Prólogo

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Ja faziam umas duas semanas desde que o belo templo grego de Hades havia sido destruído pela santa inquisição. 19 das 20 sacerdotisas haviam morrido na fogueira. A mais nova delas recebera um sentença pouco menos cruel, fora amarrada à um tronco em uma praça em Roma. Naquela noite uma tempestade praguejava contra a cidade como se Zeus estivesse se vingando dos homens. Um raio em especial caiu no tronco no qual a menina havia sido amarrada. A madeira partiu-se ao meio soltando a corda que prendia a garota. Ela correu. Correu até o porto onde implorou a um mercador que saía com um barco para que ele a deixasse onde quer que ele estivesse indo. Ele cobraria um preço ao fim da viagem e ela aceitou sem muita escolha. Foram 6 horas de barco até Veneza e quando chegaram ela pagou o preço. O homem tocou-a de modo bruto e horrível mas era menos cruel do que morrer pelas chamas. Ela conseguiu voltar a caminhar após algumas horas. Seu ventre doía. Percorreu toda Veneza batendo de porta em porta suplicando por ajuda. Foi xingada por muitos, molhada por baldes de água e ferida pelos mais furiosos. Já tinha anoitecido quando foi surrada por um servo de um senhor dono de uma das belas mansões daquele lado. Ficou lá, caída na calçada.

Armand olhava a cidade das grandes janelas do palazzo. Viu uma menina que parecia com seu Mestre, ela estava encolhida na calçada, machucada. O som do choro dela era insuportável.
Marius entrou no quarto, olhou para onde Armand olhava e viu a garota:
-Mestre, você ja a viu por aqui?
-Não Amadeo, não vi tal menina antes.
-Quem é ela?
-Olhe a mente dela Amadeo, preste atenção
Preciosos segundos se passaram até o ruivo murmurar:
-uma sacerdotisa de Hades... Chama-se Perséfone.
O Loiro sorriu. Os dois filhos da noite caminharam até onde a pequena se encontrava. A pele branca estava queimada demais pelo sol mas os cabelos loiros quase brancos demonstravam suas origens e apesar de ter traços gregos algo nela era semelhante aos seus ancestrais de Kiev.
-Perséfone.- o ruivo sussurrou e a menina levantou os olhos. Ela tinha um belo par de olhos tão azuis quanto os de Marius.- Vai ficar tudo bem.
O Ruivo estendeu a mão para ajuda-la a se levantar. Ela disse que não precisava, que não queria sujar as vestes dele. Marius interveio pegando-a em seus braços. Não era muito como se ela quisesse sair. Levaram-na ao Palazzo onde todos os meninos dormiam como anjos nos braços de Morfeu. Deitaram-na na bela cama do quarto de Marius. Onde deixaram que ela dormisse.
A menina acordou somente dois dias depois. Era noite e Marius e Armand estavam sentados em pontos diferentes do grande quarto. Marius escrevia e Armand apenas olhava a pequena. Ela se levantou da cama, tocando o chão frio com a ponta dos pés. Armand fez um sinal para que ela se aproximasse e ela obedeceu. Ele a abraçou. Todo o corpo dela doía mas ela não se mexeu, apenas afundou o rosto na capa aveludada que ele vestia e deixou-o erguê-la e colocá-la em seu colo. Lágrimas desesperadas caiam dos olhos dela de modo que ela não era capaz de controlar. O ruivo secou o delicado rosto queimado da menina. Ficaram algum tempo assim. Os dois Banharam-na com cuidado, observando cicatrizes que recobriam o pequeno corpo feminino.
Ela passou três noites no Palazzo, em todas elas acendia velas e passava horas conversando com uma misteriosa sombra. Na última noite Armand foi capaz de ouvir a voz da sombra. A criatura acariciava o rosto magro e delicado dela e lhe cantava canções tão antigas quanto o tempo. Foi quando os filhos da noite propriamente ditos invadiram o grande lar de Armand e Marius. Levaram todos, posteriormente queimando-os um a um. Os lamentos dos pobres mortais era medonho. Armand chorava vendo-os arder nas chamas da fogueira. Mas Perséfone permanecia calma, mas ajoelhada no chão pedregoso e frio. Ela sussurrava em tom inaudível mesmo aos imortais palavra em uma língua antiga demais para serem transcritas.
Quando jogaram a única menina na fogueira ela não gritou, não chorou. O fogo foi tomando um aspecto negro azulado. Era possível ver uma sombra mais alta dentro das chamas, a sombra abraçava a menina que permanecia de pé.
Em poucos minutos o fogo se apagou. As vestes simples que cobriam-lhe o corpo haviam sido destruídas pelas chamas. A lua ficou vermelha. Ela caminhou na direção de Armand que ainda chorava depois de ter gritado ininterruptamente com seus captores. Perséfone tocou o rosto frio do imortal, secando-lhe as lágrimas vermelhas. Beijo-o. Quando ele foi puxado para longe ela soltou um grunhido baixo junto à uma única lágrima:
-Eu volto, não chore mais pelas pobres almas inocentes perdidas nesta noite. Tenha pena desses assassinos e, Amadeo, não se torne um deles.
Como se fosse uma fênix a menina entrou em chamas desaparecendo em uma fumaça densa e preta.

Perséfone de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora