5. Se eu tivesse uma chance

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Eu me sinto tão frustada, triste. Tudo ao meu redor está desabando. Parece que o controle da minha vida está escapando pelos meus dedos. Estou completamente perdida e desolada.

Eu sinto tanto falta do colo da minha mãe. Queria receber o abraço, o colo, um beijo de alguém. Gostaria que alguém me dissesse que vai ficar tudo bem. Que logo logo tudo isso vai passar.

Não importa onde eu olhe só há um lamaçal de problemas. Eu tento sorrir tento mudar o foco e me concentrar em outra coisa, está cada dia mais difícil.

Me sinto sufocando em meio a dor e ao desespero, uma vontade louca de chorar. Aflição, acho que essa palavra define bem meu estado.

Eu queria voltar no tempo e concertar o que eu errei, tudo que eu errei, queria saber o que eu estou fazendo de errado agora, porque eu só posso estar errando!

Parece que tudo, tudo que eu faço dá errado, eu sei que não é bem assim, mas essa sensação de impotência me assola. Eu não tenho como mudar, não existe uma saída pra mim. Não uma que eu esteja vendo.

O peso que carrego é muito mais do que aquilo acho que posso carregar. Mesmo assim tenho certeza que ainda pode ficar pior.

Eu não estou reclamando, estou grata por ter tudo que tenho, principalmente pela minha família. Apesar de pouca a comida não tem faltado e isso... Isso já muito!

Eu queria me livrar dessa dor constante que irradia do meu peito e faz todo meu corpo doer. Eu queria ter coragem de levantar minha cabeça e seguir em frente, queria ter coragem para encarar meus desafios de frente mas, eu só tenho vontade de fugir.

O problema da fuga é que não se pode fugir pra sempre. Não se posso correr para sempre, uma hora vou ter voltar e meus problemas estarão todos aqui, onde eu os deixei, talvez maiores.

Ah, como eu queria um abraço...

Me sinto tão, tão triste!

Eu gostaria, as vezes, de encontrar a morte. Então penso nas pessoas que ficarão, na minha família, ou que resta dela...

Acho que chorar tem sido uma grande arma, uma válvula de escape, alivia a dor do meu peito, mesmo que momentaneamente. Choro escondida todas as noites e isso me deixa cansada, só assim eu consigo dormir.

Enquanto seguro a caneca quente, reflito no que posso fazer. Onde posso economizar mais, o que posso cortar... Não encontro nada, até as roupas que tenho vestido são da Íris. Eu sei que as vezes ela mente me dizendo que não quer mais uma roupa ou outra só para me presentear.

Se não fosse ela nem roupa para o trabalho eu teria...

David entra copa onde estou e não sei em que momento ele tocou meu rosto. É uma carícia tão gostosa, me sinto invisível as vezes, acho que não sou atraente e bonita, a não ser nesses momentos em que ele se volta para me dar atenção.

Seu polegar toca meus lábios, quero muito que ele me beije, que me dê um pouco do que tem a oferecer. Seus olhos brilham. Eu sei que deveria correr, que deveria afasta-lo, não consigo.

_Eu vou te beijar - David avisa e toca seus lábios quentes com os meus. Meu coração para só para voltar a bater como uma escola de samba.

Esse momento me faz sentir viva, me lembra que ainda tenho um coração, ainda sou capaz de sentir.

_Elisa? - Iris me chama.

Por um segundo penso em puxar o homem a minha frente para outro beijo. Uma espécie de fuga. Meu patrão abre caminho para que eu passe e sigo roboticamente em direção a Iris. Quando os olhos da minha amiga cruzam com os meus eu me sinto culpada.

Elisa (Degustação)Where stories live. Discover now