Perséfone de Hades

3

Eu estava junto ao Armand na sala da casa. Sentados no belo tapete persa. Marius entrou pela porta batendo-a ao entrar. Estava claramente aborrecido. Olhei para Armand. Ele me puxou para mais perto de si. Marius não parecia nada feliz e eu sabia exatamente o motivo, sabia também que Armand sabia. E sabia que era minha culpa. Levantei do tapete, desvencilhando-me dos braços de Armand que tentava me deter. Bati na porta do quarto de Marius. Sem resposta.
- Marius... por favor abra... sabe que eu não vou arrebentar a sua porta com a droga de um machado. Sabe que não vou gritar com você. Só... abra a porta para eu saber que o Senhor não me odeia... por favor...- Para a minha surpresa ele abriu a porta. Sua imagem era como a de um Deus, um deus triste, um Deus esquecido.
- Vai dormir Perséfone, ou volte para os braços do meu filho. Mas não gaste seu tempo pedindo pelo perdão que já sabe que tem.
-Apenas me diga o que eu fiz que o aborreceu. Foi o beijo que dei em seu filho? Foi o vampiro que eu assassinei? Imploro que me diga.
- Ah, criança, você não me aborrece, foi o que me disseram a seu respeito que me aborreceu.
- e o que foi que lhe disseram pelo amor de Deus?!
- Que você queimou aquele vampiro com chamas negras. Que você teve um filho de sombras e que o escondeu em algum lugar. As pessoas falam do amor que você sustenta pelo meu filho e... eu apenas sinto o mesmo e sei que ele vê muito de mim em você, todos vêm. Me questionaram se você era sangue do meu sangue por ser tão parecida. Mas eu não sei. Resguardo-me em minha ignorância quanto à sua natureza apenas por desconhecê-la. E eu imploro a Deus que você não seja sangue do meu sangue, pois o amor que eu tenho por meu Amadeo é como o que tenho por você. Piedoso foi o tempo em conservar-lhe sua imagem infantil mas o que me aborrece principalmente é ser incapaz de entender como isso foi possível.
- Naquela noite, quando me atiraram na fogueira, Hades me protegeu. Ele me deu seu beijo e os poderes que o acompanham. Ele disse que eu deveria acompanhá-lo ao submundo até que fosse forte o bastante para vingar-me daqueles vampiros. Eu fui cuidada e treinada como teria sido no templo. Já era o fim do século 19 quando ele permitiu que eu fosse embora e sua última ordem foi que eu passasse a responder somente ao Seu filho e a você, Marius de Romanus. Eu matei aquele vampiro com as chamas infernais que ele me deu e depois eu perdi essas chamas, que vieram ao mundo na forma de um filho demoníaco o qual eu não fui capaz de cuidar. Então eu o abandonei em um mosteiro onde sei que ele é bem cuidado. Eu quis voltar para perto do Senhor e de Armand como me foi mandado mas encontrei Louis e Claudia na Inglaterra e segui eles até Paris, Eu vi o teatro de Armand, eu vi ele matar aquela criança. Eu vi isso tudo e por isso eu fugi. Fiquei em Nova Orleans por alguns anos. Depois vim a nova york. Assiste aos shows de Lestat e quando Akasha retornou eu fugi outra vez. Dessa vez eu fugi por medo que o conselho me visse. Fiquei então em um quarto de hotel em Paris até ouvir Benji na rádio. Eu falei com ele por telefone e contei que conhecia o Senhor e seu filho e ele me chamou. Disse que eu seria bem vinda e que não teria problema. Mas... eu juro, eu juro por tudo o que há de sagrado, juro pelo sangue infernal que corre em minhas veias, eu não quis em momento algum dar problema pra vocês. Se eu tiver que morrer peço que Amadeo me mate ou que o Senhor o faça. E como estou finalmente aqui cumprindo o que me foi ordenado, eu responderei a vocês e apenas a vocês.- ajoelhei me no chão de madeira, abaixando a cabeça.
-Perséfone... Criança... levante desse chão frio, não aja dessa forma tão humana. Não seja tão submissa. - ele me levantou gentilmente- você não vai morrer, criança. Não precisa ter medo. Já acabou seu tormento, deixe-o de lado e fique aqui. Viva em nossa casa, ensine Sibelli a lutar com as pesadas espadas bárbaras que você domina tão bem. Seja feliz, não haverá mais inquisição à aprisiona-la.