Alguém para amar

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Alguns dias depois, Veronica e Bobby foram liberados para voltar pra casa e nós nos revezamos para visitar o bebê outra vez, porque não tínhamos como nos cansar dele, ele se tornou rapidamente nosso xodózinho. Quando chegou a vez em que eu e Brian fomos visitar Bobby e seus pais, encontramos o pequeno em seu sono, que finalmente tinha chegado para o alívio de sua mãe.

-Confesso que essa é uma das partes mais difíceis - Veronica nos contou, parecendo cansada - nem sempre ele dorme a noite toda e nem o John consegue acordar pra acalmá-lo.

-Não tenho culpa de ter o sono pesado - justificou-se o papai - além disso, ele se acalma muito mais rápido com você.

-Não é verdade John, ele prefere seu colo ao meu na maioria das vezes - rebateu a esposa do baixista.

-Só pra poder puxar meu cabelo, isso sim - respondeu John.

-Talvez seja o jeito do Bobby dizer que está na hora do papai usar um corte novo - a sra. Deacon cruzou os braços.

-Ah mas você gostava de mim assim quando me conheceu - John deu um sorriso de lado.

-E eu amo ainda mais o dono do cabelo, não por causa do cabelo, entende, Johnny? - Veronica disse no mesmo tom dele.

Eu e Brian ficamos acompanhando aquela discussão como se acompanhássemos uma partida de ping pong, de olho no movimento da bolinha. Ele então me olhou como me dizendo "você nunca vai me mandar cortar meu cabelo, né?", no que eu respondi "de jeito nenhum, eu amo seus cachinhos".

-Meu bem, depois a gente decide isso, deixamos as visitas boquiabertas - John riu do nosso estado - vamos voltar a ser adultos, pra variar um pouco, já que a criança da casa está dormindo.

-Verdade - concordou Veronica - então Chrissie, agora é a assistente do seu marido, o que tá achando do trabalho?

-Um pouco difícil - confessei - mas gratificante, porque aos pouquinhos eu estou vendo que dou conta do recado, sabe? Não estou me achando por isso, é só que, estou surpresa por ter conseguido.

-Você se menospreza muito sabia, sra. May? - John sorriu pra mim - você sempre consegue achar uma solução nas horas mais difíceis, e faz isso sem perceber.

-É mesmo? - eu fiquei sem graça com o elogio - bom, obrigada por notarem e... eu fico feliz por poder ajudar.

-Só tem que aprender a aceitar nossa ajuda também quando precisa - acrescentou a sra. Deacon - sabe aquelas suas escapadas depois dos shows? Estava me segurando pra não te perguntar o que era aquela pressa toda, mas não iria te pressionar, só ia te fazer mais mal ainda, por isso fiquei muito aliviada por te ver melhor ultimamente, Chrissie.

-Deu pra perceber, né? - eu suspirei, mas me senti tranquila na presença dos meus amigos - eu não sei se vocês já se sentiram assim, eu acho que já, incomodados com a fama do Queen, ou o que a mídia fala sobre a banda...

-Ah com certeza - John cruzou os braços e assentiu - mas sabe de uma coisa, Chrissie? Eu não ligo pra nada disso! Porque no cotidiano, quem eu realmente sou, quando estou com a Veronica ou com vocês, é isso que me importa. Não consigo me ver como o que as pessoas falam. Eu mesmo não consigo me ver como um astro do rock, nem tenho cara disso. Eu sou só John Deacon, o baixista, fazendo meu trabalho, tocando com os meus amigos porque é o que eu amo fazer. E é assim que eu vou levando tudo isso.

-É o que eu aprendi nesses anos também - Brian concordou - por mais que eu ainda fique surpreso em ser reconhecido na rua, ou ter que autografar coisas que as pessoas pedem, essa ainda é a parte boa, já a parte ruim, por mais que doa às vezes, você tenta ignorar, e quando foca no que é importante, no trabalho, em quem amamos, não te incomoda mais tanto assim.

-Verdade - eu sorri pra ele, e Brian colocou um braço ao redor dos meus ombros - não podemos esquecer nunca disso.

-É, nós ainda somos Veronica Deacon, professora, e Chrissie May, a assistente - reafirmou Veronica, enquanto meu coração ficava aliviado e agradecido por eu não ser a única a estranhar as consequências do sucesso.

Os meses seguintes foram agitados pelo planejamento do casamento de Roger e Dominique. Ele queria algo grande e marcante, mas não tinha a mínima paciência pra acertar todos os detalhes, já ela acostumada com o jeito impaciente que o noivo tinha às vezes, mais sua incrível habilidade de organização e improviso com imprevistos inusitados, tomou conta de tudo como uma profissional, mas também deixando transparecer que era uma noiva muito animada e feliz por estar planejando o próprio casamento.

Outra coisa que precisou ser organizada foram as músicas para o novo álbum do Queen, o que significava que os meninos se esforçaram mais uma vez para compor. E eu, como sempre, ficava encantada ao admirar Brian compondo. Dessa vez, parecia que ele queria se superar, ou talvez, fosse só por estar inspirado mesmo, inspirações diversas que ele tinha encontrado em coisas tão diferentes, como genocídio, jovens inconsequentes, viagens pela estrada afora e até uma homenagem fofinha aos fãs do Japão.

Gravar um novo álbum significava acompanhar o Queen nos estúdios, o que era uma coisa que eu sempre gostei de fazer, e ao observá-los trabalhando, minhas lembranças me levavam até os tempos em que usavam um estúdio de madrugada, porque era o único horário que tinham, que suas economias permitiam pagar. E olha só onde estávamos agora... esses momentos me enchiam de orgulho e satisfação.

Houve uma canção em particular que me deixou emocionada ao vê-la ganhar vida no estúdio. Os meninos eram muito sérios quando se tratava de remixar a versão final de uma coisa, principalmente quando era uma canção de sua própria autoria.

Dentro da cabeça de cada um, eles sabiam exatamente como a música ficaria pronta, mas até chegar lá, tirando-a do plano das ideias e trazendo-a ao plano real, tinham que percorrer um longo caminho, o que geralmente causava um atrito aqui e ali, mas no fim, os meninos conseguiam chegar num acordo.

Vendo-os gravar os back vocals para "Somebody to Love" de tão pertinho me causou arrepios. Era incrível ouvir a parte lírica de "Bohemian Rhapsody", mas ver aquelas mesmas vozes ao vivo, mesmo em outra canção, trazia uma sensação diferente. Algo especial sobre o Queen é que eles sempre expressavam ao extremo o que cantavam, e pra mim era exatamente isso que tocava os fãs.

Quando Freddie cantou a parte principal da canção, senti o desespero, a preocupação, a solidão. Ele continuava não dividindo seus sentimentos conosco totalmente, mas pelo teor da música, era como se sua busca por aprovação fosse constante. E eu sentia que era isso mesmo.

Acabei sendo uma manteiga derretida mais uma vez e chorando conforme os meninos cantavam. Eu não me sentia mais assim como a música descrevia, mas já tinha me sentido sozinha antes na minha vida, e agora eu me sentia amada. Acho que as lágrimas eram de gratidão por ter encontrado esse amor.

Ao final da sessão, Brian veio correndo ver o que eu tinha.

-Tá tudo bem, Chrissie? - ele enxugou minhas lágrimas com as pontas dos polegares enquanto segurava meu rosto.

-Tá sim, só... - consegui sorrir - me emocionei com a letra da música, eu... Encontrei alguém pra amar.

-E eu também - ele me deu um abraço, me fazendo encostar a cabeça em seu peito - você! Eu amo você.

-Te amo, Brian - disse baixinho, pra que só ele escutasse.

Antes que começassem a nos chamar de melosos, nos desgrudamos, afinal ainda tínhamos trabalho a fazer.


A/N: Oi gente! O capítulo de hoje deu uma leve demoradinha, foi mal! Passei por uns perrengues, mas como sempre, essa fic sempre me ajuda esquecer os problemas. Bom, esse capítulo foi mais pra estabelecer algumas coisas que vão ser importantes daqui pra frente. Pegaram as referências das músicas do Brian e que álbum estão gravando? Qualquer dúvida pode me perguntar. Quero dar um spoiler do próximo capítulo pra deixar vocês felizes: vai ter casamento Rogerique meu povo! Enfim, espero que tenham gostado e até a próxima!

Pelo olhar de ChrissieWhere stories live. Discover now