela época do ano insiste em ferver também dentro das quatro paredes dando poucas chances aos ventiladores de qualquer refrescar, por outro lado era muito estranho que aquela queda de temperatura se da tão subitamente, especialmente acompanhada das leves oscilações de luz que fazem a lâmpada no centro do teto da sala piscar algumas vezes. 

Carina se abraça para conter a sutil brisa fria, notando em seus braços pequenas bolhinhas em sua pele, resultado do breve arrepio que lhe correu pelo corpo. Se encontra extremamente nervosa, pois é uma medrosa de primera, sempre fora desde quando tinha a idade de seus alunos. Olha em seu relógio de pulso e com débil tremer de suas mãos, vê que ainda faltam quinze minutos para que as crianças retornem a sala. 

A moça olha para Viviana que serenamente ainda colore o atipico desenho. 

"Vivi, você não vai para o recreio com seus coleguinhas tomar seu lanchinho?" A professora tenta com um tom delicado, percebendo que não quer mais ficar sozinha com a menina na sala. 

"Não, tia Carina. Eu tenho que terminar de desenhar o tio Cardinal que veio visitar a minha irmã ontem a noite." A menina ergue o papél que tinha uma figura bizarra em preto e Carina se pergunta se há algum Cardinal na paróquia da vila. 

Aquele desenho lhe causa um mal estar e Carina sente a mais intensa das vontades de sair de perto da menina.

"A tia já volta, está bem? Fique aqui." 

HARESIS DEAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora