CAPÍTULO 1

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Joseph relatou a história de como cheguei à família Thompson. Nada do que ouvi tornou tênue a dor entranhada na minha alma, pelo contrário, destroçou ainda mais meu coração. Queria poder fugir para algum lugar onde pudesse ser eu mesma, expor tudo que estava sentindo, mas não podia, pelo simples motivo de que não me lembrava

de quem era e tudo que achei que fosse meu durante esses sete anos, não era. Sentia-me perdida dentro do meu próprio corpo, era como se meu corpo não fosse meu, olhando para minhas roupas sentia nojo — essas roupas não eram minhas —, era pra ela estar usando-as. Essa mansão era o lugar dela, não o meu, essa mulher e esse homem a minha frente, eram pais dela e não meus. Eu era uma farsa, uma bonequinha perfeitamente manipulada, um projeto arquitetado para preencher o vazio no coração de duas pessoas que não se importaram com o meu coração.

Levantei-me do chão repetindo na minha mente que por mais perdida que estivesse não derramaria mais lágrimas naquela casa e não ficaria mais nenhum instante naquele lugar, no meio de tantas mentiras e pessoas falsas. Heloísa gritou perguntando para onde estava

indo, ignorando sua pergunta, cuspi no chão com nojo, antes de sair pela porta do closet. Joseph segurou seus braços, impedindo-a de seguir meus passos.

— Me solta! Ela é minha filha! Não posso deixá-la ir — suplicou aos gritos.

Verifiquei minha bolsa, me certificando se todos os meus documentos estavam organizados, peguei o passaporte, jogando-o com força em direção aos demais. Não levaria nada, apenas a bolsa com meus documentos. Desci as escadas o mais rápido possível, os empregados que encontrei pela casa cumprindo suas funções, estavam com os olhos arregalados em minha direção. Saí sem dizer nada, entrando no carro iniciei o percurso para o aeroporto. O que precisava

nesse momento era distância, de tudo e de todos.

Dirigi em alta velocidade não me importando com multas ou com receio de sofrer um novo acidente — se bem que se isso acontecesse e minha memória voltasse não seria nada mal.

Será que longe dessa mentirada toda, e parando de tomar os malditos remédios, lembrar-me-ia de alguma coisa? Caso recuperasse a memória, qual seria minha reação? Será que gostaria das lembranças ou, ao recordar preferiria que não tivesse ocorrido? Como era minha vida antes de tudo isso? Como seriam meus verdadeiros pais? Será que *me amavam? Será que ainda sentiam minha falta?

 ***


Comprei a passagem rumo a um lugar onde era desconhecida, onde, pelo menos por alguns dias, poderia ficar longe de tudo que me fazia mal; não seria possível fingir o tempo todo, não teria como naquela situação. Precisava pensar com cautela sem a interferência de ninguém que achava que conhecia.

Antes do embarque, recebi várias ligações de Tales, mas não consegui atender. Ele tinha Joseph como pai e saberia a verdade de tudo que estava acontecendo, mas não naquele momento.

Ao voltar para casa, Tales foi uma das primeiras pessoas que encontrei. Segundo ele, vivíamos juntos e erámos mais que amigos, estávamos caminhando a um pedido de namoro, como não me lembrava de nenhuma de suas declarações pedi que me desse um tem po para interiorizar todas aquelas informações. Esse tempo durou um ano, o evitei o máximo que pude, mas chegou uma hora que não tive mais como fugir. Aos olhos dos meus pais, que eram as pessoas em quem eu confiava, o namoro seria promissor, foi então que reatamos, quer dizer, ele pensou ter voltado com Isabella e eu pensava ser ela.

Como olharia no rosto dele e diria que não era Isabella? Sabia que não o amava, aprendi a gostar dele como amigo e nosso relacionamento era saudável, apesar de não haver um sentimento mais profundo, tínhamos empatia, só que de um tempo até então, dentro de mim as coisas já não eram mais as mesmas, ele sempre parecia tão apaixonado e isso era torturante. E a cereja do bolo foi a ser essa revelação de que não era a verdadeira Isabella Thompson.

Ele Nunca EsqueceuWhere stories live. Discover now