Capítulo 10 - Eva

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O trajeto até minha casa foi relativamente rápido e eu ainda tinha algum tempo. Entrei em casa, peguei o papel no meu bolso e decidi qual a primeira coisa que eu faria.

Após o terceiro toque, uma voz feminina atendeu do outro lado da linha.

- Gardner, boa tarde.

- Boa tarde. Eu gostaria de marcar uma consulta com a doutora Eva Gardner, por favor.

- É para você mesma?

E agora?

- Err... sim?

- Que tal amanhã, nesse mesmo horário?

- Seria possível um pouco mais cedo? - Se a consulta fosse a essa hora, havia o risco de eu chegar em casa depois do Carl.

- Claro. Posso anotar esse mesmo telefone como seu contato?

- Não! Quer dizer, não. Anote meu telefone celular, por favor.

Eu tinha a clara sensação de que ela já estava me analisando, enquanto eu dizia a ela meu telefone e combinamos a forma de pagamento.

- Você é Eva Gardner?

- Sim e acredito que serei sua terapeuta. Eu enviarei a confirmação do agendamento e o endereço para você. - Disse com um sorriso na voz.

- Obrigada, doutora.

- Não há de quê. Até amanhã, senhora...?

- Sarah. Sarah Bents.

- Nos vemos amanhã, então, Sarah. Obrigada por ter ligado.

Desliguei o telefone com a impressão de ter dado um passo muito importante a favor da causa de ajudar meu marido. Apesar de eu não ser a paciente, eu precisava esclarecer dúvidas e receber orientações. Preciso saber como lidar direito com essa situação.

Faltava, relativamente, pouco tempo até o Carl chegar em casa. O som de uma nova mensagem entrando no meu celular me tirou do trajeto até o quarto. Peguei o aparelho e vi que havia várias mensagens e duas ligações não atendidas do Carl. Droga. Como pude esquecer o celular no mudo?

"Aconteceu um imprevisto. Terei que antecipar a viagem".

"Que tal jantamos e eu explico melhor?"

"Está tudo bem, Sarah?"

A última mensagem já tem uma hora e a última ligação perdida foi há apenas dez minutos. Melhor eu ligar de volta agora mesmo.


O telefone tocou apenas uma vez.

- Sarah, onde você está? - Havia ansiedade e até mesmo nervosismo em sua voz. Tomara que eu não tenha me metido em encrenca com isso.

- O-Oi, Carl. Acabei de chegar em casa. Onde você está? - Tentei parecer calma e mesmo desanimada, demonstrando que algo não estava certo comigo. E realmente não estava.

- Acabei de chegar na porta da agência. Vim ver o que aconteceu contigo, já que você não me respondeu às mensagens e nem às ligações. - Ele disse, irritado e falando mais alto que o habitual.

E agora? Preciso pensar rápido. Aparentemente a mudança de tom na minha voz não havia sido sequer percebida.

- Eu não me senti bem e acabei esquecendo o telefone no mudo. Me desculpe, querido. Eu estou bem agora e acho que seja uma boa ideia nós jantarmos hoje.

- Você está bem para sairmos? Podemos comer algo em casa mesmo. - Ele disse, após respirar fundo, agora nitidamente mais calmo.

- Meu estômago está ótimo. Acho que precisamos mesmo conversar um pouco, nós dois.

Talvez hoje seja o grande dia de falarmos sobre isso.

- Claro. Estarei aí em quinze minutos.

Eu dez minutos eu estava pronta na sala aguardando o Carl. Apesar de não me sentir totalmente pronta para falar abertamente sobre um assunto tão delicado, eu confesso que também não me sentia confortável em guardar segredos do meu marido. Onde isso tudo pode dar?

Mas como posso começar o assunto? "Carl, querido, você tem transtorno dissociativo de identidade e acho que transei com uma de suas outras personalidades". Ou posso tentar uma abordagem menos direta: "Querido, descobri algo fantástico sobre você!". Mas em quê uma desordem causada por um possível trauma pode ser fantástica?

O ruído do carro do Carl entrando na garagem me sinalizou que meu tempo para pensar em alguma coisa já tinha acabado.

Fui até a porta e a abri antes que ele colocasse a mão na maçaneta. Ele olhou para mim procurando algo em meu rosto. Ele estava realmente preocupado. Eu o abracei, mas não senti ele me corresponder como de costume. Ele, então, me afastou um pouco, fechando a porta atrás de si para segurar meus ombros e me analisar à distância de seu braço.

- O que aconteceu, Sarah? - Ele disse inclinando seu rosto para me olhar mais de perto, com voz baixa e doce. Certamente ele havia trabalhado seu humor no caminho para casa.

E agora, Sarah? O que aconteceu? Pense!

- Eu estou bem agora, Carl. Na verdade, só me senti um pouco deprimida, nada demais.

- Nada demais? Isso é muita coisa. O que te chateou?

Mentira que ele ainda precisa perguntar isso!

Meus Múltiplos (Degustação)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin