Capítulo 21

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Thor estava sozinho ao leme de um grande barco vazio, no meio do oceano, as correntes o puxavam com uma velocidade tremenda. As velas estavam infladas pelo vento, apesar de não haver ninguém além dele no barco. Era um navio fantasma e ele permanecia ao leme, olhando para o horizonte que estava coberto por uma névoa sobrenatural. Tons dourados, amarelos e brancos faiscavam no sol da manhã.

À medida que a névoa se dissipava, a silhueta de uma ilha ia tomando forma. Ela parecia mais uma montanha que se erguia do mar do que uma ilha, seu único pico se elevava em direção ao céu. Ela se elevava mais alto do que qualquer montanha que Thor já tinha visto e na sua parte superior havia um castelo emergindo da rocha, construído na borda de um precipício. O céu era expansivo, cheio de tons de verde e amarelo pálido, uma enorme lua crescente se pendurava no seu canto. O lugar era estranho e místico. Parecia vivo.

Thor permaneceu ali, seu barco se agitava, de certa forma, ele não sentia temor. Ele sentia o oceano levando-o até a ilha. Ele sabia que aquele era o lugar ao qual ele estava destinado. Ele sabia que de alguma forma, seu destino o esperava lá. Aquele era o seu lugar. Aquele lugar, de uma forma estranha, era seu lar.

Thor não conseguia se lembrar de ter zarpado, ou de como tinha abordado aquele barco, mas ele sabia que era uma viagem que ele estava destinado a fazer. De alguma forma, aquele lugar tinha estado sempre em seus sonhos, em algum lugar lá no fundo, nos recônditos de sua consciência. Ele tinha a certeza de que sua mãe morava lá.

Thor nunca havia contemplado sua mãe antes. Durante toda sua vida tinham lhe dito que ela havia falecido no parto e ele sempre sentia uma enorme culpa por causa disso. Mas agora, enquanto ele se aproximava daquela ilha, ele sentia a presença dela. Ele sentia que ela estava esperando por ele.

De repente, uma onda enorme levantou o barco, ergueu-o cada vez mais alto no ar e Thor se encontrou subindo cada vez mais alto sobre o oceano. A onda ganhou velocidade como um tsunami e Thor navegou sobre ela durante todo o seu trajeto enquanto ela o levava velozmente em direção a ilha, cada vez mais rápido.

Quando ele chegou perto da ilha, ele viu uma figura solitária, de pé em cima de um penhasco. Era uma mulher. Ela usava vestes azuis esvoaçantes, seu rosto estava inclinado para baixo e as palmas de suas mãos estavam voltadas para fora. Uma luz intensa brilhava por trás dela, irradiando de suas palmas, fluindo como um relâmpago. A luz brilhava tão intensamente, que quando Thor olhou para cima, tentando vê-la, ele teve de proteger os olhos. Ele não conseguia distinguir o rosto da mulher.

Ele sentiu que era ela. Mais do que tudo, ele queria ver o rosto dela, para ver se ela se parecia com ele.

"Mãe!" Ele chamou.

"Meu filho." Disse uma voz suave que provinha de algum lugar. Era a voz mais gentil e mais reconfortante que ele tinha ouvido na vida. Ele desejou ouvi-la novamente.

De repente, a onda desabou e arrastou o barco para baixo junto com ela e Thor preparou-se enquanto se dirigia para as rochas.

Thor acordou com um sobressalto e sentou-se na cama, respirando com dificuldade.

A madrugada estava rompendo sobre o horizonte. Os membros da Legião dormiam espalhados ao redor de Thor. Sua mente dava voltas com o sonho: ele parecia tão real.

Quando Thor se orientou novamente, ele percebeu que aquele era o dia. O último dia da Centena. O dia que todos haviam estado temendo.

Ele se sentia cem anos mais velho do que era quando ele tinha chegado ali, cem dias atrás. Ele não podia acreditar que tinha conseguido, que aquele era o seu último dia. Seu tempo ali tinha excedido muito a sua imaginação. Cada dia tinha sido mais difícil do que o outro, cada treinamento mais cansativo, forçando seus irmãos cada vez mais duramente. Os dias haviam se tornado cada vez mais longos enquanto ele aprendia a treinar com todas as armas conhecidas — e com algumas até mesmo desconhecidas pelo homem. Eles tinham sido forçados a treinar em todos os terrenos possíveis, desde pântanos a geleiras e os comandantes tinham gritado com eles desde de manhã cedo até tarde da noite. Mais de um de seus irmãos havia saído da Legião e tinha sido enviado para casa sozinho em um pequeno navio. Muitos tinham sido feridos. Dois morreram acidentalmente, escorregando de um penhasco em um dia particularmente tempestuoso. Eles tinham enfrentado provações e tribulações juntos, todos lutaram contra monstros e sobreviveram a todo tipo de clima. Aquela ilha era implacável, seu clima tinha passado de quente para frio, sem aviso prévio, parecia que ela tinha apenas duas estações.

Um Destino de DragõesWhere stories live. Discover now