Lucca XXI

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  15.7 K  ❤️ Obrigada a todas vocês mesmo!

Por Lucca;

Não me reconheço nesse uniforme laranja, não que eu tenha perdido o meu porte de padrinho, no entanto eu aprecio os meus ternos de grifes italianas e inglesas, são mais a minha cara. Termino de fazer a barba, passo álcool em um pequeno corte da gilete. Hoje é o grande dia do meu julgamento, graças aos santos não irei depor com esse uniforme carcerário. Retiro do plástico o meu blazer preto da Dolce & Gabbana, esse é novo, não recordo dele no meu closet.

— Ciao caro mio. — falo em voz alta apreciando a alta costura. — Senti falta.

O guarda apareceu na grade, ele tenta disfarçar o seu olhar admirado, agora não represento mais um simples presidiário e sim um homem que exala imponência.

— Está na hora padrinho. — grandes homens da história foram conhecidos por suas habilidades e também pelo que vestia, quando penso em Napoleão lembro dele com suas insígnias de honra, Vítor Emanuel III, o grande pai da pátria italiana e o seu uniforme ou Winston Churchill e a sua cartola, são peças que constroem o caráter de um homem. O meu está fincado nos ternos ajustados de alta grife.

Dou um mínimo sorriso de lado. — Pode ficar encrencado com o judiciário romano por falar essas coisas.

— Quem tem boca e juízo vaia Roma. Ao seu dispor.

O meu advogado é o Pietro, o avistei no fim do corredor aguardando por mim. Passo por algumas celas e observo a reação de alguns, foi um período complicado estar convivendo com homens que eu mesmo mandei para cá. Quando cheguei aqui tive que ficar afastado e segundo o terceiro juiz romano, eu deveria ficar isolado pelo tempo da minha estadia aqui, havia alguns boatos sobre alguma rebelião e tentativa de assassinato, alguns padrinhos pagariam caro pela minha morte, no entanto fiz questão de não me isolar, isso demonstraria fraqueza e um padrinho não pode descer a este nível.

Convivi com eles, seja na hora da recreação ou no refeitório, sempre mostrando que não tinha medo e agindo com frieza.

— Preparado?

— Sì. Está com os papéis? — pergunto a Pietro.

— Não tinha como esquecer.

Dois policiais estão fazendo a nossa escolta até a saída do presídio. O fórum de Roma fica aproximadamente uns seis km daqui, não demoramos a chegar lá. Bom, eu pensei que não iríamos demorar, tinha esquecido como era caótico o trânsito da cidade eterna. Não troco muitas palavras com Pietro, ele está concentrado na minha defesa.

Depois de um considerável atraso, chegamos ao fórum romano, não o antigo de séculos atrás, um dos novos. Entramos por trás, já que o caso de um julgamento de um chefe mafioso atrai muita atenção, a imprensa está do outro lado.

— Sabe o que dizer, certo? — Pietro me pergunta, ele está um pouco ansioso.

— Apenas a verdade. — digo e o policial me acompanha até uma ante-sala onde irá ocorrer o julgamento. Aguardo nela até ser dado o sinal para eu entrar. O policial ao meu lado come um pedaço de pizza, me oferece, mas eu rejeito. A porta do lado esquerdo é aberta e outro guarda dá o sinal para eu entrar, o policial esfomeado joga o pedaço de pizza de mussarela na lixeira e pede para que eu me levante.

Entro na sala principal de julgamento, o primeiro que avisto é Pietro bem caracterizado com sua capa preta de bacharel de direito. Desvio o olhar para a parte destinada a platéia, não há muito público, mas uma pessoa me chama a atenção, Antonella está ao lado de Paola em um dos bancos. Acredito que a minha face séria esvaiu-se no momento, tantos meses sem vê-la, talvez eu tenha tido a mesma reação de quando eu a vi pela primeira vez, Madonna! Que mulher bela! Não existe paisagem mais bela do que o rosto dela. Meus olhos descem até a sua barriga, mas não consigo notar volume. Sílabo com os lábios um discreto “cara mia” e ela dá um comedido acenar de mão.

Divã (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora