Prólogo / Iraque, Amtullah

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Não seria fácil convencer meus pais a deixarem eu fazer um intercâmbio, principalmente meu pai. Não é tão simples chegar em alguém como ele e dizer "Será que daria para você deixar eu passar seis meses num país com cultura, religião e costumes totalmente diferentes de tudo no país em que vivo desde que nasci?". Mas eu estava decidida, pois não custaria nada tentar; afinal, não é todo dia que uma pessoa tem uma oportunidade dessas. Além disso, sempre sonhara em conhecer o Brasil. Aprender português foi bem mais difícil do que pensei. Não podia deixar essa chance escapar tão facilmente. Eu precisava pelo menos tentar convencê-los.

Tinha até sexta-feira para conseguir a assinatura deles, dando a permissão necessária para o intercâmbio. Decidi que tocaria no assunto naquele mesmo dia — antes que o medo me convencesse do contrário.

Hora do jantar, momento em que meu pai fazia questão de ter a família reunida — o que eu acho legal. Seria o momento perfeito para falar com todos de uma só vez.

— Pai, mãe — todos na mesa olharam para mim — preciso falar com vocês sobre uma coisa.

O certo é que o nervosismo aparecera evidente em meu rosto. Evitei até tocar nos talheres; caso contrário, poderiam notar que minhas mãos estavam tremendo.

— Sobre o que é, Amtullah? — indagou minha mãe, com sua atenção focada em mim.

— É algo muito importante! — comecei, um pouco hesitante — Eu fiz uma prova na escola...

— Que prova? — Zain, meu irmão mais novo, perguntou com evidente curiosidade.

— Intercâmbio — meus pais ficaram meio atônitos, então eu continuei — para o Brasil, claro. Sei que devia ter falado com vocês antes de fazer o exame, mas, se tivesse falado, é provável que não me deixassem realizar sequer o teste. — Tentei argumentar.

— Se sabe que não deixaríamos que fizesse a prova, porque espera que vamos permitir essa sua ideia absurda de ir sozinha para outro país? — falou, como se fosse óbvio.

— Hassan! — Minha mãe reclamou, parecendo irritar-se subitamente.

Ela concordava com meu pai, contudo, não falaria comigo desse jeito, por isso quis repreendê-lo. Ela evita magoar os sentimentos das pessoas. É uma mulher muito doce. Uma pena que possuísse a mesma opinião do meu pai em relação ao intercâmbio.

— Tudo bem, mãe. Eu já imaginava que essa fosse a reação de vocês.

Eu sabia que deveria, no mínimo, ter insistido um pouco mais no assunto, mas eu não tinha peito pra essa conversa. Não ia desistir ainda, no entanto sentia que se esperasse um pouco mais, começaria a chorar; e não seria capaz de  apresentar bons argumentos em meio a soluços. Qualquer pessoa pode pensar: "quanto exagero da parte dela!", porém, quem já desejou tanto uma coisa que a ideia de não alcançá-la parecia a morte da felicidade? Esse era o meu caso!

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Espero que tenham gostado dessa introdução da história e que continuem com a leitura! <3 Deixem a estrelinha que me ajuda muito. <3

Laços Divergentes (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now