Capítulo cinco

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Eu sorri de volta para Meirin como ela passou por mim no corredor, eu levava ataduras e corativos em uma pequena caixa em minhas mãos. Tropecei um pouco quando vi o garoto que escolheu me ignorar por tempos, Harry caminhava pelo pátio, se sentando em baixo de uma árvore. Meu coração acelerou e minhas bochechas começaram a esquentar.

Virei meu rosto um pouco e meu cabelo caiu sobre ele lentamente, corri nervosamente pelos degraus até o outro lado da grama e me abaixei ao lado de um velho senhor que acabou de cair, sua bengala estava o apoiando ao seu lado, e uma expressão de dor corroia seu rosto enrrugado.

"Tudo bem se eu tocar?" olhei para cima, vendo o velho senhor acenar com a cabeça.

Dirigi minhas mãos lentamente até os achucados que sangravam e abri a caixa ao meu lado, retirando de lá alguns panos umedecidos com água e limpei ps ferimentos leves, por fim pegando alguns corativos e amarrando uma faixa em volta de seu joelho danificado.

"Obrigado!" Ele murmurou, levantando e ficando reto com a ajuda de sua bengala.

"Tome um pouco mais de cuidado, a grama se torna lisa quando está molhada." sorri para ele e me levantei, com a caixa novamente em meus braços. Comecei a me afastar e logo eu estava sentada na frende de mais alguém, ajudando com seus machucados.

"Merina!" Olhei para trás, para encontrar a nova infermeira me chamar, ela acompanhava um senhora que se agarrava ao seu braço. "Você está voltando para dentro?"

"Sim," eu murmurei, virando meu corpo completamente em sua direção.

"Você poderia trazer algumas pílulas para dor de cabeça, e talvez, um pouco de chá?" ela questionou parando um pouco nas escadas, esperando a senhora ao seu lado recuperar o fôlego.

"Oh, sim, eu posso." sorri positivamente e comecei a andar novamente.

Soltei a caixa em cima de uma das mesas e caminhei para a cozinha preparando um pouco de chá, a água fervia então eu a derramei dentro de algumas xícaras e coloquei comprimidos a lado de cada uma, indicando a qual xícara cada um pertencia. Peguei a bandeija em minhas mãos e comecei a voltar para o pátio, onde todos estavam aproveitando o sol.

"Aqui," disse silenciosamente para Maria, a enfermeira.

"Oh, sim obrigado, Merina." ela sorriu para mim e começou a caminhar pelo gramado, eu a seguia com a bandeija em minhas mãos, meus pés tentando ficar firmes na grama úmida.

"Alguns dos pacientes não estão muito bens esta manhá," ela divagava enquanto retirava uma xícara e um comprimido da bandeija alcançando para os pacientes.

Minhas mãos começaram a suar como ela se aproximou de Harry, que encarava a grama sem se mover, seus cabelos balançavam com o vento, suas pernas dobradas levemente, ele apiava uma das mãos sobre o joelho esquerdo.

"Aqui, Harry!" Ela chamou por ele. Ele levantou a cabeça para cima, seus olhos completamente circulados com manchas roxas que estavam se tornando mais escuras. "Você está bem?" ela voltou a questioná-lo.

"Sim," ouvi ele sussurrar como retirou a xícara das mãos dela e engoliu rapidamente o comprimido junto com o chá. Seus olhos voltaram para o chão como começamos a nos afastar.

Tropecei em meus pés quando Maria parou na minha frente para alcançar mais um comprimido para um dos doentes, olhei por cima do meu ombro apenas para encontrar Harry com a cabeça abaixada e as mãos sobre a cabeça, ele parecia incomodado com algo.

"Bem, é melhor eu ir para dentro," Maria murmurou levando a bandeija agora vazia das minhas mãos. Ela me alcançou um termômetro pequeno e acenou até o Harry, que continuava com a cabeça abaixada. "Talvez ele não esteja bem."

Balancei a cabeça em compreensão e guardei o termômetro em um dos bolsos do meu casaco branco, caminhando de volta até Harry.

"Você está bem?" perguntei, me sentando ao seu lado, fazendo nossos braços se encostraem.

Observei como ele levantou a cabeça rapidamente do meio de suas pernas e me encarou, se afastando do meu toque. Retirei o termômetro do meu bolso e me ajuelhei em sua frente, vendo ele puxar a gola da camisa para a frente me dando  abertura para colocar o objeto em baixo do braço.

Distraidamente eu fiquei observando a pequena elevação que o objeto fazia sobre sa camisa branca, sem perceber eu segurava em seus joelhos curvados para me equilibrar. Ele soltou uma respiração frustrada e eu rapidamente me afastei. O termômetro apitou levemente e eu o retirei, voltando a minha altura normal, olhando para as pequenas linhas que marcavam que ele não estava com febre.

"Você não parece estar com febre," eu curvei meus lábios para olhá-lo rapidamente.

Ele olhou para longe apenas para mostrar que não se importava.

"Você já pode ir," ele murmurou.

Revirei os olhos e antes de ir deixei escapar lentamente. "Por que você está me ignorando?" questionei.

Ele suprimiu os lábios e voltou a colocar a cabeça sobre as pernas sem me olhar. "Por que você se importa?" 

"Eu não-" tentei responder, mas antes que eu pudesse, ele estava vomitando bem na minha frente, seu corpo caindo encostado contra a árvore. Meus olhos se arregalaram quando ele caiu para o lado, seu rosto totalmente pálido.

Segurei sua cabeça em minhas mãos antes que ela batesse com força no chão, então eu ouvi gritos de Meirin, chamando pelos médicos disponíveis que logo se aproximaram pegando em Harry e o levando para um lugar mais aberto. No meio do gramado Harry estava deitado, os médicos rasgaram sua roupa e colocaram agulhas nos dois braços, enjetando algum líquido. Meus olhos estavam  abertos e eu não acreditava no que estava acontecendo.

Levei minha mão até minha boca e fiquei observando o procedimento em cima do homem pálido, senti minhas pernas cambalearem e eu caí para trás agarrando meus joelhos juntos. Meirin massajeava o peito descoberto de Harry, e em alguns minutos ele abriu os olhos, apenas um pouco e Meirin o levantou um pouco, seu olhar cruzou com o meu e ele lentamente elevou seus lábios em um sorriso.

Por favor, votem nesse capítulo e nos outros. Eu amaria se essa história chegasse aos 100 votos.

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