O estouro

134 8 14
                                    

Eu tinha acabado de chegar do trabalho, deitando no sofá da sala para tentar recuperar as energias quando ouvi Brian abrindo a porta com certa raiva. Me sentei devagar, já me preparando pro pior.

-Está vindo de onde, Bri? - eu olhei pra ele, confirmando minha suspeita de ele estar bravo e tentei deduzir o motivo - e o que foi que aconteceu?

-O Ray Foster disse que não vai lançar "Bohemian Rhapsody" como single! - ele pôs uma mão na testa e suspirou - todo mundo decidiu que queria Bo Rhap, mas ele preferiu "I'm in love with my car"!

-Ah não, agora entendo porque você tá irritado, e com razão! - me agitei um pouco diante do que Brian contou.

-Mas não foi só isso que aconteceu - Bri se acalmou um pouco - cancelamos o contrato e... Freddie quebrou a janela do escritório do Foster jogando um tijolo!

-O que? - não sei se ria ou ficava preocupada - e como é que ficam as coisas agora?

-John e Jim decidiram que nós mesmos vamos lançar o álbum por conta própria - ele não parecia tão seguro da decisão - vamos ver o que acontece.

-Só nos resta ter esperança - tentei manter o otimismo.

Freddie conseguiu que Kenny Everett divulgasse "Bohemian Rhapsody" no rádio, tocando-a quase que ininterruptamente durante vários dias. A crítica massacrou a canção, mas o público tinha uma opinião bem oposta. Bo Rhap se tornou uma das músicas mais ouvidas do país durante semanas.

Isso tinha acontecido com "Killer Queen", mas com "Bohemian Rhapsody" era diferente, quem gostava dela era por ter sentido o mesmo que eu quando a ouvi pela primeira vez. E onde se fosse, se tivesse alguém comentando sobre música, Bo Rhap estava no meio do assunto. Escutava-se entre eles o cantarolar de "Mama, oo oo ooh", " Galileo! Galileo! Galileo, Figaro, Magnifico..." e "Nothing really matters to me...". Vendo toda essa repercussão, percebi que as pessoas não associavam a canção diretamente a Brian, John e Roger, mas ao Queen e a Freddie.

Isso até eu ver alguns alunos na escola analisando "Bohemian Rhapsody" e porque ela era tão boa. Escutei uma aluna defendendo os solos de guitarra com todas as forças, de como eles eram importantes, o que me fez sorrir de orgulho por Brian. Isso até ela começar a descrever meu marido, seu nome completo, sua idade, como tinha criado a Red Special, e ver o quanto ela sabia me assustou um pouco. Mas esse susto não se comparava com situações que ainda estavam por vir.

Era um sábado de manhã quando eu e Brian fazíamos as compras do mês no mercado do bairro, ninguém nunca o reconheceu ali como o guitarrista do Queen, apenas o sr. May, ou Bri, famoso ali apenas pela cabeleira cacheada. Estávamos no corredor decidindo o que levar quando ouvi um burburinho do outro lado.

-É ele, é ele sim! Tenho certeza... - ouvi alguém dizer com entusiasmo.

-Não, não pode ser... - respondeu outra voz e vi uma movimentação ao nosso redor - ai meu Deus! É ele mesmo!

E depois disso dois rapazes vieram ao encontro do meu marido, empolgados, mas se segurando para não serem invasivos.

-Desculpa, mas você é o Brian May, não é? - um deles perguntou enquanto eu me afastava um pouco.

-Sou eu - Brian tentou conter o constrangimento e apenas sorriu de forma simpática.

-Por favor, pode nos dar um autógrafo? - pediram e logo atiraram um pedaço de papel e  uma caneta no rosto do meu marido.

Ele deu outro sorriso sem graça e assinou, enquanto os rapazes enchiam ele e o Queen de elogios.

-Valeu, valeu mesmo! - disseram eles e tão logo como surgiram, saíram.

Pelo olhar de ChrissieWhere stories live. Discover now