Capítulo 41 - No CDP

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Hassan Abdul

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Hassan Abdul

Depois de passar duas noites na detenção do DECAP — de segunda para terça, e de terça para quarta — fui transferido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pacaembu.

No caminho, o policial me perguntou sarcasticamente se eu estava ansioso para conhecer o meu futuro lar. Afinal, eu moraria no CDP pelos próximos meses, até o término da ação penal. Não soube nem o que lhe responder.

É claro que sonho em ser solto o quanto antes, mas a possibilidade da delação premiada está ainda mais distante, depois da ameaça do PCC.

Assim que desci do camburão pude notar que o local é um novíssimo complexo prisional. Se não me engano, foi inaugurado este ano, há poucos meses.

Algemado, fui escoltado até a administração para dar entrada na unidade, preenchendo uma extensa ficha com meus dados.

Neste momento, pediram que eu completasse as linhas do "rol de visitantes", indicando quem estaria autorizado a me ver aos domingos, o dia de visitas.

Só preenchi uma única linha, com o nome do meu irmão Halim. Meus funcionários remanescentes — Nagib, Mohammed e Jihad — não podem vir, por serem foragidos.

Já Sara imagino que não pretenda vir, depois da carta que lhe enviei. E, caso queira me ver ainda assim, sou eu que não quero.

Jamais a submeteria à constrangedora revista de segurança, com apalpadas íntimas, scanners corporais e todo o resto.

Além disso, estou certo de que o melhor, para ela, é me esquecer de uma vez. Por mais que isso me destrua, o bem dela está em primeiro lugar.

Depois de terminados os papéis, recebi uma numeração, 117.449, meu "número de matrícula". Fui fotografado, retirei meu uniforme e cobertor e, por fim, fui levado para o setor de celas especiais.

Notei que a cela é semelhante à do DECAP. Projetada para uma pessoa, com cama, escrivaninha, banheiro particular. Simples, porém funcional.

Depois do banho, vesti o uniforme deprimente. Camiseta branca, calça cáqui de sarja e chinelos.

Me sentei na cama, desanimado, amortecido, ainda sem acreditar nesta situação de merda.

Poucos dias atrás, estava dormindo com Sara em meus braços.

A lembrança veio com tanta força que pareceu que foi ontem. Ao mesmo tempo, a saudade me atingiu com tanta intensidade que deu a impressão de que já se passaram anos. A porra de um paradoxo.

Com Sara me senti realizado, inteiro, pela primeira vez na vida. Sua falta me dói tanto que o incômodo chega a ser físico. E, com o vazio me apertando o peito, me deitei para dormir neste meu novo "lar".

***

Hoje, quinta-feira, acordo com o carcereiro avisando sobre a chegada do meu advogado.

Em Lados Opostos da Lei [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora