I miss you when the lights go out

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Era muito doloroso para Jorge pensar que sua esposa talvez não o amasse mais, ele passou algumas horas sentado no sofá do seu escritório se perguntando como a situação tinha chegado a esse ponto. Desde que havia esquecido o aniversário de casamento não tinha mais dormido no mesmo quarto que a sua mulher, dormia no quarto de hóspedes quando tinha certeza que as suas filhas estavam dormindo. Não queria incomodar a Silvia que estava bem calada desde o ocorrido. A princípio, ele quis acreditar que ela estivesse só reagindo de forma emotiva e que ele estivesse dando muito importante ao incidente, mais do que ele merecia. No entanto quanto mais refletia sobre o assunto, mais podia sentir não apenas o desagrado dela com o cônjuge, mas vestígios de uma melancolia antiga.

Será que o casamento tinha se mostrado uma decepção para Silvia? Salinas se perguntou sem querer acreditar naquela hipótese. Será que ela se sente satisfeita por ter se casado comigo? Aquilo parecia assustador de se pensar, principalmente as respostas para aquelas perguntas, pois até então ele sempre imaginou que a esposa estivesse tão realizada quanto ele. Jorge realmente não tinha motivos para reclamar, para ele seu casamento era perfeito, mas aparentemente era só na sua cabeça que a aquela perfeição existia.

O que teria levado ele a ser tão discrepante em relação a esposa?

Eles eram diferentes sobre todos os aspectos e mesmo acreditando que os opostos se atraem, Jorge sempre teve a sensação de que fora ele quem fez a melhor escolha no dia do casamento. Afinal, Silvia era o tipo de pessoa que o encantava pois sempre quisera ser como ela. Ele é sério, tímido e racional, ela é extrovertida, alegre e amável, uma pessoa que cativa a todos ao seu redor, dona de uma empatia natural que a tornava mais encantadora ainda, tinha um riso fácil e uma grande quantidade de amigos. Já Jorge só tinha a ela e a sua mãe, era as duas únicas pessoas que ele confiava e considerava amigas. As vezes ele achava que se a esposa não tivesse entrado na sua vida ele acabaria como o cara solitário que depende da mãe para tudo, se ele era esse empresário bem sucedido era graças a ela.

O fato de Silvia demonstrar suas emoções com a espontaneidade de uma criança sempre o encantou, quando esta triste, ela chora, quando esta feliz, ri, e o que ela mais gostava era de ser surpreendida por gestos maravilhosos quando não tinha motivos para surpresas. Nessas horas ela adquire um ar de inocência e embora uma surpresa seja algo inesperado, para Silvia a simples lembrança de um acontecimento feliz é capaz de despertar a mesma sensação de alegria experimentada da primeira vez.

- Jorge - disse a castanha entrando no escritório e o surpreendendo - Eu preciso conversar com você.

Ele ergueu o olhar a  encarando. Silvia vestia uma camisola que ele conhecia bem, pois ele mesmo tinha comprado pra ela há anos atrás. Seu olhar era apreensivo.

- Sim?

- Eu queria te avisar que estou pensando em ir para Los Angeles visitar o Kenny, vou ficar na nossa casa lá... - após dizer aquilo a castanha teve quase certeza de ter visto o marido revirar os olhos.

Não gostava nenhum pouco do amigo da esposa, sempre ficou evidente para o empresário que os sentimentos de Kenny por Silvia iam além da amizade. Mas com a crise em que seu casamento se encontrava uma viagem faria bem ao casal.

- Vai ser ótimo, eu adoro aquela cidade e faz tempo que não vamos lá.

A castanha engoliu em seco.

- Bom, você anda muito ocupado com a empresa e é difícil pra você conseguir viajar.

- Não se preocupe com isso, irei convocar uma reunião com os sócios amanhã cedo, e vou fazer de tudo para conseguir pelo menos duas semanas de folga.

- Jorge...

- Quando você quer ir?

- Não, Jorge - disse ela, então respirou fundo - Você não vai comigo, eu gostaria de viajar sozinha, sem você.

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