Capítulo 16

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Mallu

-Negativo, negativo, negativo... por favor, dê negativo. -Peço baixinho.

Fico calada quando o resultado começa a parecer. Não. Não. Não podia ser...

POSITIVO.

Eu estava grávida daquele monstro. O mesmo monstro que tem me matado todos os dias. Eu estava grávida da pessoa que mais odiei na vida.

Eu não conseguia chorar, não conseguia gritar, muito menos me levantar daquele chão frio. Não poderia ser verdade... eu sempre sonhei em ser mãe, mas ao saber que eu carregava um fruto dos piores dias da minha vida... tudo dentro de mim queimou.

Como eu contaria a minha mãe que eu estava carregando o fruto de um estupro que foi feito pela pessoa que ela ama e confia a vida?
A dor dentro de mim se alastrava, queimava e eu não podia fazer nada. Tudo em mim gritava e eu? Me mantive em silêncio.

Os minutos que passei dentro daquele banheiro parecia ser horas, e eu me sentia sufocada ao ver o rumo que a minha vida estava tomando... e tudo por minha culpa.

-Mallu? Você está bem? -Mel, a atendente, pergunta batendo na porta do banheiro.

-Sim... Já vou sair. -Digo pegando os dois testes e jogando no lixo.

Pego minha bolsa no chão e limpo minhas lágrimas saindo dali, antes que qualquer pessoa perguntasse o que havia acontecido.

Eu não sei como, mas eu cheguei na escola. Assim que pus os pés dentro do local, procurei ao máximo ficar quieta e de cabeça baixa. Assim que o sinal bateu, eu fui a primeira a entrar na sala de aula e a me sentar no lugar de sempre.

-Bom dia, turma! Hoje iremos falar sobre a segunda guerra mundial... abram na página cento e cinquenta e seis, e façam as atividades. -O professor diz, iniciando a aula.

É óbvio que eu não prestei atenção em nada que foi dito ali. A única coisa que se passava na minha mente, era o que eu iria fazer agora.
Uma parte de mim torcia para que fosse tudo revelado e que Ryan pagasse por tudo que fez.
Mas a outra parte de mim... tem receio do que está por vir. Só em pensar no que Ryan poderia fazer com a minha mãe, com Jul ou com... Liam. Meu coração se aperta.

-Mallu? Ou! Mallu! -Escuto Julie me chamar, e é aí que percebo que só havia nós duas na sala.

-Cadê todo mundo? -Pergunto, e então percebo que meus olhos estavam marejados.

-O sinal já bateu. -Ela diz. Antes que eu me levantasse, Jul segura meu braço, me impedindo de sair.

-O que foi? -Pergunto, me soltando da mesma.

-Me diz você... Mallu, você é estranha mas tem estado mais estranha ainda durante essas semanas. E hoje, você está estranha no nível máximo! Me conta, o que está acontecendo? -Ela diz.

-Nada, Jul... só estou com uma cólica chata. -Digo sentindo meus olhos marejarem e meu nariz arder.

-Confia em mim, Mallu! Me deixa te ajudar... -Ela pede.

A essa altura do campeonato, se eu abrisse a boca para falar qualquer coisa, eu já iria cair no choro. E não foi diferente.
Me joguei nos braços de Julie enquanto chorava e lamentava por ter que passar por tudo isso.

-Amiga... eu estou preocupada, me diz o que aconteceu? -Jul diz já com os olhos cheio de lágrimas.

-Eu não posso te contar... -Digo em meio ao choro.

-Mallu, eu prefiro morrer ao te ver nesse estado. Me conta o que aconteceu, amiga. -Ela diz me abraçando de lado.

Respiro fundo, tentando encontrar coragem para poder falar. Eu sabia que se só falasse que estava grávida ela não se daria por satisfeita. Ela iria perguntar... e eu não conseguiria mentir para minha melhor amiga.

Um dos meus maiores medos, além do que Ryan poderia fazer. Era ser julgada. Eu sei que tenho minha parecela de culpa, eu cedi. Eu poderia ter feito mais, porém o deixei me tocar.

-Julie... -Começo e ela faz um gesto para que eu continuasse. -Eu estou grávida.

-Como é? -Ela parecia chocada. -Já falou para o Pieter?

-Não... porque ele não é o pai.

-Como assim? Mallu, você...

-Não, não, não! -A interrompo antes que ela continue.

-Mallu... o que aconteceu de fato durante essas semanas? -Ela pergunta segurando minha mão.

-Julie... no dia do meu aniversário, depois que eu voltei para casa... -Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto. -A noite não acabou por ali... depois que eu cheguei em casa, Ryan já tinha chegado com a minha mãe e...

Sou impedida de continuar por uma crise de choro ao lembrar do pior dia da minha vida.

-Mallu... -Eu não precisei continuar para que Julie entendesse.

-Eu juro que eu tentei, Julie! Eu tentei de todas as formas, mas ele era mais forte do que eu! Eu não consegui... Eu deixei que ele encostasse em mim Julie! -Naquele momento Julie já chorava junto comigo. -Eu tentei, Julie.

-A quanto tempo...

-Há duas semanas aquela noite se repete, uma pior que a outra e agora... agora eu tenho um fruto dele dentro de mim! -A abraço ainda chorando.

-Amiga calma... nós vamos dar um jeito. -Sua voz sai falha.

-Nós não... eu não posso te envolver nisso, Julie! Não me perdoaria se algo acontecesse com você. -Digo limpando minhas lágrimas.

-Eu não vou te deixar sozinha nessa, Mallu! Não vou. -Ela diz e eu concordo, sabendo que ela não desistiria. -Sua mãe sabe?

-O que? Claro que não.

-Então você vai contar para ela e depois nós vamos até a polícia. -Ela diz limpando suas lágrimas também. -Eu prometo, que esse monstro vai pagar por cada lágrima que você derramou, por cada grito. Ele vai pagar pelo que fez, Mallu.

A Cor dos Teus Olhos Where stories live. Discover now