~ Capítulo 1 ~

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Capítulo 1

Deus continuava abençoando a sua família, foi o que Jamile pensou naquele dia quando acordara e olhou o céu despontando no horizonte. Foi realizar suas orações diárias e agradeceu mais uma vez a Deus por permitir que sua vida estivesse dando certo, apesar das dificuldades do dia a dia.

Amin ficara de pedir sua mão em casamento naquele dia. Pelo menos era o que tinham combinado. Não queria continuar o encontrando sob o olhar dos pais sem poder trocar mais do que meia dúzia de palavras com o jovem Amin. Acreditava que ele seria o homem da vida dela e não via a hora de poder constituir uma família, longe do controle dos pais, sem precisar auxiliar os pais na feira. Queria noivar, casar, como uma jovem normal.

Jamile tinha noção da sua beleza. Sabia que era uma das meninas mais belas do vilarejo, mas não se preocupava com isso. Se pudesse trocar a beleza por felicidade, ela faria sem problemas. Só queria uma vida mediana regrada de amor e paz. Trocaria tudo por isso.

Quando acompanhou os pais na feira naquele dia, estava em paz com seu coração. Aceitava o destino ao lado de Amin de bom grado. Se concentrou na tarefa de cortar os legumes. Seus pais normalmente ficavam responsáveis por fazer alguns quitutes na feira que eram vendidos com grande aceitação, não somente porque quem os servia era a bela Jamile, mas principalmente porque a comida era deliciosa, o tempero maravilhoso e não havia barraca melhor do que a da família Fath em toda a feira. Havia outras barracas ali, é claro. E todas compartilhavam do extremo carinho pelo cão Daul que cercava sempre a região nos horários das feiras.

Todos tinham noção de a quem aquele cão pertencia, mas Daul parecia sempre tão pidão por comida e as vezes até atrapalhava alguns clientes choramingando e ganindo de tristeza que, no fim, ganhar algum quitute das barracas ali presentes acabou se tornando rotina entre os vendedores de comida que acabavam dando um pedaço do que faziam para o velho cão que passava em quase todas as barracas apenas para conseguir alguma outra coisa.

Daul já era um cão idoso, mas muito amado entre os feirantes. Era um cão completamente diferente dos Al Bir, era o que todos comentavam. E não era para menos, a família Al Bir parecia muito estranha. Quando saíam de casa, o que era raro, sempre traziam a carranca mal humorada e a grosseria de quem sabia que era a família mais rica da região. As pessoas os respeitavam por medo. Sabiam que os Al Bir eram capaz de qualquer coisa, mas só sabiam, porque no fim tudo eram relatos e lenda que eram as coisas mais compartilhadas naquela aldeia e também mais aclamada pela população que a levavam como verdadeira sempre. Só naquele dia eles descobriram que aquela lenda sobre os Al Bir eram realmente verdadeiras. Eles eram mais do que capazes de fazerem atrocidades, eles cumpriam. Jamile aprendeu da pior maneira.

― Oi Daul, seu lindo, oh, mais que fofo... ― E dito isso, Jamile coçou as orelhas do pastor alemão que era incrivelmente doce quando recebia carinho. Jamile sorriu enquanto decidia dar um pouco da sua comida para o cachorro. Estava o achando particularmente menos brincalhão e mais cabisbaixo naquele dia, ainda que Jamile não soubesse dizer por que. Ainda assim, cometeu o erro de dar comida para o cachorro. E cometeu o erro de que Daul morresse um pouco tempo depois de comer uma das sobras que ela dera, ainda que ninguém pensasse ter sido culpa dela. No entanto, o azar maior foi de que um dos empregados do Al Bir tivesse avisado o estimado dono e foi naquele dia que a pacata cidade viu pela primeira vez um dos impiedosos Al Bir sendo impiedosos na frente de toda a multidão. (Eles costumavam fazer isso às escondidas).

― Quem causou isso ao meu cão? ― Rosnou um homem que parecia tão severo quanto os lábios fechados numa carranca. Não era um homem feio. Os cabelos negros e despenteados, uma túnica branca no corpo, a barba levemente áspera e por fazer. Tinha um porte forte e másculo e a tez levemente morena. As sobrancelhas eram grossas e na direita tinha uma falha que dava ao homem, junto da sua altura avantajada, um receio medonho a todos os presentes.

A bela JamileOnde histórias criam vida. Descubra agora