Capítulo 37

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Enquanto Jimin tentava suportar ou superar a perda de uma amizade e da pessoa por quem era apaixonado, Jungkook tentava caminhar em direção a seu hotel sem deixar as pessoas desconhecidas saberem que dentro dele, eclodia uma guerra árdua do tipo bruta, longa e arrebatadora, a vítima era ele mesmo e sua dor era expressa através das gotas líquidas que expulsavam uma pequena quantidade de água, saia minerais, proteínas e gorduras, só não tirava de seu corpo o que realmente queria tirar, um pouco da tristeza. Isso não sumia nem por um segundo, assim como a saudade, assim como as lembranças com ele, e as lembranças de que estava ali por causa de yugyeom vítima de mais uma noite entre adolescentes inconsequentes. As consequências caíram todas de uma vez em cima dos garotos

Depois dos encontros com a polícia terem terminado, Jungkook não viu mais aqueles que chamara de amigos uma vez, yugyeom também não sabia de muita coisa sobre os outros, como poderia?

Jungkook havia chegado em seu hotel, deixado suas malas no quarto e logo saiu novamente, agora a caminho das lembranças e da culpa que ele se esforçava pra superar. Nunca superaria o que fez a seu melhor amigo, sabia disso, mas não era melhor tentar?

Em menos de dez minutos conseguiu um táxi. Ele estava em sua cidade natal, poderia se hospedar na casa dos seus pais e ir com eles até o hospital mas sabia que se fosse atrás de sua família não seria recebido como filho. Ele não era mais da família. Não depois da promessa que havia feito e depois quebrado. "Não deixe ele sozinho nem sequer um minuto" "você deve proteger seu irmão, lembre-se disso" "prometa"

🅙🅤🅝🅖🅚🅞🅞🅚 🅞🅝

"Meu irmão". Quando yugyeom era criança foi abandonado por seus pais. Eles deixaram o bebê na porta da casa dos meus pais. Eu era pequeno, tinha quatro anos, ao menos entendi o que estava se passando. A confusão nos olhos dos dois, um clima pesado em uma noite cheia de estrelas, geralmente quando a noite estava daquele jeito minha mãe me chamava pra observar os "brilhos voadores" como eu dizia. Mas naquela noite, não

Depois de semanas procurando pelos responsáveis do bebê, nem sucesso nenhum, meus pais adotaram yugyeom felizes por sua chegada oficial. Eu não estava diferente, vivia paparicando o bebê em seu berço, claro que eu precisava de um banco pra alcançar e dos meus pais me vigiando

Enquanto crescíamos, eu via os momentos importantes de sua vida, participava deles. Ele fazia o mesmo comigo. Seu primeiro dia de aula, eu estava lá com a minha mãe para abraçá-lo. Sua primeira viagem de avião, eu sentei ao seu lado pra segurar sua mão, ele estava com tanto medo. Sua primeira vez na praia, eu fui com ele molhar os pés na água para ele se sentir seguro. Quando foi a uma loja de conveniência sozinho comprar temperos pra minha mãe, ela me fez segui-lo em segredo. Seu primeiro beijo, ele pediu pra que eu ficasse escondido atrás da arquibancada pra que ele não se sentisse inseguro

Mas um dia em mais uma dessas primeiras vezes que eu testemunharia, foi também a última vez. A última primeira vez. Eu promet protegê-lo e quebrei a promessa
Eu deixei ele beber, os nossos amigos também beberam e eu bebi. Sem limites, apenas deixei-nos divertir. Durou muito pouco, foi pouco tempo de diversão. Ele merecia mais, merecia uma vida inteira de diversão mas quando voltávamos pra casa com todos no carro cantando alto e badernando como fizemos a noite toda, o carro estava a setenta por hora e eu queria mais

Oitenta por hora, mais. Noventa pro hora, não era o suficiente. 100 por hora, ainda não, mais. E então 180 por hora. A adrenalina era meu alimento, não me deixava passar fome, alguém me disse pra diminuir mas minha comida também me deixava surdo, eu só queira mais. Ela também me deixou cego e impaciente, eu vi um caminhão a minha frente numa pista de mão dupla. Ele estava tão devagar, não queria esperar então ultrapassei. Usei a contra mão pra poder deixar a adrenalina continuar me alimentando mas tudo acabou num milésimo de segundo. O carro era vermelho e vinha na velocidade permitida pela via. A última coisa que eu pude ver foi yugyeom

"Droga, Yug, abra os olhos"
"Desculpe, hyung. Eu tinha visto o carro. Devia ter avisado, foi culpa minha"
"Acorda yugyeom, eu estou mandando. Acorda..."

Eram lembranças como essas que eu queira evitar, metade de mim queria esquecer e a outra metade queria sempre lembrar. Sempre lembrar da minha culpa, lembrar que ele estava daquele jeito por minha causa. Me castigar por isso

Eu lembro, também, que foi nessa época que conheci Any. Foi no hospital, ela estava visitando seu pai. Ela estava triste e com medo, eu estava triste e com medo. Ela se aproximou de mim, conversamos por um tempo. Todas as vezes que eu ia visitar yugyeom ela estava lá também. Conversávamos o dia todo, compartilhando nossas inseguranças, era uma boa amiga. Um tempo depois ela confessou ser apaixonada por mim enquanto eu gostava dela. Gostava de conversar com ela, queria ela por perto. Eu tinha noção de que não sentia a mesma coisa. Mas talvez fosse o certo

Tudo até nosso casamento foi assim, parecia ser o certo. Nosso namoro, eu não a amava mas parecia ser o certo. Nosso casamento, eu não a amava, mas parecia ser o certo

Não voltei a visitar yugyeom depois de tempo da minha mudança. Eu tive vontade de uma vida completamente nova e Any me apoio dizendo que era o melhor a se fazer e tudo se estabeleceu. Nada mais saiu dos trilhos, tudo era como deveria ser. Eu fiz minha faculdade, me formei, me casei, comecei a trabalhar. Sem lembranças ruins o tempo todo, apenas a noite. Eu não conseguia dormir porque aquela cena vivia se repetindo na minha cabeça durante a noite. Mas tirando isso, tudo perfeito

Até ele aparecer. Eu me apaixonei de verdade dessa vez. Ao contrário da situação com Any, com Jimin não parecia certo mas eu queria tanto que fosse. Eu não acho que tenha sido a melhor ideia dizer pra ele que precisava ir embora pois precisava de um tempo. Eu não precisava de um tempo, precisava dele ali comigo. Mas como eu contaria toda a história sem conquistar o desgosto dele

Jimin. Eu só precisava de um abraço sei agora. Se ele estivesse nesse hospital comigo diria pra eu tomar vergonha na cara e entrar no quarto de yugyeom. Diria que era o que eu precisava fazer, mas que se seu não quisesse poderíamos tomar sorvete de creme  na cantina e voltar depois. Eu diria "não", eu entraria no quarto porque, com ele, eu consigo fazer coisas que nunca faria sem

Mas eu precisava. Eu tenha que vê-lo, eu tenha que ter todas as lembranças me atingindo de uma vez só. Então, lembrei de como era o toque de sua mão na minha. Lembrei de seu cheiro doce, de sua voz macia, me lembrei de como era senti-lo por perto e tomai coragem. Entrei no quarto e o vi ali. Frágil mas com um sorriso ao me ver. Eu não consegui sorrir. Mas senti uma gota trasbordar de um de meus olhos

— hyung...você veio me ver

Hey prof... hey baby...Where stories live. Discover now