Capítulo 1

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Ninguém foi até meu quarto ver como eu estava. Eles me conheciam o suficiente para saberem que assim é melhor.

Acabei ficando com sede, o que me obrigou a sair do meu refúgio. Para minha sorte, todos da casa já estavam em seus quartos. Quando passei em frente ao dos meus pais, acabei ouvindo sem querer o que parecia ser o meu nome. Tomada pela curiosidade, não pude evitar parar em frente à porta e ouvir um pouco da conversa.

— Você não devia ser tão rude com sua filha.

— E você não devia criticar o que eu falo na frente dos meus filhos. O que eles vão pensar?

— Peço desculpa, mas você sabe que não agiu corretamente.

— E o que você quer que eu faça? — A voz do meu pai já possuía um tom de irritabilidade.

— Seria bom se você prestasse mais atenção no que seus filhos falam e demonstrasse de vez em quando que se importa com os sentimentos deles.

— E eu me importo, só não posso admitir que cheguem até mim falando loucuras.

— Não é loucura! — minha mãe já havia perdido a paciência — É o sonho dela. Você sabe disso.

— Nesse caso, ela pode escolher outro sonho para realizar. — Disse meu pai, secamente.

— Não dá pra conversar com você! — minha mãe ficou em silêncio por um instante, depois continuou — Só me faz um favor. Tenta ser mais compreensível e menos agressivo se ela tocar no assunto novamente.

Meu pai falou tão baixo que quase não ouvi quando ele respondeu com um: ‘‘Tudo bem’’. Não sei se a conversa já havia acabado, mas eu já tinha invadido a privacidade deles o suficiente. Além disso, também corria o risco de ser pega. Voltei para o quarto um pouco triste pela discussão dos meus pais. Pelo menos, minha mãe estava tentando me defender. Parecia até que, no fundo, ela não via um problema tão grande em eu ir para o Brasil. Tomei isso como esperança e pude dormir um pouco mais calma.

— Você foi a única selecionada

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— Você foi a única selecionada. É uma pena que não possa ir. Tem certeza de que eles não mudarão de ideia?

Aisha era minha melhor amiga fazia oito anos. Sempre muito confiável e pronta a ajudar quando precisava de algo. Às vezes, fingíamos que ser irmãs. De certa forma, isso havia virado quase uma verdade para nós duas. Assim como eu, ela tem cabelos pretos, embora os dela sejam um pouco mais curtos, e temos a mesma altura também.

— Não conta para ninguém, mas ontem eu ouvi uma parte da conversa dos meus pais e pareceu que minha mãe não acha essa ideia tão louca. Mas não faz diferença, sei que eles não aceitarão isso.

— Tenta falar com eles novamente. Pode ser que ouçam o que você tem a dizer. Você só tem três dias. O prazo acaba nessa sexta. Não dá pra ficar adiando.

Laços Divergentes (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora