A cabana da clareira - parte 2

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Foi uma noite calma e incrível. Fizemos amor sob a luz das estrelas e uma pequena fogueira para assar nosso jantar, logo depois. A ordem dos fatores não alterava o produto e poderíamos repetir a dose, tínhamos a noite inteira só para nós dois!

De manhã, acordei antes do Gustavo porque estava com uma sensação horrível de estar sendo observada, e jurava ter visto uma silhueta do lado de fora. Esfreguei os olhos e, convicta, afirmei para meu cérebro que era só a sombra de um arbusto. Mas, é claro, não levantei para ver, fiquei acordada entre cochilos esperando pacientemente que o Gustavo acordasse.

Por sorte ele não dormia muito e, após tomar café, levantamos acampamento. Tínhamos dado uma olhada nos arredores e encontramos uma trilha praticamente invisível no mato, um achado e tanto. Provavelmente outras pessoas já haviam ido ao cume, mas como eram poucas viagens até lá a vegetação fez seu trabalho e cobriu o caminho, buscando de volta o que era dela.

Apoiando-nos em galhos, subimos a trilha vertiginosa que não devia ter mais que um metro de largura. Vez ou outra eu arranhava meus braços nos galhos e emitia um resmungo, mas meu Gustavo estava lá para me acalmar. Eu já estava imaginando a vista e as fotos para o meu Instagram quando deixei escapar um grito.

Tinha um bicho muito, muito grande - ou melhor, a ossada dele - perto de uma grande rocha à direita da trilha. Os restos de carne grudadas nos ossos à mostra estavam cobertos de vermes e as moscas rodopiavam em torno na carcaça. Segurei o vômito. Toda a empolgação estava mascarando o fedor real daquilo, que agora eu sentia com a força de um soco.

_ Deve ter morrido de velhice, fica calma.

_ Mas como caralhos um boi chegou aqui, Gustavo?! E como que foi velhice, o corpo tá mastigado! Olha ali perto da perna, dilacerado!

_ Quer descer agora, então? Já estamos quase no topo, pelo amor de Deus.

Estava na cara dele que ele estava perdendo a paciência.

_ Meu medo é que tenha algum animal violento aqui, que isso gere problemas pra nós.

_ Então vamos voltar e...

_ Não, tá. Vamos mais um pouco, mas se ficar perigoso descemos.

***

Puta merda, eles estão subindo. Que que eu faço agora?

Vou pegar minha arma, isso sim. Mais uma morte no meu histórico não vai ser nada demais, desde que a humanidade seja preservada. É minha missão. Se esses abusados chegarem perto do cume ou da minha cabana... Vou ser obrigado a dar um jeito.

***

Começou a chuviscar um pouco e o terreno ficou escorregadio, estava ficando complicado subir. Gustavo estava empolgado para conseguir chegar no topo e eu não queria tirar isso dele, mas eu estava começando a ficar realmente preocupada.

Cutuquei o ombro do Gustavo quando vi algo que me fez congelar: tinha uma porra duma cabana de madeira quase no topo. UMA. PORRA. DUMA. CABANA.

"Puta merda, tem mesmo", ele olhou, surpreso. "Mas quem será que mora aqui? Vamos lá perguntar?".

"Nem a pau, Gustavo. Vamos começar a descer AGORA".

"Mas cara, é só um morador como qualquer outro".

Ele tinha razão, mas depois do bicho morto e por estarmos num local tão isolado meu instinto de sobrevivência falou mais alto. Eu iria com ou sem ele. Virei as costas e comecei a descer, ouvindo os resmungos dele nas minhas costas.

Descemos com cuidado pela terra escorregadia. Mesmo a chuva estando fraca, pouco a pouco eu estava ficando encharcada e o vento do alto começava a me deixar com frio. E aquilo tudo estava me deixando irritada.

E o Gustavo também estava. Para piorar, eu estava começando a achar que estávamos perdidos.

***

Abri a porta. Vou descer atrás deles. Eles viram a cabana, não posso deixar que o mundo saiba desse lugar.

***

Olá, pessoas!

Hoje foi muito tarde, né? Mas as coisas estão esquentando! Esse foi curtinho mas foi de coração, hahaha.

Não esqueçam a estrelinha, ein!

Obrigado! <3

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⏰ Last updated: Dec 07, 2018 ⏰

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