Capítulo 2

454 92 325
                                    

Enfim, chegara o grande dia. Apesar da enorme ansiedade com que me encontrava, acabei levando mais tempo para fazer as malas do que julgo necessário.

Faltavam menos de duas horas para o meu embarque. Estava em meu quarto, conferindo se não havia esquecido alguma coisa, quando minha mãe entrou pela porta, que estava aberta.

— Aisha está aqui. Veio se despedir — ela disse.

— Ah, você pode dizer que ela venha até aqui?

— Claro — ela deu um pequeno sorriso antes de sair para chamar minha amiga.

Aisha veio até mim com seus braços abertos oferecendo o abraço de que tanto precisávamos.

— Não acredito que vou passar tanto tempo sem você, amiga. Serei uma daquelas garotas que não falam com ninguém — ela disse sorrindo, mas com uma expressão um pouco triste.

— Vai passar mais rápido do que você imagina. — Aisha me olhou como se não acreditasse em minhas palavras — Estou falando sério. E você não vai ser uma dessas garotas isoladas. Nós temos outras amigas.

Rimos do que eu disse. A verdade é que não tínhamos outras amigas. Podia parecer egoísmo de nossa parte, mas nós duas podíamos conversar sobre o que quiséssemos, ficávamos juntas durante os intervalos na escola, nossas famílias se davam bem, íamos para a casa uma da outra, sempre que possível. Não era como se precisássemos de mais alguém.

— Enxergue isso como uma oportunidade de fazer novas amizades — eu disse verdadeiramente — Sem perceber, criamos um grupo que não comporta mais que duas pessoas.

— Duas pessoas não são o suficiente para formarem um grupo.

— É disso que estou falando. Às vezes, a vida nos obriga a precisar de grupos — ela fez uma expressão meio confusa, mas entendeu o que eu quis dizer.

Nosso tempo havia acabado. Dei um último abraço em minha melhor amiga, depois peguei minhas coisas e segui com minha família até o aeroporto.

Sou um ano mais velha que Zayn, embora todos me tratassem como se fosse o contrário

Oops! Această imagine nu respectă Ghidul de Conținut. Pentru a continua publicarea, te rugăm să înlături imaginea sau să încarci o altă imagine.

Sou um ano mais velha que Zayn, embora todos me tratassem como se fosse o contrário. Nunca me importei tanto com isso. Ele sempre foi um ótimo irmão, e, como temos quase a mesma idade, sempre tive alguém com quem brincar. Já não éramos mais tão próximos como quando crianças, no entanto nos amávamos da mesma forma.

— Seis meses como filho único. Sempre quis saber a sensação — havia dias em que meu irmão parecia reservar um momento para suas brincadeiras provocativas. Esse é um deles.

— Será coincidência? Eu sempre quis saber como é não ter um irmão mais novo me incomodando todos os dias — eu disse, entrando na onda dele.

— Brincadeiras à parte... — ele ficou um pouco mais sério antes de continuar — Sei que não passamos muito tempo juntos, mas vou realmente sentir sua falta.

— Também sentirei a sua.
Nesse momento, vi minha mãe e meu pai caminharem até o local onde eu e Zayn estávamos.

— Amtullah... — meu pai parecia ter dificuldade em encontrar as palavras certas — Eu não queria ter que falar sobre o dia em que discutimos... No entanto, preciso deixar claro que não a proíbo de estudar e buscar conhecimento, pois sabemos que a busca da sabedoria é essencial para uma melhor convivência na sociedade, para criação dos filhos e principalmente para oferecermos a Allah o mais próximo da perfeita adoração que conseguirmos — ele pareceu pensar um pouco e continuou a falar — o que eu quis dizer naquele dia é que não vejo esses benefícios em sua viajem para o Brasil.

— Tudo bem, pai. Entendo perfeitamente o que você quer dizer. Acontece que eu quero muito ir. Espero que não fique com raiva de mim por estar fazendo isso.

— Não estou. Tenho que aceitar que chegou a hora de você tomar algumas decisões por si mesma.
F
oi bom saber que, mesmo não concordando, ele não estava completamente irritado com isso. Podemos não ter a melhor relação "pai e filha", mas a última coisa que queria era partir achando que meu pai me odiaria por isso.

Já podia ver as lágrimas prestes a rolarem pelo rosto de minha mãe. Esse foi, de longe, um dos momentos mais difíceis de minha partida.

— Não quero saber de você dando trabalho para as pessoas — enquanto dava suas intimações, ela arrumava algo em meu hijab (que já estava arrumado). — Você estará longe de casa. Não esqueça tudo que o lhe ensinamos. Seja a boa menina que sei que você é.

— Eu serei a melhor filha de mentirinha que aquela família vai ter — falei, tentando soar engraçada.

Em meio a um abraço coletivo, pude notar a sensação estranha que vinha sentindo desde o começo daquele dia. Um frio na barriga.

Saudade, medo, insegurança... Tudo parecia se misturar dentro de mim. Talvez  porque nunca passara tanto tempo longe de meus familiares. Porém, em um completo contraste com isso, também sentia uma felicidade exorbitante, e era esse sentimento que me fazia ter certeza de que estava fazendo a coisa certa.

Laços Divergentes (DEGUSTAÇÃO)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum