Crystal.

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 ''-Olá linda, como você está? Precisamos conversar a respeito de uma certa coisa, acho que irá gostar. ''

 Não, não o conhecia; e na mínima hipótese de conhecê-lo, não me recordava dos seus traços físicos: o indivíduo é magrelo e alto, os cabelos são curtinhos e pretos. Traja uma vestimenta casual e óculos escuros, entretanto, não aparentava ser um alguém intimidante.

 — Sou-lhe toda ouvidos, senhor...? — A minha curiosidade era refletida na voz, assim sendo possível notar que estava interessada no que o outro proferiria.

 — Por favor querida, me chame de 'Crystal.

 Crystal, esse nome definitivamente não me era estranho, ainda que não lembrasse onde havia escutado. Notando a minha expressão facial confusa o estranho voltou a explicar-se.

 — Sou 'Chris Taylor, ou simplesmente conhecido como técnico de bateria do Roger Taylor, também seu amigo. — Imediatamente, arregalei os meus olhos quando ouvi o nome, tapando minha boca com as mãos. Ele deu uma gargalhada de forma pausada, divertido com minha patética reação. — Lhe vimos no palco e admiramos o seu trabalho, então Roger pediu-me a vir até aqui para oferecer uma proposta digna. Nós queremos que você atue em um videoclipe do Queen.

 É óbvio que isso é uma mera brincadeira barata, provavelmente foi Eddard quem tinha planejado tudo. Afinal de contas, ele sabe como ninguém o quão sou fã das músicas da banda, apesar de não conhecer muito sobre os integrantes.

 Até porquê, o que diabos um baterista mundialmente famoso deseja com alguém tão simples quanto eu? E por que o homem está exatamente nesse mesmo teatro hoje? Parece-me uma história ficcional, que não possuí coerência.

 Esforcei-me para não o mandar ir tomar naquele lugar, sendo educada e não xingando-o. O pobre homem não merecia, já que deveria estar fazendo isso somente pelo dinheiro fácil. O compreendia, caso estivesse em sua pele também aceitaria o ''trabalho''.

 — Veja cara, tive um dia bastante cansativo e preciso com urgência de ir tirar uma belíssima soneca. Comente com o Edd que quase acreditei nesse teatrinho, porém felizmente, não sou tão ingênua assim. Boa noite.

 Quando estava prestes a abandonar o cômodo Crystal pegou de forma delicada o meu braço, impedindo-me. Logo retornando ao seu discurso:

 — Isso não é uma brincadeira, Emmanuelle Carpentier. Viu!? Realmente assisti à sua peça, se não como saberia o nome da sua personagem, querida? — Bingo! O homem tinha a minha preciosa atenção voltada para si mesmo novamente. — Não o pedi para vir cá, porque obviamente você teria um ataque fangirl então isso consequentemente despertaria atenção indesejada. Caso não queira conversar hoje e resolver as coisas com o seu parceiro, ligue para esse número depois. Nós aguardamos ansiosos a sua resposta, beautiful girl. — O outro entregou-me um cartãozinho com o que deduzi ser o seu número de telefone... essa confusão estava começando a ficar intrigante.

 Despedimos-nos com um aperto de mãos, logo, caminhei até o estacionamento no intuito de voltar para minha confortável residência. Os meus batimentos cardíacos estavam acelerados e a minha vontade era de gritar, apesar de que não confiasse fielmente no que havia ocorrido.

 Adentrei o velho Volkswagen Fusca, girando as chaves na engrenagem, em seguida ligando o veículo. No porta-luvas peguei um cd aleatório, ''Sheer heart atack'', botando-o para tocar no carro. Passei as músicas até encontrar Killer Queen, uma das minhas preferidas do álbum.

She keeps Moët et Chandon

In her pretty cabinet

Let them eat cake, she says

Just like Marie Antoinette

A built-in remedy

For Khrushchev and Kennedy

At anytime an invitation

You can't decline

Caviar and cigarettes

Well versed in etiquette

Extraordinarily nice

 Quanto mais o excepcional vocalista Freddie Mercury cantava, mais empolgada sentia-me com o que tinha acontecido há dez minutos atrás, ansiando para que não fosse apenas enganação.

She's a Killer Queen

Gunpowder, gelatine

Dynamite with a laser beam

Guaranteed to blow your mind

Anytime

Recommended at the price

Insatiable an appetite

Wanna try?

 Em aproximadamente vinte minutos alcancei a minha casa, ao instante que entrei no meu quarto retirei os sapatos, vestindo uma confortante camisola, arremessando-me no colchão forrado por um lençol vermelho. [...]

-...não, isso não foi armação minha.

 Quando o dia amanheceu, marquei desesperadamente um encontro com Eddard para quietar as minhas dúvidas. Nós nos encontramos em uma cafeteria perto da sua residência, no momento que nos sentamos lhe contei detalhadamente o que tinha se passado na noite anterior.

 Ao escutar a resposta desejei comemorar, entretanto, ao invés disso me levantei apressada soltando um ''obrigada, eu te amo'', antes de voltar correndo para o meu querido lar. O meu acompanhante ficou com um semblante engraçado no rosto, como se não esperasse a reação inusitada.

 Apenas estacionei o Volkswage na garagem e disparei-me até a sala, pegando o telefone do gancho, enquanto procurava pelo cartãozinho na minha bolsa. Disquei os oito números com os meus dedos trêmulos, não demorara para alguém atender (cujo reconheci a sua voz).

 — Eu aceito, eu aceito a proposta! — Comentei eufórica, impedindo o outro de questionar quem lhe telefonava às exatas nove horas da manhã.

 O homem se lembrou do meu timbre sonoro e soltou uma risada, respondendo:

 -Sabia que você não iria recusar, sweet lady. É uma oportunidade única! Enfim, me encontre quinta-feira no bar White Horse sem falta, bye bye.

 Crystal desligou o aparelho sem me ouvir despedir, porém não me importei com esse detalhe insignificante. Estava alegre o suficiente para importar-me com qualquer outra coisa. Permiti-me gritar como uma grande idiota, ao mesmo tempo que dava pulos de felicidade. Em meus vinte e cinco anos, nunca pensei que isso aconteceria algum dia, e caso pudesse voltar no tempo tentando contar-me sobre isso a Ohana Torres do passado, provavelmente gargalharia da minha terrível ''mentira''.

O espetáculo do amor.Where stories live. Discover now