Apenas Ódio

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Concordei mais uma vez, já com minha mochila nas costas e a unica mala que faltava em mãos.

Mostrando ao homem de terno, que eu havia entendido suas instruções.

Na verdade tinha entendido na primeira vez, não precisava ter repetido.

" Acredite, eu mis que ninguém  entendo minha posição atua."

Não poderia chamar atenção, muito menos contar a alguém, o verdadeiro, motivo de ter me mudado no meio do ano.

"aliás quem me levaria a sério?"

De qualquer forma não pretendia fazer amigos, tinha muito o que pensar e fazer.

Me despedindo do moço, que nos acompanhou por todo o caminho.

Me virei pronto para entrar em casa.

Já estava a dois passos de distançia do carro, quando o homem ( Que achei, que já tinha ido embora),  chamou minha atenção.

ㅡ Lembre-se: seja discreto e obediente, faça seu pai sentir orgulho de onde quer que ele esteja.

" Precisava mesmo falar desse jeito?
Odeio o fato de agirem como se tivessem certeza que ele morreu.
Desaparecido não é morto, Droga!"

Mesmo com desgosto, acenei com a cabeça, e segui levando as coisas para dentro de casa.

A casa em si não era ruim, muito menos a cidade, eu até gostava.

Mas ainda assim, preferia mil vezes minha casa antiga.
Eu cresci lá, tudo que tinha, minhas memórias, são todas naquela casa.
Me sinto estranho tendo de ir embora pra outro lugar como um fugitivo.

Mas, é claro que não vou comentar sobre isso, com a minha mãe, sei que agindo assim, vou apenas piorar a situação.

Ficar reclamando como um adolescente, que não faz nada além de choramingar, é tudo que não precisamos agora.

Mesmo ela sendo a mulher mais forte que conheço, ficar semanas sem notícias de seu marido, tendo que cuidar de mim, deve ser tão ruim quanto o que estou sentindo.

Faria o possível pra não ser um incômodo, mas não sei se devia acreditar, quando ela diz que estamos seguros agora.

Uma vontade intensa se mantinha presa em meu peito.

Me sentia injustiçado e com raiva.

Odiava tudo que tinha acontecido!
Odiava não poder fazer nada!
Não conseguir ignorar o que sentia e achar uma solução, me fazia queimar de ódio.

Mas, mesmo com tanta furia em meu coração, no momento, só podia engolir o choro e manter meu objetivo.

ㅡ  Essa é a última, vou  ir pro meu quarto. Qualquer coisa me chama ,okay?!

Avisei passando pela cozinha.
Ela estava terminando de guardar alguns utensílios.

ㅡ Ok! Descanse um pouco, a viagem foi longa mesmo... Logo vou me deitar também.

Respondeu, limpando as mãos em um pano de prato, chegou mais perto me dando um beijo na testa.

Retribuo beijando sua bochecha, forçando um sorriso, para acalmar sua expressão preocupad.

Vendo que funcionou, segui meu caminho até a segunda porta do corredor, onde tinham o restante das minhas coisas, poderia até estar cansado, mas com o suor grudando em meu corpo, achei melhor tomar um banho primeiro.

Praticamente esgotado, caminhei até o banheiro que ficava no final do corredor, levando minha toalha e produtos higiênicos.
Aproveitei o barulho da água para abafar meus pensamentos, esses que pareciam gritar vinte e quatro horas por dia .

Pelo menos naquele momento deixei a dor de lado .

Depois de demorar no banho, voltei ao quarto me aconchegando na cama, sobre várias cobertas.

Tirei o notebook da mochila, está que estava pendurada, ao lado, na cabeceira da cama.

Ligando e acessando a pasta de fotos, novamente.

Eu precisava pensar em uma maneira de ajudar, qualquer coisa, só não podia ficar sem fazer nada.

Quando, meu pai podia estar, passando por todo tipo de coisa naquele exato momento.

Horas se passaram, eu ainda sem conseguir pensar em algo útil.

Apenas encarando aquela bendita foto, que começava a me dar dor de cabeça.

Suspirei, saindo do app entrando em outro.

Um Diário digital.

Havia sido uma sugestão da minha antiga psicóloga.

No início achei uma coisa infantil e estúpida, porém comecei a gostar disso, descobri que me expressar em palavras, me ajudava a dormir.

"Pensei em muitas coisas durante os últimos dias, em como eu me tornei dependente dos outros.

Dependente da opinião de pessoas que nem conheço.

Agora, mal consigo me reconhecer.

Perdi tempo demais usando uma máscara de indiferente, pra não deixar estranhos se aproximarem, tanto que agora, vou precisar enfrentar isso tudo sozinho.

Sei que não adianta ficar me lamentando, mesmo que eu queira, não vou poder mudar o que se tornou um abito, ainda mais agora que vou ter de omitir grande parte da minha vida. estou cansado...minha cabeça dói e tenho receio de dizer um *a* pra minha mãe e ela começar a chorar e se culpar de novo... à tantos *por quês* rodando na minha cabeça que me questiono quando vou conseguir respostas.

11:36 pm
14/09/20"

Sonhando Com PássarosOnde histórias criam vida. Descubra agora