Em Lados Opostos da Lei [COMPLETO]

Capítulo 42 - Na praça

Sara Levy

— Hassan. Eu não vou me afastar. Eu não vou desistir de você. Eu amo você.

Digo estas palavras e Hassan parece levar um choque. Ele estremece, arregala os olhos e entreabre os lábios.

— Não... Você não pode... Você não pode me amar! Eu não quero isso. — ele balbucia, pálido, afastando a mão do meu toque. Seu olhar, que estava em mim, vacila.

Definitivamente não era essa a reação que eu esperava.

Vim até aqui para confronta-lo sobre a carta, estava me remoendo querendo saber a verdade, e também precisava vê-lo, saber se estava inteiro e bem.

Eu não via Hassan desde segunda-feira, quando Pedro o colocou naquela viatura em frente ao prédio da Polícia Federal. E hoje já é quinta-feira.

Me arrisquei para estar aqui, dando "carteirada" com a desculpa de que o GAECO precisava deste interrogatório.

Ou seja, menti para o administrador do CDP, Dr. Paulo Guedes, um senhor simpático de cabelos brancos. E me doeu fazê-lo. Detesto mentiras.

Agora estou nesta sala fria, de frente para Hassan, suando frio, nervosa. Abri meu coração e, inocentemente, pensei que ele ficaria feliz, pelo menos um pouquinho.

— Por que não quer? Há menos de uma semana, na casa de Cotia, você disse que queria ficar comigo, formar uma família... — insisto, confusa, apesar da pontada de humilhação que começa a incomodar.

— Foi no calor do momento. Eu não deveria ter dito aquilo. — ele retomou o olhar indiferente, em um ponto na parede atrás de mim. Não vejo mais a abertura de momentos atrás. Droga.

— Hassan. Olha para mim. Me fala o que mudou. Me ajude a entender... — odeio que minha voz soe tão vulnerável.

— Tudo mudou, cacete! Eu fui preso, porra! E não quero ter mais preocupações do que já tenho. Não quero ter que me preocupar com mulher lá fora, sofrendo porque estou aqui dentro. Acabou, Sara. Eu não quero mais nada com você. Entendeu agora ou ainda tem alguma dúvida?! — ele está irritado, com os olhos faiscando.

Meu Deus. Ele quer me destruir. Hassan me vê como um estorvo, e ele já carrega o mundo nas costas.

Não queria ser mais um peso para ele. Pelo contrário, eu gostaria que ele aceitasse a minha ajuda. Se dividido por dois o peso fica mais leve.

Ele não precisaria sofrer sozinho, poderia aceitar minha mão estendida e, juntos, superaríamos esta turbulência.

Não falam que "o amor supera tudo"? Sou inexperiente neste campo, mas é o que sempre ouvi dizer!