I miss you

We play so dirty in the dark

Quando a luz da manhã começou a entrar pela janela, os dois acordaram abraçados e fizeram amor mais uma vez, devagar, com delicadeza e a paixão que sentiam um pelo outro. Depois permaneceram deitados, abraçados, até que Silvia pegou novamente no sono. Começará a chover pouco depois que a castanha acordará, dessa vez sozinha na cama. Ela agora olhava pela janela do quarto do marido, seus olhos passeavam no imenso jardim da casa da sogra, seus pensamentos perdidos na noite anterior, "que loucura". Depois de alguns minutos ela sentiu o cheiro de bacon enquanto descia a escada, podia ouvir a risada da filha caçula e a voz de Samantha vindo da cozinha, que foi para onde ela caminhou. A jovem usava um avental florido enquanto cozinhava e contava piadas para Annie que estava sentada em cima da mesa sorrindo.

- Bom dia - a castanha disse caminhando até a caçula para depositar um beijo em seu rosto, em seguida foi até a outra filha e beijou seus cabelos - onde está o seu pai?

- Saiu e não disse pra onde... Está quente! - Sam exclamou quando percebeu que Annie estava prestes a colocar a mão no prato que ela acabará de colocar sobre a mesa - Deve ter ido resolver algo na empresa, você sabe, ele não consegue desligar do trabalho por muito tempo, essas duas semanas devem ter o matado.

- Claro, trabalho em primeiro lugar - disse Silvia de forma irônica, mais para si mesma do que para a filha, que a olhava confusa, estranhando o tom de voz da mãe - e a sua irmã?

- Dormindo - Anne quem respondeu, lambendo seus dedos que estavam cobertos de mel.

- Tira os dedos da boca meu anjo.

Depois do café da manhã, a castanha se juntou as filhas e a sogra na sala de estar, checando seu telefone em buscar de alguma mensagem do marido, mas sem sucesso. Silvia estava distraída quando escutou Norma chamando seu nome.

- Sim.

- Chegou essa caixa pra você - a senhora caminhou com uma caixa enorme na mão, até a castanha - é do Jorge.

Silvia sorriu assentido e saiu em direção às escadas, entrando no quarto do marido e  colocando a caixa sobre a cama, abrindo a mesma e se deparando com um vestido verde e uma carta.

"Meu amor.

O dia está amanhecendo, estou sentado em frente a minha escrivaninha e, a não ser pelas batidas do relógio, a casa está silenciosa. Você nesse momento está dormindo  e apesar de ansiar pelo calor do seu corpo contra o meu, algo em mim insiste para escrever essa carta, embora não saiba por onde começar. Após 20 anos de casados, faz mesmo tantos anos? Ainda me lembro como se fosse ontem o momento em que te vi vestida de noiva. Estava linda. Afinal, algumas coisas não mudaram.  Pela manhã, por exemplo, meu primeiro pensamento ao acordar é você, como sempre, muitas vezes fico deitado ao seu lado apenas te admirando. Às vezes, quando você está sonhando, chego mais perto na esperança de que talvez isso me faça entrar nos seus sonhos. No final das contas foi assim que eu sempre me senti em relação a você. Durante toda a nossa vida juntos, o nosso casamento, você, Silvia, foi um sonho pra mim.

Nunca vou me esquecer de como me senti um homem de sorte desde aquela primeira vez que nos beijamos, lembro-me frequentemente da sensação que senti ao ter seus lábios nos meus. É uma sensação que nunca me abandonou. Nessas horas meus pensamentos voam, parece que estamos começando outra vez e chego a sentir meu coração acelerar, quando lembro do meu eu passado, tendo um vislumbre do seu próprio futuro e sem conseguir imaginar a vida sem você.

Quase todas as lembranças que me vêm à mente provocam essa mesma sensação. Quando penso no Natal, eu a vejo sentada debaixo da árvore, feliz, entregando os presentes das crianças. Ao pensar em noites de verão, sinto o toque da sua mão na minha enquanto caminhamos sob as estrelas. Até mesmo no trabalho, não raro me pego olhando para o relógio e imaginando o que você estará fazendo naquele exato instante. São coisas simples – posso visualizar seu rosto meio sujo de terra quando você está no jardim, ou o jeito como você se encosta na bancada, passando a mão pelos cabelos enquanto fala ao telefone. Achoque o que estou tentando dizer é que você esteve presente em tudo o que eu já fiz na vida e, olhando para trás, sei que deveria ter lhe dito mais vezes quanto você sempre significou para mim. Sinto muito por não ter feito isso, assim como lamento cada ocasião em que a decepcionei. Gostaria de poder mudar o passado, mas ambos sabemos que isso é impossível. No entanto, comecei a acreditar que, ainda que o ontem seja inalterável, podemos vê-lo de outra forma, por isso o vestido. Você estava usando um parecido quando te vi pela primeira, uma imagem que jamais vou conseguir esquecer, e gostaria que você usasse esse hoje a noite. Começarei a ser mais romântico e aproveitar todo o tempo que desperdicei.