Capítulo 52

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Mallu

-Nós iremos abrir uma filial em Gettysburg, na Pensilvânia, conhece? -Meu chefe pergunta e eu concordo, já sentindo meu coração acelerar.

-Morei lá.

-Então, não acho que se importaria em administrar a loja de lá. -Ele diz e eu arregalo os olhos.

-Na verdade eu...

-Ótimo! Iremos providenciar tudo, e sua hospedagem durante seis meses, será por nossa conta. -Ele diz.

-Na verdade é que eu...

-Logo iremos te dar uma data. -Ele diz rapidamente e atende um telefonema.

Agora que eu estava recomeçando a minha vida... eu não podia voltar para lá. Não podia.

Assim que chego em casa, sinto meu estômago roncar, então pego uma maçã e levo até a boca, dando a primeira mordida. Meu estômago agradece mas da mesma forma, sinto uma ânsia me atingir. Faço um esforço e como a maçã até o final.

Pego o porta retrato dos meninos da minha vida, que estava em cima do móvel da sala, e começo a me lembrar de tudo o que passamos.

-Papa... Azul! -Bernardo diz sorrindo, e vejo que ele reparava nos olhos de Liam.

-Isso mesmo meu amor, azul! -Sorrio orgulhosa.

-O da sua mãe também é, olha! -Liam aponta para meus olhos e eu sorrio ao ver meu pequeno soltar uma risada fina.

-E os seus também são! -Sorrio.

-Eu tenho que ir trabalhar, amor. -Liam se levanta, passando Bê para meu colo.

-Já? -Sussurro entristecida.

-Já... mas hoje eu volto mais cedo. -Ele diz depositando um beijo na cabeça de nosso filho e logo em seguida, em meus lábios. -Eu amo vocês.

Talvez se eu não tivesse permitido que aquela cirurgia fosse feita, meu filho ainda estaria comigo. Eu ainda estaria ao lado de Liam e nós estaríamos felizes. Juntos.

Pego uma taça e coloco uma certa quantidade de vinho. Mal pude notar, quando já estava no final da garrafa.

-I'm sorry to my future love
For the man that left my bed
For making love the way I saved for you inside my head -Eu me lembrava de Liam a cada parte da música. Mesmo não estando mais com ele, eu sentia que estava o traindo. E que estava traindo a mim mesma.

-Momma, I'm so sorry I'm not sober anymore. -Começo a cantar baixinho. -And daddy, please forgive me for the drinks spilled on the floor
To the ones who never left me
We've been down this road before.

Eu sabia que, aos poucos, eu estava morrendo. Mas sabe quando você já não ligava mais para a sua existência? Era eu.

-Mallu eu... -Olho para porta onde vi Katherine parada. -Mallu...

-Eu sou um lixo... eu deixei que matassem meu filho, eu acabei com a felicidade do amor da minha vida... -Digo em meio as lágrimas.

-Não. Não. Não! -Ela corre até mim e se abaixa ficando na minha altura, já que eu estava sentada no chão. -Mallu, o que você está fazendo?

-Me matando... -Falo meio embolado. -Eu quero ficar com o meu filho.

-Mallu, o Bê está bem... e eu tenho certeza que ele não iria querer te ver assim. -Ela diz pegando a taça com vinho de minhas mãos e bebendo. -Vem comer.

Meu estômago roncava e eu tinha certeza que a minha pressão estava baixa, pois minha visão estava turva e eu me sentia fraca.

Eu não estava bêbada, longe disso. Durante esses anos, meu corpo se acostumou com o álcool, então somente uma grande quantidade me faria ficar bêbada.

-E como foi lá? -Pergunto dando a primeira garfada em meus legumes com carne.

-Tranquilo. -Da de obros. -A pior parte, é quando você chega na clínica... porque todos sabiam o que eu iria fazer e muitas pessoas não concordam com isso... mas o que muitos não entendem, é que isso é uma opção! Eu tenho o direito de decidir se quero ou não ser mãe.

-Você não deve satisfações para ninguém, afinal, ninguém iria te ajudar a criar essa criança. -Digo. -Você contou para o Henrique?

-Não. -Ela diz. -Dizem que quando você não tem coragem de contar algo para o seu melhor amigo, é porque você não deveria ter feito.

-Por que você não conta?

-Não sei... medo, talvez. -Suspira. -Eu quero ser uma pessoa melhor, perto do Henrique... Eu tenho medo dele me julgar...

-Me responde uma coisa. -Digo e ela assente. -De quem era o bebê?

-É... Do Henrique. -Ela diz e percebo que estava sem graça.

-Tudo bem... -Tanto a acalmar. -Ninguém pode te julgar.

-O que é isso? -Olho para trás e Katherine estava com um pequeno pacote com o pó que Pieter havia deixado à alguns dias atrás.

-É... -Me envergonho. -Não é meu.

-Tente enganar outra pessoa, porque eu te conheço mais do que você conhece a si mesma. -Ela diz jogando o pacote no lixo. -Por que está usando isso? Mallu, você não é disso...

-Você não pode falar de nada porque também fuma.

-É horrível depender de uma coisa para manter sua sanidade... eu não quero que você também passe por isso. -Ela diz se acalmando.

-Eu preciso... É a única forma que eu encontrei de ficar calma.

-Eu não vou te dar lição de moral... você já sabe muito bem o que faz. -Ela diz pegando a bolsa que estava em cima do sofá. -Preciso ir.

-Katherine...

-Eu te ligo. -Ela diz antes de sair pela porta.

Era como Pieter dizia... Eu estava sozinha. Literalmente.

Eu vejo a pessoa que eu tenho me tornado, e só confirmo o que achava. Eu estou no fundo do poço e a melhor coisa que fiz, foi salvar Liam dessa escuridão e livra-lo dos monstros que carrego comigo.

Eu o amo tanto, ao ponto de deixa-lo ir, mesmo querendo que fique.

A Cor dos Teus Olhos Where stories live. Discover now