Capítulo 20

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Naquele dia, eu não falei com mais ninguém, não queria ter que explicar sobre aquilo. Normalmente, eu não gostaria de falar sobre alguma coisa tão recente, mas dessa vez era diferente. Não era como se eu não quisesse falar sobre agora, eu não queria explicar isso pra ninguém em nenhum momento. Sentia vergonha, repulsa, nojo de mim por aquilo, meu choro era constante, eu sentia como se não houvesse alívio pro meu sofrimento.

Tive que sair do quarto pra Diana e Zoey não me verem chorando, fui até a entrada da biblioteca, poucas pessoas passavam por lá aquele horário, de qualquer jeito. Sentei nos degraus, em uma parte afastada. A ficha finalmente havia caido: eu gostava da Jade. Uma mulher. Eu gostava de mulher. De todas as pessoas do mundo que poderiam ser lésbicas, isso tinha que acontecer junto comigo.

Eu sinto que nada nunca doeu tanto dentro de mim antes, eu sentia decepção, nojo, horror, tristeza, até um pouco de raiva. Eu vou pro inferno, pensava vou queimar no fogo do inferno, eu não sou merecedora dos reinos dos céus. E meu pranto me tomava, parecia que a qualquer momento minhas lagrimas inundariam tudo ao meu redor, e eu me afogaria como uma forma de auto-punimento.

Senti meu celular vibrar, olhei pra tela, era a Jade ligando, recusei na hora. Tudo que eu menos precisava era ouvir a voz dela pra reforçar tudo aquilo. Limpei as lágrimas do meu rosto com as duas mãos, olhei pra meu celular no meu colo, ela me mandava várias mensagens, ignorei também.

Joguei minha cabeça pra trás, num suspiro. Meu celular não parava de vibrar, ela insistia em tentar falar comigo. Aquilo não podia ficar daquele jeito.

[11:06 PM]: Ei, Jade.

[11:06 PM] Jade: OI

Vc ta bem?!

Vc saiu assim do nada

Fiquei preocupada

[11:06 PM]: Você poderia parar de me mandar mensagens, por favor?

Eu não quero falar sobre isso, preciso de um pouco de espaço.

[11:06 PM] Jade: Ctzz???

[11:07 PM]: Absoluta.

[11:07 PM] Jade: ok... :(

Pd flr cmg se precisar

Desliguei a tela do celular e guardei-o. Respirei fundo, sentia meu coração batendo rápido, flashes dela sorrindo vinham em minha cabeça. Coloquei os braços sobre os joelhos e tentei chorar baixo, ou pelo menos o mais baixo que eu conseguia, minha respiração ia ficando ofegante. E tudo isso por que eu simplesmente não conseguia ser a droga de uma pessoa normal e gostar de homem. Eu me odeio, eu me odeio muito. Pensava.

Não havia quase ninguém ali naquele horário, mas mesmo assim, passaram duas meninas me olhando e cochichando, levantei e andei em direção ao meu dormitório, eu não queria ter que alem de passar por isso, ter que lidar com o julgamento alheio. Fui andando pela grama do campus, a temperatura começava a baixar, uma rajada de vento frio passou pelos meus cabelos, me encolhi e andei mais rápido até chegar ao prédio dos dormitórios.

Only God can judge youOnde as histórias ganham vida. Descobre agora