A noite das meninas

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Toquei a campainha do apartamento dos Deacon e fiquei esperando que Veronica atendesse, tentando equilibrar as sacolas que eu carregava. Não demorou muito para que a sra. Deacon abrisse a porta.

- Oi! - Veronica me cumprimentou e logo estranhou minhas bagagens - pra que isso tudo? Não precisava trazer nada...

Eu aproveitei para entregar uma das sacolas a ela.

-E abusar da sua hospitalidade? - rebati e fui entrando - não é do meu feitio.

-E eu posso saber pra que é tudo isso? - Veronica cruzou os braços, se esforçando pra se manter séria enquanto queria rir.

-É que eu lembrei do pão de ló que minha mãe fazia - expliquei - nunca consegui fazer um tão bom quanto o dela, mas o meu dá pro gasto. E eu queria variar o nosso cardápio um pouquinho, uma coisa diferente de pizza.

-Eu não deveria comer tanto doce, aliás a senhora também pega no meu pé pra não comer doce - a sra. Deacon me lembrou.

-Mas hoje quero abrir uma exceção só pra mimar o nosso bebê Deacon! - eu sorri e falei num tom de voz animado, me aproximando da barriga da minha amiga pra falar com seu filhinho - se depender da tia Chrissie, você vai ser muito mimado!

-Não, não, isso é papo furado - Veronica riu - você é tão severa com os meninos, quem dirá com seu sobrinho, ou sobrinha, ou...

-Ou o que? - eu sabia com que palavra ela completaria aquela frase - quer saber? Deixa eu começar logo, assim o pão de ló vai estar pronto quando a Domi e a Mary chegarem.

Eu pus a mão na massa, literalmente, desembrulhando tudo que tinha trazido, e ficando à vontade na cozinha, enquanto Veronica assistia alguma novela na TV. Cozinhando a receita da minha mãe, e pensando no que Veronica iria falar, comecei a pensar de novo sobre maternidade. Ainda não tinha feito nem um ano que eu tinha me casado, por mais maternal que eu fosse, ainda não me sentia pronta e além disso, tinha outra coisa que me preocupava. Onde quer que eu fosse, se alguém conhecesse Queen, significava que também conhecia meu marido. Pensar na dimensão disso me dava medo. Eu tinha que aprender a lidar com isso antes de ser mãe, eu sentia a necessidade disso.

Mary e Dominique chegaram enquanto eu espalhava o recheio pela massa, e atraídas pelo cheirinho de doce recém saído do forno, foram direto pra cozinha.

-Se soubesse que ia cozinhar, tinha vindo mais rápido - Mary comentou ao ver o que eu estava fazendo.

-Ficou um pouquinho depois do horário hoje? - perguntei.

-É, sabe como é puxado trabalhar numa loja às vezes - ela disse com um ar cansado.

-Bom, parece que ganhamos uma boa recompensa pelo dia cheio de trabalho - Dominique sorriu ao admirar o pão de ló.

-Aqui, gente, vocês tão com uma lombriga tão grande que podem ficar com a vasilha do recheio, até ficar pronto - eu ri e entreguei a elas.

As três enfiaram um dedo indicador sem cerimônia dentro da vasilha, e lamberam o recheio. Pelas carinhas de hummmmmm, eu sabia que estava bom, quem sabe até tão bom quanto o da minha mãe. Coloquei a forma na geladeira, e decidi fazer um chá para acompanhar. Tanto eu quanto as meninas gostavam de camomila, era o meu favorito, embora ele nem sempre surtia o efeito esperado em mim. Ser ansiosa e preocupada eram partes essenciais de mim. Mas aquela era uma noite de calmaria e diversão.

-Acho que agora vou descansar um pouco - me sentei, e até estiquei as pernas sob a mesinha de centro - acho que só a Veronica teve um dia calmo.

-Ah eu sinto falta de trabalhar às vezes - ela disse pensativa.

Pelo olhar de ChrissieWhere stories live. Discover now