O sangue

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   Naquela noite, Perséfone tinha saído cedo de casa, nos últimos meses ela tinha se isolado e tudo o que fazia era escrever em um caderno velho. Minha curiosidade como sempre era insuportável demais para não descobrir o que estava escrito lá. Por isso entrei no quarto no qual ela dormira, por isso peguei seu caderno, sentei-me em sua cama. Passei a noite lendo, sem perceber sequer que ela não tinha voltado.
    Foi na noite seguinte que senti sua falta. Marius já não estava quando acordei, tinha ido procurá-la. Decidi fazer o mesmo, pedi que Benji e Sibelli não saíssem da casa, que não abrissem a porta. Andei por toda a Nova york mas nada. Foi quando me lembrei do templo, quem sabe ela não estivesse lá. Nunca havia viajado com tamanha velocidade. Nunca tinha me preocupado tanto desde aquela noite tantos anos atrás.
    Demorei poucos minutos até chegar ao templo. Tinha sangue por todo o lugar. O piso de pedra em ruínas tinha o cheiro dela. Marius estava sentado no antigo altar. Mas ele segurava um corpo. O corpo... dela... me aproximei devagar, tentava conter qualquer lágrima que tentasse sair. O pescoço dela estava cortado, tinha um punhal em seu coração. Marius também chorava. Quem faria aquilo pelo amor de Deus? Na entrada do templo uma figura parada, estática. Cabelos negros, a pele muito branca, os olhos verdes. Louis:
   -Droga Louis! O que foi que você fez?- Lestat entrou no templo, olhou para o corpo de Perséfone nos braços de Marius. Agarrou Louis pelo colarinho.
  -Ela matou o Paul! Ela que conversava com ele!
  -Louis... Paul se jogou daquela escada porque você o negou!- Retruquei, estava furioso. Deveria ter deixado que ele morresse no lugar daquela criança.
   Ouvi um grunhido baixo atrás de mim. Virei-me. Ela segurava o pulso de Marius contra a própria boca. Talvez isso que me tenha dado forças para fazer o que eu fiz. Agarrando Louis pelo braço eu o levei para o lado de fora. Queria mata-lo, mas precisava entender como ele soube das conversas de Paul e Perséfone. Perguntei a ele. Louis disse que encontrou com ela em nova orleans perto do túmulo de Paul. Disse que quando ela o viu ela disse que sentia muito e que nesse momento ele soube exatamente o que tinha acontecido, não que ele tivesse visto na mente dela, ele não era capaz disso. Disse que tinha seguido ela até o templo e que quando ela acendia uma vela cortou-lhe o pescoço. Ela teria se virado e tentado falar, devia estar tentando entender aquilo. Disse que foi então que colocou o punhal em seu coração. Ele estava lá a uma noite, quando anoiteceu teria se refugiado nos túmulos das sacerdotisas e que saiu apenas quando ouviu Marius chegar. Eu tinha um isqueiro em minha mão, queria mata-lo. Queria que ele sofresse ao menos. Eu teria de fato o feito se não tivesse sido interrompido:
    -Amadeo...- Perséfone apoiou a mão sobre meu ombro.- Tudo bem... Eu o entendo... Teria feito o mesmo.- Ela tinha o rosto num tom acinzentado e que começava a rachar e desfazer-se em cinzas.- Não se torne um deles Amadeo...
   Ela se foi, junto com o vento ela se foi.
  

Perséfone de HadesWhere stories live. Discover now