CAP XXXIII - Puta merda.

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Estava sendo difícil pegar no sono. Sempre que eu fechava o olho e começava a relaxar Zabdiel começava a gemer de dor ou os flashes de algumas horas atrás vinham em minha mente. Perdi as contas de quantas vezes abri os olhos e fiquei encarando o teto do meu quarto. O ambiente totalmente escuro em que eu, mesmo estando de olhos abertos, não via nada. O único barulho era a respiração pesada de Zabdiel ao meu lado.

Queria dormir abraçada nele, mas sabia que ele estava sentindo dor. Cheguei a cogitar acorda-lo para ele tomar os analgésicos, mas aparentemente depois de um tempo ele parou de gemer. Talvez tenha dormido profundamente. Viro de costas para ele — que estava dormindo de barriga para cima — e tentei fechar os olhos de novo. Sinto meu corpo afundar no colchão e por alguns minutos percebo que minha mente está vazia de pensamentos.

Só por alguns minutos.

A porta do meu quarto estava aberta, então pude ouvir perfeitamente o som do elevador se abrindo. Não abri os olhos pensando que logo o barulho acabaria.

Erro meu.

Segundos depois ouvi duas batidas na porta. Ainda com os olhos fechados, respirei fundo algumas vezes até me levantar. Fiz o mínimo de barulho para não acordar Zabdiel. Saí do quarto e encostei a porta em silêncio. Caminhei até a sala e o relógio marcava quatro e meia da manhã. A única pessoa que poderia estar ali era Emma, que provavelmente tinha brigado com Joel e esquecido sua chave em algum lugar. Nem me dei ao trabalho de olhar pelo olho mágico. Destranquei e girei a maçaneta, abrindo a porta.

Mas não era Emma.

— Christopher?

O garoto estava se apoiando no batente da porta com as duas mãos. Sua cara estava péssima, mas conhecia bem o que isso significava. É aquele estágio em que você bebeu a noite toda e o álcool está começando a sair do seu corpo.

Meu cabelo deveria estar uma bagunça, meu pijama provavelmente estava torto e eu não estava com uma cara nada boa, mas eu estava mais interessada em saber o que diabos Christopher fazia ali.

Abri a porta por completo dando espaço para ele entrar. Levei a mão na boca e fiz sinal de silêncio. Ele repetiu o que eu tinha feito. Rolei os olhos e ele entrou, indo direto se esparramar no sofá. Tirou seus sapatos como as crianças fazem, batendo um pé no outro. Depois, tirou os óculos amarelos e colocou em cima da mesa de centro. Nunca vou entender porque ele insiste em usar óculos escuro a noite. Chris olhou para mim e tentou fazer uma cara meiga, que não deu certo porque seu cabelo bagunçado e seus olhos vermelhos denunciavam o que ele tinha feito a noite toda.

Fui até a cozinha, abri a geladeira e peguei a última garrafa de água. Se mais algum bêbado aparecesse na minha casa não teria o privilégio de beber água gelada. Voltei para a sala e Chris estava na mesma posição. Entreguei a garrafa para ele, que a levou imediatamente até sua boca, só parando quando o liquido acabou. Me sentei ao seu lado e esperei até ele começar a me explicar.

— Eu estava em uma festa. — Disse alguns minutos depois.

— Percebe-se.

Chris encostou seu pescoço no encosto do sofá e fechou os olhos.

— E eu bebi bastante. — Continuou.

— Percebe-se — Repeti. Levei uma mão a boca para não rir quando Christopher rolou os olhos.

— E eu perdi o cartão magnético para abrir o quarto do hotel.

Eu ia responder, mas ele foi mais rápido.

— Não vale dizer percebe-se de novo. — Bufou. De repente, pareceu se lembrar do amigo — O Zabdiel está dormindo? — Ia responder, mas ele me interrompeu de novo — É óbvio que está dormindo. É do Zabdiel que estamos falando.

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