Capítulo 27

415 43 38
                                    

Não há nenhum ambiente em todo planeta que eu odeie mais do que hospitais. 

Quase não conseguia suportar de ansiedade quando o Denis ficou internado, aquelas paredes brancas e clima exageradamente pacato me incomodavam mais que tudo, parecia totalmente fora de lugar. Era como se toda aquela calmaria forçada fosse pra fazer com que as pessoas esqueçam da desgraça que acontecia ali dentro, como se aquelas paredes brancas gritassem pra mim "Olá, seu tio está morrendo em uma maca aqui. Por favor, mantenha a calma." e isso só me fazia entrar mais ainda em desespero. 

Todos esses sentimentos voltavam a minha memória sentada ali, em uma das cadeiras azuis do hospital com suas pinturas de flores nas paredes. Todos os nossos amigos estavam lá também, vieram aflitos quando descobriram o que aconteceu com Lorena. Eu chorava descontroladamente abraçada ao ombro de PJ, me sentindo culpada e por experiência própria, esperando o pior. 

— Eu disse que odiava ela, eu disse... — falei, aos soluços. — Não é verdade. 

— A gente sabe, Jade. — PJ consolou-me — A gente sabe.

— Como que isso aconteceu?! Pelo amor de deus, ninguém vai explicar?! — Diana protestou, desesperada. 

— Ela e a Sam tiveram uma discussão no banheiro, a Sam empurrou ela e ela bateu a cabeça na pia. — Zoey explicou, nem sei como ela sabia tanto se nem estava lá. 

— Cara, a Sam enlouqueceu de vez! — Chloe comentou, Robbie abraçado com ela também parecendo preocupado. — Ela não era assim, não sei o que deu nela! 

— Vocês podem parar de falar dessa maldita?! A gente tem uma situação séria aqui! — André reclamou, desesperado.

Olhei pra ele, seus olhos também cheios de lágrimas, o rosto inchado. Confesso que fiquei surpresa quando ele veio até aqui, chorava tanto quanto eu, parecia desesperado. Eu posso odiar esse idiota como for, mas que ele gosta dela ele gosta. Isso é fato.  

— Ela vai ficar bem, né?! — Zoey questionou, sugestiva. — Tipo, ela se machucou mas com certeza ela vai ficar bem, não vai? 

— Eu não sei. — declarei, a voz chorosa. — Ela tava sangrando muito quando eu encontrei ela... A gente teve que vir correndo. 

Um momento de silêncio pairou entre nós. 

— Só resta esperar agora, não tem nada que a gente possa fazer. — comentou Jenny, por fim. 

Me inclinei pra frente e coloquei as duas mãos no meu rosto, suspirei. 

Eu não acredito que isso está acontecendo. 

• • •

Acordei com torcicolo e uma dor latente nas costas, dormir em uma cadeira de plástico nunca é uma boa, mas não consegui simplesmente ir embora sabendo que ela estava assim. Esfreguei os olhos, estranhando a claridade, observei em volta. 

Eu não tinha sido a única, André também estava ali recostado em uma das cadeiras azuis, roncando e com seu cabelo antes perfeitamente arrumado em gel, bagunçado. Me levantei e fui beber uma água, ainda assimilando tudo que havia acontecido ontem a noite. Tentei imaginar se ela ficaria bem, e parei imediatamente quando os pensamentos ruins vieram, suspirei. 

Eu não queria ter acabado tudo com ela ontem, eu só... Tava tão magoada, parecia a única saída possível. Mas eu não tinha pensado racionalmente no quanto ela me faria falta, sabia que não seria fácil, mas ter que vê-la em um hospital com seríssimos riscos de não ficar bem só me fez perceber uma coisa: Eu não posso ficar sem ela. E nesse momento, temia que se algo acontecesse com ela, ela partiria achando que eu odeio ela. 

Only God can judge youOnde as histórias ganham vida. Descobre agora