4. Tenho certeza que vai...

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Iris Mac Ran

Três anos antes de Elisa aceitar a proposta de David.

Saio correndo pelo corredor da faculdade, meu pai passou muito mal e minha mãe me ligou avisando que eles estariam no hospital.

Faz quase cinco anos que meu pai não está mais na direção da empresa, meu irmão assumiu o lugar do nosso pai. Ele era muito novo, alguns dos acionistas foram contra, mas meu irmão mostrou que é o melhor, depois que ele assumiu a empresa só tem crescido. Acho que a dedicação do meu irmão tem um pouco de relação ao quanto ele sofreu, foram tantas decepções. Uma delas, que deve ter sido pior, foi de Jorge seu melhor amigo e primo junto com a noiva Tati. Meu irmão pegou os dois na cama. Ele tinha ligado avisando que trabalharia até tarde, mas, acabou saindo mais cedo do que o previsto. Foi para casa sem avisar, querendo fazer uma surpresa para a noiva, ele até comprou rosas! Infelizmente a surpresa foi dele.

O pior é que a vaca, depois de ter sido pega, ainda teve a audácia de dizer ao meu irmão que nunca o amou de verdade, ela estava com ele pelo dinheiro e tudo o que esse dinheiro poderia proporcionar. Piranha!

Hoje meu primo está casado com a baranga. Eles moram em alguma cidade na França. Bem longe.

Cheguei no hospital e só então dei falta da minha carteira. Não me importei muito porque estava com um pai doente, a beira da morte praticamente, meu irmão estava ferido pelo término do noivado. Tudo ia de mal a pior.

Passei a noite no hospital, o dia trabalhando, a noite quando cheguei a faculdade uma moça de longos cabelos pretos e olhos castanhos me parou. Eu estranhei logo. Quase não tinha feito amizade na faculdade, muito mal os que eram da mesma turma, ela com certeza não era da minha turma.

_Acho que essa carteira é sua. - ela diz estendo a mão com minha carteira perdida.

_É sim, obrigada! - sorri tentando ser simpática, provavelmente ela teria ficado com o dinheiro, mas ficaria livre do compromisso de ter que fazer segunda via dos meus documentos.

_Eu não mexi em nada, você pode conferir se quiser. - ela diz parecendo esperar que eu o fizesse.

_Se tiver ficado com o dinheiro não tem problema, pelo menos não vou ter que fazer segunda via dos documentos. - respondo sem paciência para a desculpa mais clichê do mundo "estava assim quando achei".

_Ah não. Eu realmente não tirei nada da sua carteira, falando desse jeito você me ofende. Porque não confere? Acho melhor conferir assim nós duas ficamos de consciência limpa.

Com muita má vontade eu confiro o dinheiro e os documentos, para minha surpresa até o cupom da compra que tinha feito ontem mais cedo ainda estava lá. A moça ainda está parada a minha frente e as aulas já estão começando, tiro duzentos reais da carteira e estendo a moça.

_ Toma obrigada por me devolver.

Ela dá um passo para trás se afastando do dinheiro e busca meus olhos.

_Está tudo aí? - Ela pergunta séria.

_Sim está.

_Então boa noite. - ela diz e se vira indo embora enquanto ainda seguro as duas notas de cem que tirei da carteira.

Garota mal educada!

_Ei o dinheiro! - grito e estendo a mão para ela com o dinheiro.

_Obrigada! Mas era minha obrigação devolver, você não precisa fazer isso. Eu realmente não estava buscando recompensa. - ela se vira e sai.

Confesso ter ficado muito indignada com a atitude dela.

Com o passar dos dias eu passei a notar a estranha caminhando pelos corredores, até mesmo contando algumas moedas para comprar um salgado. Eu notei suas roupas simples e o sorriso pequeno que ela dava as vezes enquanto conversava com alguém.

Elisa (Degustação)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant