future project

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O androide era simplesmente incrível. Da cabeça aos pés se parecia com o verdadeiro Im Changkyun que um dia já esteve naquela oficina, gargalhando e tropeçando em sucata espalhada pelo chão. A voz e a personalidade pareciam idênticas, até mesmo tinha um dispositivo especial que regulava a temperatura no corpo, o fazendo parecer ainda mais um humano ao toque. Kihyun não acreditava ser capaz de criar uma máquina tão perfeita como aquela com apenas vinte e cinco anos, mesmo na realidade estando em um estado crítico de exaustão.

Não sabia muito bem como reagir, seu estômago revirava quando se questionava se aquilo na sua frente não estava mesmo vivo. Era impossível que não estivesse vivo, mas como todas as maravilhas da era digital não passava de engrenagens. O androide sozinho caminhou pela oficina a observando por todos os cantos, afinal o upload de "memória" feito nele era da época em que o real Changkyun estava vivo, e tudo organizado como antes. Sua postura era incrível e seus movimentos firmes e exatos, a única coisa impossível de se tirar de uma máquina.

Kihyun sentou-se no sofá, apoiando os cotovelos nas coxas. Esfregou a mão em seu rosto tentando digerir tudo aquilo e manter seus olhos abertos, mas as próprias mãos tremiam denunciando sua ansiedade. Não tirava os olhos do androide, ficando em guarda a todo o movimento que ele fazia. Principalmente quando se aproximava dele, acreditando que de alguma forma a máquina poderia o atacar. Sendo que a única coisa que o afetava mesmo era o fato de ter o criado tão perfeitamente.

— Então... por que me trouxe de volta? — o "metálico" perguntou, analisando algumas peças depositadas na mesa digital em sua frente.

— Eu não te trouxe de volta — Kihyun tomou coragem em falar, estava na defensiva — Você é só um substituto que eu mesmo criei, nada mais que isso.

— Sentiu minha falta? — Changkyun androide sorriu, caminhando lentamente até perto do humano e parando em sua frente — Eu senti sua falta, Kihyunnie.

— Cale a boca! — Kihyun ergueu o tom da voz drasticamente, batendo os punhos no sofá — Você não sentiu nada, você é só a porcaria de uma máquina que eu mesmo criei. Com as minhas próprias mãos. Você é incapaz de sentir qualquer coisa, androide estúpido. Você nunca vai ser ele! Nunca vai ser o meu Changkyun de verdade!

Yoo Kihyun queria parecer ameaçador enquanto gritava mas as lágrimas desesperadas descendo em suas bochechas o fazia fraquejar. Estava instável e exausto demais para aguentar mais um minuto se quer daquela tortura que havia armado para si mesmo. Levantou, empurrando o androide para trás pelos ombros. Pegou seu casaco no balcão e saiu da oficina, a trancou por fora e abandonou o falso Changkyun para trás, sozinho em seu novo mundo.

Correu pelos becos até sair nas ruas principais, sendo encharcado por uma chuva gelada que era típica das noites da época em Synthwave. Encontrou um dos táxis, mostrou o A+ gravado em seu pulso e rapidamente foi levado de voltar para o seu apartamento como todos os da elite eram tratados. Subindo ao prédio, ao sair do elevador, topou com a figura de Lee Jooheon em frente a porta de seu apartamento. Nesse meio tempo ele havia mudado, abandonado os cabelos vermelhos descontraídos pelos sóbrios pretos casuais que destacavam seu olhos.

— O que você está fazendo aqui? — Kihyun ergueu a mão direita e passou a palma sobre a porta de metal na altura do peito, se abrindo imediatamente ao reconhecer os sensores implantados em sua pele. Tentou escapar entrando antes do outro, que foi mais rápido e segurou a porta com as mãos — Me deixe em paz, Jooheon.

— Não mesmo, você vai me ouvir hoje. Não importa o quanto você me trate com gigante descaso, mas ainda sim estarei aqui pronto para te ajudar. Sabe porquê? Porque eu sou seu amigo, mesmo que talvez eu não seja seu.

Kihyun ao ouvir aquilo sabia que não importava o que falasse Jooheon não o deixaria em paz. Suspirou e deixou o outro rapaz entrar pela porta e dividir o apartamento consigo. Logo a mesma se trancou e Yoo foi até a parede com uma tela digital, onde digitou uma sequência de números que comprovava que era mesmo o dono do apartamento. Lee se surpreendeu com o que viu: era tudo em conceito aberto, o único local que possuía portas era o banheiro. Um pouco mais animado sentou-se na cama do outro e observou a incrível vista de duas paredes inteiras de vidro com isolante exterior. Toda a região central de Synthwave era visível dali.

— O seu gosto para apartamentos é incrível mesmo, como imaginei — Jooheon o seguia com os olhos enquanto ele ajeitava suas coisas espalhadas — Onde você estava?

— A quanto tempo estava me esperando? — Kihyun perguntou ao sentar-se na mesa de jantar que ficava cerca de um metro e meio de distância da sua cama grande de casal, que era tão vazia quanto nunca.

— Perguntei primeiro. Me responda — Jooheon observou o Yoo minuciosamente. As olheiras abaixo de seus olhos o deixavam mórbido e a pele amarelada indicava que não estava comendo direito faziam dias — Não me diga que estava lá de novo...

— Você sabe que eu precisava ir! — Kihyun bateu as mãos na mesa e abaixou seu rosto, evitando olhar para o outro — Não faz ideia como eu me sinto com tudo isso... Quando eu volto lá, é como se ele estivesse aqui comigo de novo. Eu daria tudo o que eu tenho para trazê-lo de volta, não me importo com a classe A+ ou com a porcaria da Offworld. Ele era tudo para mim e me tiraram isso, pelo simples fato de que ele ainda era só um classe C e injustamente foi mandado para aqueles distritos horríveis...

— Faltam mais ou menos um mês para fazer um ano que isso já passou, Ki. Precisa superar de uma vez por todas — Jooheon caminhou até o amigo e tocou seus ombros carinhosamente — Foi uma injustiça imensa que fizeram com ele mas agora já aconteceu. Você precisa sair desses estágios de perda de uma vez por todas. Estou aqui com você para o que precisar.

Um sentimento de culpa invadiu Yoo Kihyun naquele momento. Além de ser um péssimo amigo para Jooheon estava escondendo um segredo dele também. Estava desesperado por ajuda quando tomou a decisão de se abrir com o amigo antes que as coisas ficassem críticas.

— Heon, você se lembra daquele nosso projeto do androide realista perfeito? — Kihyun alcançou e segurou as mãos de Lee Jooheon — Eu dei continuidade nele...

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