Muitas Mudanças

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     Estava terminando de fechar uma das cinco caixas com todos os meus livros e pertences, sem contar as três malas de roupas e calçados, quando meu pai apareceu no vão da porta do meu quarto e disse:

     _ Acho bom terminar de arrumar logo essa tralha toda Maurício Filho, porque o Calixto já chegou e ele ficou de fazer esse favor pra mim.

     _ Não tenho culpa se o combinado era ele vir amanhã, e não hoje. Sorte que eu já tô terminando de fechar. Essa é a última caixa, pai.

     Eu pensei que ele já tinha saído da porta do quarto... Só que não...

     _ Como juntou tanta coisa em tão pouco tempo?

     _ Acredito que do mesmo jeito que a gente vai acumulando experiências e histórias vida afora. Tempo, seu Maurício. Com certeza com o tempo.

     _ Não esquece que o nosso voo saí amanhã às 08h20 da manhã, e que teremos que estar no Aeroporto...

     _ Com duas horas de antecedência. Já sei, pai. Agora se eu tiver que lhe dar atenção, eu vou demorar a dar os nós nessa última caixa.

     Ele fez um ar de riso, coisa bem rara de ver no rosto do Agente federal Mauricio Pires de Andrade, e saiu. Eu levei todas as minhas " tralhas " lá pra baixo, e encontrei o amigo dele, Calixto sentado numa das bancadas da cozinha com um copo de café na mão.

     _ Ora se não é o jovem Mau-Mau. Como você tá filho? Ele sempre me chamava assim desde que eu dera uma surra no seu filho, assim que chegamos em providência há mais de dez anos atrás.

     Eu apenas sorri e levantei a mão num cumprimento rápido, e após pegar um copo pra beber água falei:

     _ Vou bem, tio. As minhas coisas já estão lá na sala. Se o senhor me der as chaves do seu carro, eu coloco tudo no bagageiro. Ele jogou as chaves, e voltou a falar com meu pai que pra variar nem olhou na minha direção.

     Nunca tive uma relação legal com meu pai. O cara parecia ter ódio de mim, porque muitos dos que conheceram minha mãe diziam que eu era muito parecido com ela. E passei a acreditar que ele realmente não gostava de mim, quando passou a não se importar comigo, ou com o que acontecia comigo ao longo dos anos. Ter comida na geladeira, ter um teto sobre a cabeça, e ter tudo o que o dinheiro podia me dar, era sua maneira de dizer que me amava e que se importava comigo. Me acostumei ao seu jeito e assim como ele, deixei de me importar.

     Terminei de guardar toda a minha bagagem, e meia hora depois de tomar um bom banho e vestir a roupa que havia separado saí de casa para encontrar os amigos. Haveria uma festa de despedida, na casa de uma das minhas melhores amigas, Meg, que insistiu em organizar o que ela chamou de " bota fora ", e nós dois passaríamos nossa última noite em Providência, na casa do Tio Calixto e sua família.

     De vez em quando, durante a festa, eu lembrava de algo legal que havia acontecido, e de como eu sentiria falta de tudo isso. Se no começo eu fiquei louco com essa provável mudança que meu pai insistiu em fazer, depois comecei a ver que talvez fosse algo realmente bom. Tava lá perdido em pensamentos, quando Bruno, o filho do Tio Calixto me puxou e saiu me arrastando pra lateral da casa da Meg...

     _ Tá doido, porra? O que tu...

     Senti minha boca ser coberta pela dele, e meu corpo ser puxado de encontro ao seu. Eu fiquei tão sem ação, que minha vontade inicial era lhe dar uma porrada no meio da cara, só que... Lentamente fui abrindo a boca, e ele deslizou a língua por cima da minha. Caralho que tesão... Eu me senti como se tivesse acabado de decolar numa missão da Nasa, e que voltar não era uma opção.

     Bruno era possessivo, dominador e ao mesmo tempo suave e carinhoso. Seus braços me prenderam de tal forma, que acabei me sentindo seguro... Sensação essa que poucas vezes senti na vida. Ele separou de mim, e disse quase que num fio de voz...

     _ Me deixa chupar tua língua, Mau-mau. 

     E voltei a ter os lábios coberto pelos dele. Onde esse garoto havia aprendido a beijar tão bem? Foi essa a pergunta que me fiz antes de voltar a viajar pelo universo. Só que nossa, ou minha viagem, infelizmente teve que ser encurtada porque ele ouviu passos e rapidamente separou de mim. Nossa excitação estava lá desenhada em nossas jeans, nossa respiração era super parecida com a dos corredores dos 100 m rasos, sem falar na cara de assustado quando Meg disse:

     _ O que vocês estão fazendo aqui, meus lindinhos? E sua cara de inocente desconfiada se mostrou em toda sua malícia.

     Eu juro que fiquei sem ação. Eu ainda tava aterrizando, quando a voz do Bruno disse:

     _ Você conta, ou eu conto? E olhou pra mim com a maior cara de determinado. Eu pensei na hora... " Fodeu ". Fo deu porque todos vão saber que eu sou Gay, que eu beijei o Bruno e que a Meg vai fazer questão de espalhar pra todo mundo. Aí eu disse:

     _ Conta você. Você que começou tudo isso.

     _ O Mau-Mau tava me dizendo que sempre foi louco por você, e que precisava fazer uma coisa antes dele ir embora.

     A cara de inocente desconfiada mudou para alegre e interessada. Eu quis rir e dar uma porrada no bruno assim que ele terminou de falar. Aí a nossa querida Meg disse:

     _ Louco por mim? Como assim, louco por mim, Mau-Mau? E que coisa é essa que ele, quer dizer, você precisa fazer? Meg se aproximou e ficou na expectativa. Como eu nada disse,  até mesmo porque ainda estava digerindo a recente informação olhei pro meu ficante, quer dizer, amigo e ele emendou: 

     _ Ele disse que queria te beijar antes de ir embora de Providência.

     O desgraçado falou isso, e simplesmente saiu pelo pequeno beco e sumiu de nossas vistas. Meg não tinha mais iris, pois as mesmas pareciam chamas acesas e quando dei por mim, ela já estava há pouco menos de cinco centímetros de mim, e disse com a voz meio trêmula...

     _ Sabia que esperei por isso desde o dia que te conheci?

     E o melhor... Ela não me deixou falar nada, e me beijou.

     Foi estranho.

     Não a correspondi com a mesma vontade e  desejo de minutos atrás, quando Bruno praticamente me impôs nossa vontade. Foi um verdadeiro alivio quando ela se afastou meio que ofegante e disse:

     _ Que pena que amanhã você vai embora né Mau-mau? Será que um dia desses qualquer a gente ainda vai se encontrar?

     Só voltei a pensar nessa frase, já dentro do avião. Meu pai estava sentado na poltrona vizinha e parecia dormir. Olhei pela pequena janela e vi pela última vez a Cidade que ao me acolher aos 06, 07 anos de idade quando mudamos pra cá, me viu crescer e me tornar um cara centrado e apesar de determinado, um sonhador. Ela também moldou o pequeno garoto num adolescente bem mais esperto que a maioria dos amigos, e me fez finalmente entender quem eu era, e que quando o momento chegasse, eu procuraria um outro bom garoto pra viver uma puta história.

     E isso aconteceria mais cedo que eu mesmo pudesse imaginar. 


Meu Novo Eu  -  Romance gayTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang