~ Capítulo 7 ~

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Capítulo 7

Uma festa.

Depois de alguns meses de casada diante do que parecia ser um casamento tranquilo, contrariando todas as ideias da jovem de que sofreria o pão que o diabo amassou naquele casamento, Jamile se via aos poucos compreendendo a personalidade não somente do marido, mas de toda a família Al Bir.

O homem tinha suas manias, como toda a família. Principalmente, de serem os mais esnobes da região não fazendo nenhum esforço para mudar a relação com o povo. Ou esse engolia a família, ou era repreendida de diversas maneiras. Jamile não gostava dessa relação que eles insistiam em ter com o povo. Acreditava fielmente que seria muito mais fácil para os Al Bir governarem aquela região se eles tentassem demonstrar um certo respeito e fizessem alguma coisa pelo povo. Mesmo que mínima. Isso já seria suficiente para mantê-los no poder.

Claro que também eles não iam perder o poder. O ancião da família era bom em manter a paz e era muito respeitado por conta de suas sábias decisões no passado, quando, por vezes, terroristas do Iêmen tentaram tomar a região. Além disso, não era como se os outros clãs fortes dali também fizessem algo pelo povo. Não. Todos eles agiam da mesmíssima maneira, de forma que, para o povo, pouco importava quem estivesse no poder naquela região. Tudo farinha do mesmo saco.

Era certo, no entanto, que o poder estava sendo passado para o príncipe e isso sim não trazia muita confiança. Era um homem jovem, então pouco importava quem ele apoiasse para manter o poder na região. De qualquer forma, a família real tinha o apoio dos Al Bir e por conseguinte recebiam o apoio dos reis para se manterem ali no poder.

― Isa, hoje você não precisa acompanhar Jamile. Fique em casa. É uma reunião muito íntima. ― A mulher concordou e eles partiram.

Tanto o senhor quanto a senhora Al Bir estavam indo, junto de Khaled e Jamile. Depois do casamento da jovem, era a primeira vez que ela apareceria em público novamente. Não que se importasse. Recebia a visita dos pais sempre que possível, não era como se tivesse realmente anseio de ficar saindo de casa toda hora. O que mais a assustava, na verdade, era o fato de que não somente seria a primeira festa dela depois do seu casamento, mas a primeira festa em que veria Amin depois de tanto tempo.

Os empregados tinham falado que ele tinha voltado há algum tempo acompanhado de uma mulher que era bonita, mas que se mostrava demais. Jamile só entendera o que eles diziam com isso agora que observava a jovem ao lado dele.

Aparentava ser mais velha que Amin, os olhos eram de um brilho verde como o dela, mas ela era loira, com cabelos cacheados e usava um vestido bonito, mas provocativo demais para uma festa com tantos homens casados. Jamile se sentiu incomodada com a forma como a mulher era encarada por todos os homens e tratou de olhar para Khaled que pela graça de Deus tinha olhado rápido a mulher e voltado a atenção para Jamile enlaçando o seu braço no dela de forma carinhosa.

Jamile quase suspirou de alívio.

No entanto, a intenção de Khaled logo se fez presente. Ele se aproximou do mais jovem casal com a esposa ao lado para cumprimentá-los e de uma forma mesquinha e egoísta, mostrar Jamile como o troféu que ele conseguira e Amin não. 

― Esta é minha noiva, Becca. ― Disse Amin e seus olhos sorriam muito enquanto mostrava Becca, mas ele logo voltou os olhos para Jamile. Ainda que achasse sua noiva linda, e era, as belezas das duas eram muito diferentes. Becca era bela de uma forma provocativa. Jamile, por sua vez, era uma beleza pura, como uma pedra preciosa que não precisa de muitos enfeites para se mostrar.

Becca usava um vestido vermelho justo ao corpo, com o colo de fora e os grandes seios saltando para fora. Também usava muita maquiagem – mas Jamile também usava – e sorria bastante quando os cumprimentou:

― Sou Becca. ―  Disse num árabe arrastado. Amin fez questão de explicar.

―  Ela não nasceu aqui, mas os pais dela são árabes. Becca veio dos Estados Unidos. ― Khaled concordou.

― De qualquer forma, que vocês sejam felizes e que esse casamento seja promissor. São nossos votos, não é mesmo, minha esposa? ―  Perguntou Khaled provocativo. Jamile sorriu amarelo e respondeu entre dentes: 

―  É claro. ― Quando se afastaram o suficiente do casal, ela puxou o braço dela com força do braço de Khaled que arregalou os olhos e olhou para os lados para ver se ninguém tinha visto isso. Era uma atitude que muito desmoralizaria a família dele se outros o vissem e por isso ele bradou:

― O que há com você? 

― O que há comigo? ― Jamile quase riu acidamente, mas controlou-se sabe se lá porque ― Você me tratando como se fosse um troféu!

― E se for? Qual o problema? ―  Ralhou Khaled mal-humorado. O que Jamile não sabia era que no fundo Khaled tinha medo de que alguma chama de sentimento por Amin ainda corresse solta dentro de Jamile e ela deixasse de amá-lo ou o traísse, o que era inconcebível.

― O problema é que não há necessidade de nada disso! Eu não sou uma mercadoria!

― Você foi trocada por Daul, Jamile, ainda acredita que não é uma mercadoria? 

Jamile arregalou os olhos. Aparentemente, todos os momentos de felicidade genuína que tinha com Khaled quando estavam na residência Al Bir caía completamente por terra quando eles saíam.

― Você é um marido horrível, Khaled. ―  Jamile conseguiu reunir coragem de dizer antes de se afastar. 

Seus olhos estavam úmidos, a vontade de chorar era tangente, mas ela não queria fazer isso com tantos telespectadores, por isso foi de encontro ao jardim da residência onde acontecia a festa. Estava tão absorta nos seus pensamentos que demorou a perceber que Amin a seguia enquanto ela ia em direção a uma área que continha um caminho com pés de tamareira plantados. Adentrou a região seguindo para longe da casa. Queria paz enquanto chorasse.

As lágrimas já começaram a cair abundante enquanto ela andava. A sensação era de que tinha entregado seu coração muito cedo para Khaled e ela era uma burra por isso. Se não fosse por isso, agora não estaria se sentindo tão ferida. Ainda que fosse verdade, Khaled não precisava a lembrar disso constantemente, como se nunca deixasse a ferida cicatrizar cutucando-a indefinidamente. 

As lágrimas continuaram fortes. Seu hijab dessa vez de cor roxo quase lilás que contrastava de forma linda com o hijab vinho bem escuro voavam com o vento. Aparentemente, a temperatura cairia ainda mais.

― Acho que a gente precisava se encontrar a sós mesmo. Preciso conversar com você, habib. ―  E embora quem a chamasse assim costumasse ser Khaled, Jamile se virou assustada ao constatar que não era Khaled que estava ao seu lado, mas Amin.

E por isso mesmo, temeu.

***

Então, gente! Me desculpem a demora, é que minha vida nos últimos dias está bem corrida e não está me sobrando muito tempo para escrever...

Estamos nos aproximando do final, pelo menos! Acredito que mais 4 ou 5 capítulos e acabamos! No entanto, antes disso preciso ser abençoada com tempo para vir aqui escrever o finalzinho! Porque depois desse capítulo eu só tenho mais um escrito (então eu realmente preciso desse tempo para no máximo 1 semana hahaha..).

É isso, gente. Mil desculpas a demora! Espero que estejam gostando mesmo assim! ❤️

Bjinhoos
Diana

A bela JamileWhere stories live. Discover now