Capítulo 23

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Acordei com a luz do sol iluminando meu rosto. Em um segundo os acontecimentos da noite anterior invadiram minha mente de uma só vez, me fazendo saltar da cama e pegar meu celular ainda desligado.

Parecia levar uma eternidade até que o aparelho finalmente ligasse. Instantaneamente, dezenas de notificações de mensagens e ligações perdidas saltaram no meu visor. Com exceção de uma mensagem ou outra divulgando promoções da operadora de telefonia, todas as dezenas de mensagens eram do celular do Carl.

“Sarah, querida, por favor, me diga onde e como você está. Nos perdoe pelo ocorrido. Você está bem?”

Eu não precisava ler uma segunda vez para saber de quem era essa mensagem. Lisa sempre doce e preocupada.

“Já se passou uma hora e ainda não obtivemos resposta. Por favor, querida, desculpe-nos e responda.”

Parece que ela ficou preocupada de verdade. Ela não deveria se sentir culpada pelas coisas que o John faz.

“Sarah. Onde você está? O que aconteceu aqui? Me ligue de volta assim que receber isso.”

Esse era o Carl. O que será que passa na cabeça dele ao ver as mensagens enviadas pela Lisa? Será que ela as apaga? Além dos textos haviam várias mensagens de voz.

“Tia Sarah, não fique brava. Volta pra gente. Eu já briguei com o John e ele vai ser legal contigo”.

Levei minha mão à boca, sem acreditar no que estava acontecendo. O celular tocou antes que eu pudesse ouvir mais uma mensagem. Era do aparelho do Carl, mas quem estaria em outro lado?

— Alô? — Eu atendi com voz miúda, curiosa e ansiosa.

— Sarah? Onde você está? Você está bem? — Era um ansioso e preocupado Carl.

— Sim, estou bem. Não estou machucada.

— Graças a Deus, Sarah. Onde você está?

Eu não me sentia segura ainda para dizer onde eu estava e também não queria aborrecer meu marido sobre algo que não era totalmente culpa sua.

— Estou em um hotel. Estou bem, Carl. Err... Como está seu queixo?

O silêncio foi maior do que eu esperava.

— Dolorido. Como...?

— Foi só um tombo, não foi nada.

— Então por que você fugiu, se não foi nada?

— Achei que o John poderia acordar nervoso e decidi que seria melhor não estar por perto.

— John. Ele tentou machucar você?

— Err... Não. Mas ele me intimida um pouco.

— Aquela marca no seu pulso, foi ele?

— Não, aquela marca aconteceu durante um treino de defesa pessoal, eu já disse.

— Olha só... Onde você está? Eu quero te ver.

— Vamos tomar um café no mercado da cidade. Podemos comer aquela promoção que inclui salada de frutas, o que acha? — O mercado da cidade era um lugar movimentado 24 horas por dia, o ambiente ideal para que eu me sentisse mais segura.

— Tudo bem. Os encontramos no Caffé em meia hora, então. — Ele havia percebido minha atenção e, apesar de não estar satisfeito, sabia que assim era melhor. Era claro que ele também não confiava em si mesmo.

Trinta minutos era a conta do tempo que eu precisaria para chegar no mercado. Eu precisaria pedalar rápido, mas assim era melhor para não dar pistas sobre onde eu estou me escondendo. E eu só posso torcer para que seja o Carl que encontrarei lá.

Assim que cheguei, prendi a minha bicicleta no bicicletário localizado no lado oposto à entrada que dava para o Caffé, um lugar menos óbvio para uma eventual necessidade de sair mais rápido do que eu gostaria. Aparentemente, eu havia chegado antes que o Carl. Então, me posicionei dentro de uma loja de produtos orgânicos no corredor em frente ao nosso local de encontro e fiquei observando por uma brecha entre alguns pacotes, que me permitia olhar através da vidraça.

Não demorou mais que dois minutos para que eu o visse chegar. Apesar de não estar perto o suficiente para ver a cor de seus olhos, eu podia ver a cor arroxeada em seu rosto.

Seu jeito de andar não era tão delicado quanto o de uma mulher e nem agressivo como John andaria. Parecia ser o do Carl. Ele se sentou à uma mesa próxima à entrada e apoiou o rosto em uma das mãos. Ele parecia perturbado. Talvez não estivesse seguro se deveria me ver.
Resolvi me aproximar e tentar acalmar meu marido qie parecia estar mais assustado do que eu.

Poucos passos depois e eu estava diante do Caffé e perto de sua mesa. Assim que me viu, ele deu um salto da cadeira, me olhando de cima embaixo, buscando por alguma marca em meu corpo.

— Sarah! — Ele disse, imóvel.

— Olá, Carl. Como vai você? — Eu disse, sem me aproximar, olhando com atenção a marca em seu rosto.

— Estou bem. — Ele abaixou a cabeça, como se estivesse com vergonha de algo.

— Desculpe pelo seu queixo.

— Não foi a mim que você atingiu.

— Às vezes eu não sei quem estou atingindo com mais força.

— Sarah, me deixe resolvessem sozinho. Será melhor para nós dois. — Ele suplicava.

— Eu não quero que você me deixe Carl. Isso não será o melhor para nenhum de nós. — Agora era eu quem suplicava.

— Olha o que aconteceu com a gente, Sarah! — Ele esticou sua mão até mim, como se a marca estivesse em meu rosto e não no dele.

— Isso foi um acidente. Foi culpa minha. — Eu disse, rapidamente, como se quisesse protege-lo de seus pensamentos.

— Como pode isso? — Havia confusão em seu olhar.

— Talvez o John só quisesse se aproximar e eu me assustei.

— Sarah... Eu não posso proteger você... Eu... — Ele cobriu seu rosto e soluçou.

Com dois passos rápidos eu o tinha em meus braços. Talvez fosse isso que Lisa queria evitar. John disse que Carl precisava sentar à mesa com eles para o jantar. Eles precisavam se entender, precisavam confiar um no outro e para que isso fosse possível, eu precisava confiar também. Eu o abracei e o senti me abraçar de volta com força, como se estivesse se segurando a uma boia salva-vidas.

— Eles não querem nosso mal, meu amor. Acho que só precisamos relaxar e deixar tudo seguir seu curso. — Eu disse em seu ouvido, enquanto acariciava seus cabelos.

— Isso é demais pra mim. Eu tenho medo por nós dois, Sarah. — Ele falava com a cabeça apoiada em meu ombro e eu me esticava ao máximo na ponta dos pés para que meu ombro estivesse perto de seu rosto.

— Eu te ajudo, meu amor.

— E tem essa voz na minha cabeça... e às vezes eu me sinto diferente. — Ele me apertava como se isso fosse de alguma forma ajudá-lo a se sentir melhor.

— Conta pra mim. Por favor... — Me afastei para olhá-lo nos olhos e beijá-lo no rosto.

Ele assentiu com a cabeça e, com um gesto, me pediu para sentar. Assim que sentamos, peguei um guardanapo de papel e sequei seu rosto. Ele colocou sua mão na minha e a beijou, retirando o guardanapo da minha mão e secando-se sozinho. Eu o observei passar o pedaço de papel sobre a barba crescida com cuidado para não deixar pedaços de papel colados no rosto. Dava para ver o sofrimento em seus olhos, na sua pele. Parte desse sofrimento era por minha causa, pois eu não estava fazendo tudo que eu podia para dar-lhe paz.

===♡ continua ♡===

Meus Múltiplos (Degustação)Where stories live. Discover now